Naquele fatídico dia, enquanto nos arrumávamos no salão, alguém, em um grito histérico digno de quem tinha visto o "Smoke Monster" do LOST ao vivo e a cores bem acima da minha cabeça, pronunciou sem piedade:
-Keiko!!! Tem um cabelo branco na sua cabeça.
Não era liquid paper colocado pelo amigo engraçadinho na escola, não era talco para fazer o papel de velhinha.Era um fato. Era um evento. Era meu primeiro cabelo branco.
Se você, como Princhuco, é meio loiro, pode passar anos até alguém notar um cabelo branco na sua cabeça (em outros lugares pode demorar bem mais, mas não entremos em intimidades desnecessárias), mas se você, como eu, tem o original "cabelo de japa", ah meu amigo, um fio branco no meio deles reluz como ouro. E nem tudo que reluz é ouro, vocês devem saber. Entre o mito de "se arrancar um nascem dois" ou o caminho para a fonte da juventude, fiquei com o mais prático e arranquei o mal pela raiz (fala sério que eu sempre quis usar este trocadilho literalmente) e prossegui incógnita como uma pessoa jovem.
Quase 4 anos depois, no aniversário de 21 anos do meu irmão mais novo, outro grande sinal de que os anos vão chegando, essa coisa de irmãozinho virar oficialmente grande. Enfim, neste dia olhei no espelho e PA! Ele tinha voltado. O massacre do cabelo branco. Desta vez, muito mais madura, não dei xilique, resolvi assumir. Tenho um cabelo branco mesmo, e daí? - Dizia eu para os transeuntes curiosos, as multidões e uns amigos corajosos que ousavam notar: Keiko!! Um cabelo branco! - Eu disse que ele reluzia. A cada vez que eu me olhava no espelho eu me sentia uma pessoa pronta a encarar os desafios desta vida madura. Contas para pagar, filhos para criar, nada disso era um problema para mim, afinal, eu tinha um cabelo branco. Era isso, o destino estava selado.
Até que um dia, meses depois, após lembrar da Darcy Gonçalves e refletir sobre a importância do processo de envelhecimento, de saber assumir a idade com alegria e qualidade, que pintar o cabelo, fazer plástica e botar botox eram procedimentos absurdos, impostos por uma estética que tenta esconder o que há de mais natural e belo que são os sinais de uma vida bem vivida, eu fiz o que era mais sensato: Corri e arranquei o desgramado antes que alguém mais viesse me dizer que SIM, eu tinha um cabelo branco.
Dois dias depois, nada de importante aconteceu. Nenhuma amiga casou, nenhum irmão ficou mais velho, ninguém teve filhos, não foi a única passagem do cometa Halley durante o milênio. Tudo o que aconteceu foi um moleque me chamando de mamãe, uma bebezinha me chamando de mamã, um povo perguntando minha opinião sobre uns assuntos aparentemente importantes, umas contas sendo pagas pela internet e sim, outro cabelo branco.
Desta vez eu não pensei, não filosofei, só arranquei. O dilema daqui pra frente é simples: grisalha ou careca?