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Ocupados

Vão desculpando a falta de textos, é que ultimamente andamos muito ocupados por aqui, brincando no parque e ajudando a espalhar a praga das florzinhas amarelas. Um homem não pode falhar com seus compromissos, todas as flores brancas devem ter o direito de espalhar suas hastes e virar uma autêntica flor amarela - Não restará pólen sobre pólen.

E não, aquilo não é um precoce bigode branco ou uma mini-máscara de carnaval de Veneza, mas sim uma haste da florzinha capturada por uma câmera sem 3 dimensões.
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No supermercado

Outro dia falei de como volta e meia a gente tromba com alugma comida que parece com alguma outra comida que teoricamente não existia aqui. Faz falta achar suco de maracujá e requeijão assim, ao alcance das mãos, mas eventualmente a gente acha umas coisas parecidas pra matar a saudade e outras tantas diferentes, pra dar a volta ao mundo em 80 comidas. É como um supermercado "Extra", por exemplo, tivesse produtos diferentes dependendo do bairro onde está. Essa semana estava voltando de uma reunião em um bairro com muitos judeus e resolvi passar no supermercado pra dar uma espiada e achei um queijo branco de Israel que tem tudo pra ser queijo minas, só falta o "uai". Além disso achei um monte de produtos Kosher como um hamburguer de grão de bico que parecem deliciosos.


Outra coisa de supermercados e lojas em geral é que aqui hora de fechar é hora de fechar. Não tem essa de "quem está dentro fica". Quando deu o horário a luz apaga, o povo te bota pra fora sem dó nem piedade, se não passou no caixa problema seu, nada de "pode ficar a vontade, madame", aqui é "cai fora minha filha, toma vergonha na cara e chega mais cedo da próxima vez". Acho certo e justo, todo mundo tem direito de ir pra casa no horário que acaba o trabalho e não ficar esperando a boa vontade do povo. Eu e meu espírito brasileiro de "o consumidor sempre tem razão" já fiquei com carrinho cheio de coisa sem ter caixa pra passar, agora não vacilo mais, apagou a primeira luz eu vou voando pro caixa, treinada.

Ah, e comprei farinha de pão. Mas isso foi 'so depois de ter comprado um saco de 5kg de farinha "pra toda obra" que vai durar no mínimo uns 7 anos, porque agora eu tenho uma máquina de pão, mas ninguém, ninguenzinho alertou a pobre alma aqui que pra fazer pão precisa de farinha de pão. Eu, hein?!


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Altruísmo

Cena:
Dia desses, Papito alimentando Altruistack, mamãe ao lado estudando.

Altruistack pega uma colherada de abobrinha refogada:
Mamãe:
- Filhinho, dá um pouquinho pra mamãe?
- Tó mamãe - oferecendo na colher.
- Obrigada!
Que criança boazinha! - Orgulhosa, pensa a mãe.

Altruistack termina a comida, Papito coloca a sobremesa, melão.
Mamãe:
- Filhinho, dá um pouquinho pra mamãe?
- Tó mamãe - oferecendo melão na colher.
- Obrigada nenê!
Como eu estou educando bem esse menino! - Retumbante, se orgulha a mãe.

Altruistack termina o melão. Papito teimoso dá um ovinho de chocolate pra criança.
- Filhinho dá um pedacinho pra mamãe?
Altruistack em um movimento rápido e certeiro enfia tudo na boca. Mamãe faz cara de triste. Altruistack mais que depressa estica o braço, pega o copo de água:
- Qué água mamãe?
O pior é não conseguir nem brigar já que, sendo o ovo Lindt, ela provavelmente faria o mesmo - Pobre criança sem futuro! - Cheia de remorso, conclui a mãe.
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Petits Bonheurs


Uma das coisas que eu mais gosto por estas bandas de cá é a variedade de festivais e eventos que começam a brotar com as flores na primavera. O mais interessante é que nunca rola muvuca e sempre rolam muitas famílias com seus filhotes na rua, curtindo com a multidão.


Festivack já foi ver Carlinhos Brown no Festival de Jazz quando ainda era bem mínusculo (porque agora ele é grande, vocês sabem), várias outras performances de rua no Festival Juste pour Rire e coisas mais eruditas como a série de concertos da orquestra municipal, especialmente para crianças. No entanto, o festival que mais aguardávamos era o "Petits Bonheurs" (Pequenas alegrias). O slogan diz tudo: "Pequenas Alegrias - O encontro cultural dos pequenininhos" e é isso que é. Uma séria de espetáculos de teatro, música, dança, oficinas e eventos de rua destinados as crianças de 0-6 anos e suas famílias, obviamente, já que por mais vanguardista que sejam os festivais, ainda não autorizam crianças dessa idade a pegarem o carro e se pirulitarem sozinhas para os eventos, quanta incoerência.

Mas enfim, ano passado, quando eu descobri o festival já era tarde demais. Meses antes do evento todos os ingressos já estavam esgotados. Este ano então resolvi não marcar bobeira e mesmo assim marquei. Quando fui comprar só tinha pra dois espetáculos, mas valeu a pena. O melhor foi uma mistura de música com teatro onde duas artistas tocavam instrumentos super diferentes como o Litophone entre outras surpresas que fizeram Impressionack e sua mãe, assim como todos na distinta audiência de criancinhas de 18 meses a 3 anos nem piscarem durante toda a apresentação. Memorack agora só fala nisso, é um tal de "bong!" pra cá "u-u-u" pra lá, descrevendo com uma clareza absurda as cenas da apresentação. Aliás, ficamos até famosos e quando fui olhar a programação do dia seguinte, lá estávamos nós no site do evento, quem quiser ver a mãe e filho babões é só dar uma olhada aqui.


É isso, quando a primavera chega, a vida é bela novamente. Esse mês já fomos ver uma exposição com monte de borboletas em liberdade, não só as borboletas mas todos estão livres, Libertack e seus comparsas brincam do lado de fora na creche, comemos nas calçadas dos restaurantes, há tulipas por toda parte, voltamos pra aula de natação, de musicalização e Desestresseiko resolveu até botar em uso sua total falta de habiliade culinária e fazer pão pra comemorar os longos dias de sol. O que, obviamente, não tem nada a ver com nada, mas achei importante dizer. Até porque o pão ficou até simpático, mas o gosto...bom, o pão foi pro lixo, mas o que importa é que o sol e as pequenas alegrias primaveris, estes vieram pra ficar, ao menos até Agosto.








PS - O dia das mães foi tão divertidamente ocupado que não deu tempo de postar, mas pra todas as mães por aí, Feliz dia das mães (adiantado pro ano que vem ;-)
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Um pouquinho de Brasil

Enquanto em lugares como New York e Washington lojinhas com coisas brasileiras, assim como os brasileiros em sí, pipocam em todo canto e Guaraná é vendido até no Wal Mart, por aqui, pra achar coisas "do Brasil" é preciso bússola, paciência e persitência pra testar de tudo até achar. Também é útil ter um faro aguçado pra descobrir qual outra cultura no mundo tem alguma coisa que parece com o almejado similar Tupiniquim além de uma rede de informantes por toda a cidade pra descobrir se o que não tem em um mercado tem em outro em um bairro diferente. Descobri outro dia que em um mercado normal, mas em um bairro com muitos chineses, tinha uma versão de Yakult, que eu adoro mas nunca tinha achado. Aliás os produtos chineses são os campeões do disfarce, é pra James Bond nenhum botar defeito. Tem leite ninho disfarçado de Nido, graviola disfarçada de uma fruta com um nome impronunciável, polvilho que chama tapioca e até goiabada. Também descobrimos em equipe que os árabes roubaram nosso queijo Minas e botaram um outro nome estranho lá. Imagine a alegria do nosso clã brasileiro ao descobrir a goiabada chinesa com o queijo minas árabe na mesma semana - O fim trágico de Romeu e Julieta se repetiu até a última lasquinha.

Semana passada passei em frente a um lugar que costumava ser uma lojinha brasileira, das mais capengas que eu já vi na vida. O ponto passou de um dono pra outro por uns bons tempos, sem muito resultado, até que alguém finalmente fez do lugar um autêntico e decente pedacinho de Brasil por aqui. Pão de queijo quentinho, mousse de maracujá, guaraná, tudo em um lugar bem decoradinho, bem aconchegante. Brasileirack encontrou uns outros brasileirinhos expatriados pra brincar (que por sinal entendiam Português, mas só falavam Francês, coisa triste...), mamãe tirou a barriga da miséria e todos saíram contentes.

Ontem fomos convidados por um chileno que é dono de um dos restaurantes brasileiros daqui (pra combinar com o chinês, dono da churrascaria brasileira em Vancouver) pra assistir o lançamento de uma cantora brasileira que aparentemente é bem conhecida aqui, Monica Freire. O álbum entitulado "Na Laje", é super bom, a voz dela é ótima e ela mesmo, uma autêntica "Papa-jaca" (pessoa nascida em Itabuna segundo o Dicionário de Baianês de Princhuco), é uma simpatia. Mas o programa foi melhor ainda. Lançamento bacaninha em um espaço meio alternativo, com um monte de pipas penduradas em todo canto "da laje". Apresentação de capoeira e batucada, Samback gastando a sapatilha e a família feliz em um tipo de programa que há tempos não fazíamos, digno de Sesc Pompéia no domingo a tarde.

Antes de ontem fui ao consulado renovar meu passaporte vencido. Avisei pra moça que tinha perdido meu título de eleitor e ela:

- Como assim perdeu?

- Perdi moça, não sei onde foi parar, procurei e não achei.

- Ah gente, mas como assim, perdeu?

- Você nunca perdeu nada na vida? Sabe, quando uma coisa some, você procura e não acha?

- Ah, mas então não vai ter jeito...

- Mas não tem como tirar uma segunda via?

- Ah não sei...

- Tem como perguntar pra alguém?

- Ai, ai...vou ver...

pega o telefone e liga pra alguém

- Bom, você entra nesse site aqui, preenche esses formulários aqui sem rasura e volta, mas volta amanhã porque hoje já está tarde.

Detalhe, eram 12:30. Pego os 425 formulários, vou pro escritório procurar o site. Descubro que o site era errado,enfim...a habitual cordialidade e prestimosidade dos funcionários públicos me fez lembrar que sim, é possível viver um pouquinho do Brasil por aqui.

Ontem pra completar o pacote de atividades "Minha terra tem palmeiras", fui ver qual é de uma aula capoeira, dita ser a modalidade miraculosa para eliminar cada uma das banhas adquiridas ao longo de anos de muffins e sendentarismo e da não mais possível desculpa de "eu tenho banhas mas tenho um nenê lindo, vai encarar?". O professor era gringo, veja bem, um bando de brasileiro aprendendo capoeira com um gringo. Coisa de brasileiro expatriado isso de resolver ser brasileiro, assim, aquela coisa autêntica, com jingado, que joga capoeira, que acha verde e amarelo a combinação mais linda do mundo e que conhece a Amazônia como a palma da mão. Depois de uns 15 minutos, logo depois do aquecimento eu já estava mais pra lá de Bagdá do que da Amazônia mas como "eu sou brasileira e não desisto nunca" e também tinha que provar pras gringas que a capoeira fazia parte do meu DNA, aguentei firme e forte...bom, ao menos eu aguentei, firme e forte já não digo. Bolhas no pé e dores musculares até pra espirrar hoje são a prova da minha invejável forma física...mas ao menos me diverti a beça e apesar de estar escutando som de berimbau até agora na minha cabeça, são essas coisinhas que nos trazem pra menos longe de casa, mesmo com o professor falando: "agoura a djinga".