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Tradução livre

Hoje fiz minha primeira tradução simultânea na igreja, do Português para o Inglês. Meio estranho...chega uma hora que você esquece que está traduzindo, começa a bocejar, falar umas coisas com você mesma, manja, tipo, notas mentais, comentários internos que você acaba falando e de repente só o pessoal que está com o fone de tradução está rindo enquanto todo o resto do povo está sério e ninguém (exceto você) entende o porquê. Ou isso ou você não é tão esquizofrênico como eu e não fica falando com você mesmo enquanto está rolando uma palestra.

Pois eu falo comigo mesma o tempo inteiro, e de uns tempos pra cá andei notando que as minhas auto-conversas geralmente são em inglês. Eu acho que a explicação mais lógica (e menos louca) é que a segunda língua te dá uma liberdade de expressão, uma possibilidade de sair de você mesma. Por exemplo, palavrões, que eu nunca falo em Português, as vezes saem em Inglês sem o menor pudor. Parece que se é em inglês não é palavrão, é só outra palavra.

Se eu sou louca de fato ou se isso acontece com todo mundo eu não sei. Mas já para aqueles que o Inglês é tão língua materna quanto o Português, os problemas são outros. Poilglack tem suas bilinguices com por exemplo conjugar verbos (Eu jumpei bem alto mamãe! Ou o contrário: Are you going to "conserter" that?). Sexta-feira depois que peguei ele na creche ele falou:
- Mamãe, eu te perdi!!!
(Do inglês: " I missed you! -- "missed" sendo o verbo perder, mas também "eu senti falta de você", nessa frase)
O que depois ele corrigiu sozinho:
- Não, eu senti muita saudade! (saudade= a já tão conhecida palavra sem tradução em língua nenhuma).

E aí, louca ou não só resta abraçar muito, até squeezar todos os bones.
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Empregos

Começou esta semana o festival "Juste pour rire" = Só pra rir, aqui em Montreal. Entre os muitos festivais que acontecem no verão por aqui este é o meu favorito. Basicamente, o festival consiste em um bando de atrações variadas acontecendo na rua, sem um tema específico, mas pura e somente, para fazer rir. Além dos shows pagos em teatros de stand up comedy e outros, as atrações na rua são tão variadas quanto bandas, bonecos gigantes, gente andando em perna de pau sendo guiada por algo que lembra um mix de Star Wars com guerreiros chineses, homem-bala, um lugar soltando espuma, outro soltando água, garçons em restaurantes servindo cobras de borracha e cantando para o público, enfim... a ideia é essa... quem no mundo consegue não rir vendo outro ser humano pagando um mico.

Domingo fomos lá conferir, e além de nos divertirmos a beça, depois de bater um papo sério sobre "carreira e futuro" com meu irmão mais novo, fiquei refletindo sobre as escolhas de carreira que a gente faz na vida. E não, não se preocupem, isso não vai ser um ensaio profundo e filosófica sobre o assunto. O que eu queria mesmo era dizer que, apesar da convicção da minha mãe de que tanto estudo não dá futuro, existe momentos em que eu penso... ok, passar os dias de verão em um escritório sem janela fazendo esta coisa altamente abstrata que chamam de "pesquisa" pode até ser chato (e tão pouco eu posso chamar isso de emprego, mas enfim...), mas eu definitivamente não queria este emprego (sobretudo em um calor de 30 graus):

- A cara do Zack é tipo: "Mamãe falou pra não conversar com estranhos, mas será que eu faço o que quando encontrar uma língua?"


Ou este (mesmo sendo mais refrescante):

- E obviamente a gente pagou $2 pra tentar derrubar o palhaço, sem sucesso.


Já este eu pegaria fácil, aliás, já estou considerando a mudança de carreira djá (embora talvez, e só talvez, me falte uma coisinha ou outra das habilidades requeridas):


Bom mesmo é este emprego (e esse pelo menos eu já garanti):

- Iogurte gelado do Yeh, nosso lugar favorito deste verão - Porque iogurte tem metade das calorias, já diria minha amiga Márcia. Em relação à que é que não se sabe, mas isso não importa.

- Pensa que meu Charles e minha Rose fizeram mais sucesso do que qualquer outra atração do festival, obviamente.
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Cada um com seus pobrema...

- Filho, tá fazendo a dança do xixi, vai fazer seu xixi, vai...
- Não quelo. Eu não quelo fazer xixi mamãe (enquanto segura o fazedor de xixi e dança o mundialmente conhecido frevo do xixi)
- Filho, é só ir rapidinho ao banheiro, depois você continua brincando...
- Mamãe, você cuida da sua vida que eu cuido da minha.

Pronto, assim, tabefe.
Se eu falar que o menino é super dócil e obediente ninguém acredita. Mas só sei que foi assim. Eu tenho que ficar de olho nos livros que esse menino anda lendo, porque eu tenho certeza que o Caillou nunca falou assim com a mãe dele e obviamente da minha boca nada perto disso jamais foi pronunciado (cof. cof. cof).

Após uma conversa homem a homem com o Papito o impasse foi resolvido e ele veio, humilde e sinceramente pedir perdão e falar que quer sim que eu cuide da vida dele. Mas no fundo eu sei que é só porque nem ele, nem o Papito querem viver de pão e água. E talvez porque ficou claro que ele teria que contar suas próprias histórias antes de dormir.



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Conselhos de mãe

- Está ruim da alergia filha? De novo? É porque você não está dormindo direito...
- É mãe, normal, ontem fui dormir as 3 fazendo coisas do doutorado...
- Ai filha, quando você vai acabar esse negócio?
- Ah, sei lá mãe... quando terminar... demora ainda...
- Ah não minha filha, você tem que parar com essa coisa de ficar estudando, chega disso, credo! Esse negócio de ficar estudando demais não leva a nada não!

Lembrando que a mãe em questão é professora aposentada, mas não espalha.

A mensagem importante que me ocorre hoje a 1:23 da manhã enquanto tento terminar um outro artigo é que "mãe sempre tem razão". Pena que a gente só escuta essas verdades quando já é tarde demais e calculando, eu estou estudando há 23 anos!! VINTE E TRES!!! - É o que me rende o título de "professional student", dado carinhosamente pelo meu irmão.

E deixa eu ir lá fazer um pouco mais de trabalho que não leva a nada...
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Novíssimo Dicionário de Ninolês

" Palavra: Do latim parabola, que por sua vez deriva do grego parabolé. Pode ser definida como sendo um conjunto de letras ou sons de uma língua, juntamente com a ideia associada a este conjunto. A função da palavra é representar partes do pensamento humano, e por isto ela constitui uma unidade da linguagem humana." (Wikipedia)

E é assim que surge o Ninolês, com várias unidades de linguagem deste pequeno ser arredondado. Ininteligível para a maioria dos outros seres humanos de estatura superior, a língua é perfeitamente entendida na longínqua terra de aquém-porta-de-casa.

Abí= Os linguistas debatem se a palavra se originou no nome melhor amiga da escolinha, Abigail, e depois se extendeu sem nenhuma razão clara ou científica para substituir verbos diversos tais quais: abrir, pegar, ajudar levantar ou se o fenômeno foi inverso. O que sabe-se é que desde que alguém entendeu e demonstrou uma reação, "Abí" é o verbo mais Bom-bril do momento, sempre conjugado no imperativo, obviamente.

Ábua= Líquidos, qualquer coisa em um copo, piscina, chuveiro, chuva. Me dá - não importa o que você está tomando, eu quero!

Baãa = Banana. A primeira coisa que se pede ao acordar, antes do sol nascer.

Bye, byeee (acompanha gesto)= Orig. do Inglês. Tchau. Pode ir embora agora. Eu tenho que ir embora agora. Eu preciso guardar esse brinquedo, que pena! Chega de escovar os dentes, agora eu vou dormir (Uso: Bye, bye - pra escova de dente).

Babuuu (acompanha sinal) = Acabou. Advérbio de negação quando relativo à comida, acompanha crise de choro, birra e pânico generalizado seguido de conformismo por falta de opção.

Datinnn = Gatinho. Objeto curioso e animado que fica na janela da vizinha e com para o qual deve-se gritar quando o vê. Objeto inanimado na casa da tia Bibi.

Dendin (acompanha movimento de pescoço inclinado pro ladinho) = Denguinho. Graça ensinada pela mãe há alguns meses, e que ela repete quando quer fazer um charme, ou digamos, um denguinho. Subterfúgio utilizado para quebrar os corações mais irritados, geralmente usado no cadeirão, após ter derrubado cada gão de arroz cuidadosamente no chão.

Hi = Oi. Intejeição de saudação normalmente dirigida à qualquer transeunte na rua, aos professores na escolinha e ao computador toda vez que a mão senta (e o locutor já acha que vai aparecer alguém no skype). Acompanha movimento de aceno real, à la Rainha Elizabeth.

Mamãe = Derivada do latinês "mamã". Aquela da qual se sai de dentro e de quem portanto não se desgruda para nada e por nada neste mundo, até os 21 anos, no mínimo. Advérbio de intensidade. Primeira palavra conhecida do Ninolês, diz a lenda que pronunciada aos 6 meses.

Mamá = Fonte de alimentação. Sin.=Consolo. (Uso: Se é meia-noite e você está na rua, na gandaia, morrendo de sono mas não quer perder a festa, peça com ênfase e repetidas vezes: Mamá? Mamá? - Sempre apontado para o objeto de desejo ou enfiando a mão mesmo, caso não seja atendida).

Papai= Aquele do qual, teoricamente, também se saiu de dentro, mas com menos dor e sem necessidade de pontos. Advérbio de intensidade. Aquele que não resiste as suas manhas. Sin= Resgate (Uso: Toda vez que alguém te coloca no berço você deve chamar: Papaaaaaa, Papai, Papi, Papaiiiiii! Até que o próprio não aguente e vá te buscar). Verbete que deve ser utilizado sempre com ênfase, igualzinho se ouve vindo do próprio (Ele grita: Mamitaaaaaa, e ela responde: Papaaaaaiiiiii! - Coisa linda).

Papúuuuu (acompanha sinal) = Formal: Por favor. Coloquial = Comida, brinquedo, chave, qualquer objeto que se queira. Advérbio de tempo (sendo o tempo: AGORA) = me dá isso que você está comendo agora!!! Pouco importa se é cebola crua, sapato ou Coca-Cola, eu quero, mas peço com educação. Mas não por muito tempo.

Papáa = Sapato. Coisa sem a qual não se pode sair na rua, mas que deve ser tirada assim que se chegar nela. Objeto surrupiado do guarda-roupa da mãe (será que mania de sapato é genético?) e econdido nos cantos mais remotos da casa, como o cesto de lixo ou embaixo da almofada do sofá.

Pé = Só isso mesmo, pé.

Pp-p-tchu= Escova de dente. Substantivo que deve ser dito com segurança e com evidência do esforço que se faz para repetí-lo precisamente. Se sua mãe disser: "Es-co-va" repita com firmeza: "Pp-p-tchu", seguido de um sorriso confiante de quem sabe o que diz.

Tau= Tchau. Interjeição definitiva usada quando realmente se está decidida a ir embora ou ficar. Uso: Quando sua mãe ameaçar ir embora e te deixar pra trás caso você não queira ir junto, dizendo: " Tchau Nina, mamãe vai embora" (não que alguma mãe realmente decente no mundo faça isso, veja bem) você deve usar esta interjeição, sempre se assegurando de virar as costas e ir embora pro outro lado, de verdade, e nunca mais olhar pra trás.

Vovó= Ser que mora dentro do computador ou do telefone. Se o telefone toca ou alguém senta em frente ao computadr você deve sair de onde estiver, parar tudo o que estiver fazendo e vir correndo conversar com a vovó, vovó, vovó!!!!

Zazá= O irmãozão. Pessoa preferida na vida, a qual se acorda chamando (na ordem ela chama: papai - me tira do berço, mamãe - me dá mamá, baã - preciso de uma banana, zazá-agora vamos ao que interessa, deixa eu dar oi pro meu irmãozão querido). O substantivo geralmente é seguido por um sorriso e um abraço apertado de irmãozinhos que me mata cada vez que eu vejo.

Enquanto isso, no mundo dos que falam até demais:
- Mamãe, vamos apostar corrida?
- Ah filho, tô cansada.
- Ah, tudo bem, é porque você é menina, você não é boa em esportes.
- O que é filho???
- Porque meninos são bons em esportes, e meninas são inteligentes.

E acredite, eu jamais disse isso (em voz alta pelo menos ;-p). Quem disse foi a amiga, de 6 anos. E não houve argumento meu, por mais inteligente que eu, uma menina, seja, que o convença do contrário. Porque eu posso até ser inteligente, mas é a amiga de 6 anos que realmente sabe das coisas.