Tudo começa com um pauzinho cheio de xixi. Um risquinho...opa, dois! E é dada a partida... lá vem elas, as primeiras de muitas que virão, sem aviso, quentes e sem controle rolando pela bochecha enquanto você vomita pela terceira vez no vaso sanitário.
Semanas depois é a vez do gel gelado na barriga, algo meio disforme e praticamente indecifrável mostrando no monitor, um som de surdo ritmado e alguém te diz que é um coração e, lá vem elas de novo, mostrando que vieram pra ficar, para marcar cada nova etapa desta total perda de controle que é virar mãe.
Mais semanas e lá está você, barrigão esquentando na tábua, passando uma a uma (pela primeira e única vez) aquelas roupinhas minúsculas, que logo devem ter dono, que logo vão estar cheias de dobrinhas gordas e risadas banguelas... enquanto passa você assite na TV uma propaganda de carro e um pai com um filho dentro e pronto... me dê essa caixa de lencinhos e você, que nunca chora em público (Freud explica) percebe que dalí pra frente, qualquer música que fale de crianças e pais, ou família e qualquer propaganda idiota de carro ou sabão em pó vão ser motivo, esquece minha filha...controle é pros fracos, ou fortes, ou para os que não tem filhos??
Passam mais semanas e sai de você aquela coisinha com cara de joelho depois de 13 horas de parto e enquanto desconhecidos costuram suas partes mais íntimas, elas correm não por causa da dor (uns dias depois será porque você não consegue sentar, mas vamos pular essa parte porque isso não combina com o tom melodrameatico do post...) mas por causa da alegria incontrolável, inexplicável de ver aquele serzinho com cabeça de cone e pele de meleca olhando pra vc...e elas virão também muitas outras vezes, cada vez que você colocar o dedo na frente do nariz dele para ver se ele ainda está respirando e constatar que ele ainda está, quando ele te olhar e rir pela primeira vez com aquela cara sem-vergonha de quem sabe que veio de dentro de você, quando ele colocar a mãozinha minúscula no seu peito enquanto mama com aquele barulnho único de nenê mamando todo satisfeito...
15 meses mais tarde, um gorduchinho muito descontrolado e desequilibrado vai dar uns 3 passinhos e cair de bunda no chão e você, camêra em uma mão e a outra estendida pra acudir, vai sentí-las rolando de novo. Dias depois vai deixar o mesmo desengonçado aos berros na escolinha e dia após dia, durante duas semanas você vai deixá-lo chorando e vai sair chorando mais ainda (talvez com menos berros) pelo portão, se sentindo a mais culpada, a mais carrasca, a pior do mundo por ter que trabalhar...até que um dia você sai e não escuta um berro, ao contrário, escuta ele se acabando de rir enquanto a professora canta uma música e aí minha amiga... você vai chorar também porque francamente..."como assim??? Feliz sem mim???"
O primeiro mã-mã, a primeira viagem ao Brasil, é lágrima pra oceano nenhum botar defeito...no verão passado foi a primeira vez de bicicleta sozinho e sem rodinha, totalmente livre pra ir e vir, um grito de liberdade, mais um passo de independência, só faltou as margens do Ipiranga...
Semana passada foi uma punhalada... ele virando todo grande, e dando tchau pra escolinha que o acolheu nos últimos 4 anos...você vendo nele pela primeira vez um ar nostálgico, de quem sente o peso de estar crescendo...um tchau definitivo, de quem parte pra novas aventuras. " Eu posso vir visitar a Nina, mamãe?" - "Claro que pode filho!" - Quisera eu poder te visitar pequenininho também...não posso, passou.
Outro dia foi no Wal Mart... pegando um pacote de canetinha, lápis de cor, etiqueta pra colocar nome, estojo...aquele cheiro de material novo, de mundo tão grande por descobrir, tantas aventuras por viver, tantos desenhos a colorir, estórias pra escrever, amizades por fazer... para os outros que passam e se perguntam "por que aquela doida está chorando no corredor da papelaria, os preços no Wal Mart são baixos, mas também não é de chorar", aquilo é só um supermercado, só um pacote de canetinha... pra você aquilo é mais um portão que se abre, e que se fecha com sua cria, a razão das suas lágrimas lá dentro e você de fora, sendo testemunha mas não sujeito, chamada só para as reuniões a cada 3 meses...- Coisa doida gente, essa sensação de sair de cena...um palco tão grande e meu meninó tão pequeno, com todos os holofotes só nele...E pensamentos de "homeschooling" invadem a sua mente...tudo passou tão rápido... em vão... o mundo está lá, e você, que sempre foi fã número 1 de escola, de escrever bilhetinho com poema pra professora, de passar horas na biblioteca escolhendo o próximo livro... sabe que essa experiência é tão necessária quanto imperdível... você não quer que ele perca, e sabe que seu coração bate mais forte junto com o dele, só de pensar no tamanho e na amplidão que o espera logo ali, a dois quarteirões de casa...
Estão lá na porta a mochila de sapo, a lancheira combinando e a agenda com bilhete para a Madame Lily ("Ela tem o mesmo nome do meu peixe! Disse um Zack muito surpreso")... e aqui estão elas, rolando soltas enquanto mamãe escreve e pensa... meu filhote, tão grande, tão moço...menino de escola, como disse a vovó...começando mais uma etapa dessa aventura sem volta, eita mundão...
É a promessa de vida no seu coração, já diria o Tom... feliz primeiro dia de escola filhote!!! Vai que o mundo é seu! Fica aqui sua mãe, sem controle nenhum da "grandura" que vem pela sua frente, mas na torcida por uma aventura descontroladamente maravilhosa.
1 comentários:
Amei esse post desde a primeira vez que li...
Como faz p/ votar??
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