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Males necessários e bens inesperados

Essa semana não teve jeito, decidí, decidí, nada me impede. Depois de comer um chocotone, uma caixa de Nhá Benta de Maracujá e um pacote de Chocolícia, lá fui eu, paguei pra um ano. É isso, agora eu estou matriculada em uma academia, pela sei lá...vigésima vez? Mas dessa vez vai, ah vai...já fiz aula de step e já estou com dor muscular até na pálpebra, mas como dizem por aqui, "no pain, no gain". Enquanto eu estava pagando minha anuidade o moço da academia, vendo minha cara de total desespero e descrença me pergunta se está tudo bem. Ao que eu respondo: "E como poderia, meu caro?? Eu estou pagando um ano de academia! O que significa que de duas uma, ou eu vou fazer academia por um ano, ou eu vou ficar com peso na consciência por um ano - e nenhum dos dois cenários me traz qualquer alegria".

E por falar em dinheiro gasto com coisas odiosas, essa semana fui também ao dentista. No Brasil te roubam no semáforo com caco de vidro (eu mesma já fui roubada umas 3 vezes assim), aqui te roubam no consultório dentário com um uma broca (sei lá eu como chama aquilo). Entre ser furada com um caco de vidro ou ficar duas horas com aquela maledita maquininha fazendo zzzzzzzzzzzz e pegando a raiz do seu dente, sei não...Sem contar que nos assaltos lá em Sampa só me levaram uns "10 real" cada vez. Teve até uma vez que o mocinho meliante disse "obrigado tia". Por aqui os males do corpo são curados "de grátis", já os do dente...você paga e paga caro que é pra lembrar bem a cada vez que ficar com preguiça de passar fio dental. E ninguém me agradeceu pelos vários dólares deixados pra trás.

Pois é, acabei a semana mais pobre, com mais dor e tudo estaria perdido não fosse eu receber uma caixa vinda de Los Angeles, de uma amiga que vive mandando roupinhas pro Zack, presentinhos, aquele tipo de pessoa que você não entende como pode pensar tanto nos outros e ser tão querida. Enfim, na etiqueta identificando o que tinha dentro vinha escrito: "Baby shoes" e eu já estava feliz, mas quando eu abri descobri que os "baby shoes" eram na verdade 2 GOIABAS !! Me fale de alegria... Me fale da sorte que é ter uma amiga do outro lado do outro país que do nada resolve te mandar duas goiabas?

Então fiquei pensando...nada é tão ruim assim, enquanto houverem amigos e goiabas, ainda há esperança, mesmo fazendo ginástica e obturação.

PS - Pra quem não sabe, goiaba é uma das minhas frutas preferidas, se não era, ficou sendo depois que vim pra cá.
PS2 - Nesse país as raras goiabas que se encontram vêm do Brasil, custam $3 em média (cada) e não tem gosto de absolutamente nada. Já as da minha amiga, são plantadas no quintal da casa de alguém que trouxe uma muda clandestina do Brasil e sendo L.A. e não esse freezer onde moro, a goiabeira cresceu feliz e dá frutos docinhos e suculentos como os originais "made in Brasil".
PS3- Alguém por favor conhece outro alguém com uma Jabuticabeira clandestina no quintal? Porque essa semana eu me desesperei ao chegar a conclusão que talvez nunca mais eu coma Jabuticaba na vida! (Nunca é época quando eu vou pro Brasil!)
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Agenda

Semana passada andei meio ocupada organizando um chá de bebê e sendo mãe solteira enquanto o marido Princhuco ainda estava no Brasil. Baixei minha carga de trabalho pra um dia só por semana, o resto pra pesquisa e pra Princhuqueto, que agradecido, deu pra desembestar a falar, cantar tudo que ouve, tocar piano no ritmo e fazer denguinho.

Essa semana estarei meio ocupada comendo todos os doces que eu expressamente pedi pra Princhuco não trazer do Brasil, mas me conhecendo como ele só, ele trouxe assim mesmo, com medo da morte em caso contrário. O Chocotone Bauduco foi a primeira vítima e já está pra lá de um terço comido. Não vou nem contar sobre a cena em que uma mãe histérica ataca um pai inocente que ousa comer a última chocolícia do pacote (também não vou contar que a madame em questão tinha comido o resto do pacote inteiro). Ah sim, a dieta vai bem, obrigada.

Enquanto isso, no mundo exterior, ele está de volta:


Não, não - não é o carrinho de supermercado, mas sim, o inverno. Longo e tenebroso como há de ser (perceba também o talento nato da pessoa aqui para tirar fotos, que enquadramento, que ângulo perfeito!). E é em um dia como esses (quinta passada) que você percebe que sua sanidade foi mesmo para o beleléu quando decide que TEM que ir ao shopping comprar uma bota marrom e um casaco marrom. Cata a criança, bota gorro, casaco, cachecol e casaco e vai-se. O freio do carro não freia (derrapa um bom tanto até finalmente parar), o limpador de pára-brisa não limpa o pára-brisa (a neve é meio dura então não se limpa como chuva), você não enxerga nada, quase morre, mas mesmo assim volta feliz, sem ter comprado nem casaco nem bota marrom, mas com algumas blusinhas novas e isso:


É ou não é uma coisinha fofa? Provavelmente eu seria mais feliz comprando um novo par de Havaianas, mas...quem não tem castelinho de areia, caça com boneco de neve.

Nada como uns docinhos no bucho pra te ajudar a ver o lado positivo das coisas.


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Dicionário

Nos tempos que Bebezack era só um bebezinho e falava "mama, papa, dada", tudo querendo dizer: "me troca, me dá comida, me põe pra dormir", eu vi no Mothern um post com o vocabulário da filha de uma delas e fiquei morrendo de vontade de copiar a idéia, só esperando meu dia chegar, e finalmente, ele chegou.

Hoje em dia Papagaiack repete em versão fofinha tudo o que você diz e faz, um perigo. Outro dia eu soltei um: "saco!" e lá veio ele: "tato!" com direito a cara brava e tudo...podia ter sido pior, eu sei.

Mas fora a papagaíce, ele já tem um vocabulário fixo bastante prodigioso, penso eu em tanto que mãe não coruja que não sou. Obviamente que o vocabulário é mais amplo que o listado abaixo, o único problema é que a mãe, ignorante como só, ainda não aprendeu todo o Zackolês, a despeito das ínumeras tentativas de Comunicack de ensiná-la. Obviamente também que é só eu falar pra alguém que ele fala "tal coisa" e pedir pro bichinho falar que Mutack faz cara de paisagem e não fala nada, faz parte da série "Passando vexame com seu filho", episódio anterior ao da criança se jogando no chão do supermercado.

E vamos lá, Dicionário de Zackolês, em Novembro de 2007:

Aguá = Qualquer coisa dentro de um copo.

Alô = Objeto usado para longas conversas com os outros falantes de Zackolês, ou com vovó. Objeto a prova de choque, jogado no chão inúmeras vezes ao fim das conversas.

Amém = Fim da oração.

Atô!! = Achou! O tal do peekaboo (inglês) ou Coucou (francês). Brincadeira que marca a permanência do objeto, se for pra falar chique.

Babía = Mamífero aquático de tecido que dorme com você. Aplica-se também a qualquer outro mamífero aquático tais como golfinhos, tubarões e peixes (o que? Então você não sabia que tubarão e peixe são mamíferos como as baleias? Pois é, tanto a aprender como uma criança de apenas 17 meses)

Bééee = Ovelha, cabritos, vacas e similares.

Bye bye = 1.Interjeição de adeus. 2.Some daqui. 3.Chega.

Carrr = Veículo de 4 rodas.

Cócócó= Galinhas do cocoricó (e somente elas) DVD ao qual mamã eventualmente recorre quando tem que ficar lendo blogs ou fazendo outras coisas menos úteis como faxina e estudos.

Dedadô = Coisa na qual você entra em um lugar e quando a porta abre de novo você sai e vai pra casa ou pro carro. Há algum tempo ele ficava desesperado pra apertar o botão pra chamar o elevador, agora ele descobriu que é só chamar mesmo, e ele vem. Lei do menor esforço.

Eneonor = Melhor amiga da creche (ou a única que ele consegue pronunciar o nome (Eleonor), os outros sendo: Ure, Mason, Guida, Saja - não é a toa que todos os outros sabem chamar Zack.

Inha = Escolinha. Lugar onde mamã te abandona enquanto cuida da sua própria vida. Ou melhor, lugar onde você chega, manda um beijo e dá tchau pra mamã, sem o menor remorso, ainda por cima cantarolando "Inha" enquanto abraça e beija os colegas de classe. (Origem: Fim da canção "Vamos para nossa escolinha", hit composto por mamã, cantado no caminho para a Escolinha).

Lalá = Escova de dente (Origem: Fim do clássico "Escovinha da limpeza", mais uma composição de mamã que termina com as profundas palavras: "lá lá, lá, lá")

Má = 1. Mais. 2. Me dá. 3. Quero. 4. Agora! (nesse caso é "má, má, má, má, máaaaaaa") - Acompanha o sinal em ASL.

Mamã = 1.Escrava branca cuja função exclusiva no mundo é te servir e atender seus desejos. 2.Interjeição de alegria (quando o ser em questão chega pra te buscar na creche). 3.Interjeição de socorro (quando você quer sair do berço). 4.Interjeição de raiva (quando ninguém te tira do berço). 5.Seio, leite, aquela coisa embaixo da camisa que não se pode sair pegando em público.

Mamía = Tecido que se coloca no pé.

Nenê = Todo ser que se mova e tenha menos de 1 metro, ele inclusive.

Ô-ôuu = Fiz besteira. Geralmente usado inocentemente quando propositalmente ele derruba alguma coisa no chão, assim, sem querer...ô-ôuu...

Papá = 1.Serviçal de reforço, a quem recorrer em caso de falha nos serviços de mamã - Variação: "Papito" - Pessoa com quem você divide a sua comida (sempre que ele está comendo ele pega uma colherada e fala: papá, oferecendo para a foto quando papá não está, depois: nenê - oferecendo para ele mesmo, pra mamã que é bom, nada!) - Pessoa que faz tudo o que você quer, principalmente dar doces escondidos de mamã e trazer um brinquedo novo a cada dia. 2. Objeto colocado no pé após a mamía (também conhecido por sapato). 3. Patos que tomam banho com você.

Pipi = 1. Passarinho. 2. Pequeno órgão genital (desnecessário dizer que quem ensinou essa foi o papá).

Pupapô = Palavra socialmente imposta que você deve dizer mesmo sem saber o que quer dizer quando quando alguém te pergunta: "Como é que a gente pede?". Acompanha o sinal de "please" em ASL e dependendo do pedido, acompanha uma cara de gato do Shrek.

Tchi Tchi = Aquilo que mamã faz quando senta na privada.

Úlio = Personagem da turma do cocoricó (Júlio). Usado intermitentemente como "cócócó"- acompanha a melodia.

Uva = Fruta arredondada (morango, blueberry e até uva) que você come desesperadamente, sempre mantendo uma em cada mão e pelo menos duas na boca ao mesmo tempo.

Vovó, titi, dede, dadá = Familiares que moram dentro do computador ou do Alô.
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O túnel do tempo

Youtubando por aí achei um vídeo de uma galerinha, em algum ano do "ensino médio" (antipatia de ensino médio, pra mim ainda é segundo grau...) da escola onde estudei a vida inteira, cabulando aula pra ir ao cinema, registrando o fato como heróico e obviamente se divertindo.

Me deu uma saudade do tempo que correr risco era cabular aula, do tempo que de fato, se você decidisse que em uma manhã, em um dia de semana, você queria ir ao cinema, era só ir, sem maiores conseqüencias. Lembrei de uma tarde na faculdade, fim de semestre quando eu e uma amiga que morava no mesmo prédio, decidimos ficar em casa assistindo sessão da tarde - sessão da tarde! Um filme sobre um alce que se perde ou coisa assim...fazendo unha e comendo carolinas da padaria da frente do prédio. Saudade do tempo que eu podia almoçar passatempo recheada com Todynho e não engordar, de um tempo com menos compras "de supermercado" e mais compras "de shopping", com mais "vamos vivendo" e menos planejamento, de um tempo quando eu sabia o que ia ser quando crescer.

E aí vem aquela tristeza de constatar que os adultos estavam certos, você era feliz e não sabia. E pior, constatar que em 1 semana dei pra escrever 2 posts nostálgicos...o que é isso minha gente, eu não tenho nem 30! Eu, hein?!
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Razões

6 razões para não ir dormir à 1:00 da manhã:

1. Acostumei tanto a dormir as 3:00 que 1:00 parece cedo demais, deve ter alguma coisa a mais pra fazer (a pilha de louça suja na pia e a aula que eu tenho que dar amanhã mas não quero preparar não contam)

2. Se eu for dormir não vou ter desculpa pra comer a última passatempo recheada (a desculpa sendo: se eu tenho que trabalhar até tão tarde então mereço comer. Freud explica)

3. Finalmente atinei pro fato que de repente, existe uma versão online da "Nova Brasil FM", minha companheira de trânsito em São Paulo. E descobri que obviamente, existe. Agora quero ficar ouvindo...

4. Minha cama está grande demais. Vou ter que arranjar uma cama de solteiro pra quando Princhuco estiver no Brasil. Tem coisa pior do que todo aquele espaço e nenhuma perna pra enroscar o pé gelado?

5. Virusack está com Crechite (e qual é a novidade?) e fica tossindo e acordando a cada 1 hora, chorando. Volta a dormir, exceto as 2:00, quando ele acorda e não consegue mais dormir,a pobre criança. Então pra que eu vou dormir à 1:00 se tenho que acordar as 2:00?

6. Ainda não lí todos os blogs que existem no mundo, só a metade deles. E todo mundo sabe que ninguém deve ir dormir sem antes ter lido todos os blogs do mundo.

ok, boa noite!
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Papirus

Houve um tempo...quando no fim do ano a minha maior alegria era sair com a minha melhor amiga por todas as papelarias e lojas da cidade, em busca da "agenda perfeita". Eu sempre fui meio maníaca com agenda. A definição de agenda perfeita foi mudando com o tempo, no começo era a mais papagaiada, com a maior cartela de stickers no final, com desenhos nas páginas. Servia pra tudo, desde anotar a lição de casa até colar papéis de bala, palito de picolé, fotos de amigos e por aí vai, de forma que no fim do ano ela não fechava.

Depois foi ficando com cara mais séria, afinal, quem ia dar moral para uma terapeuta que tirasse uma agenda dos Ursinhos Carinhosos para anotar um compromisso. Chegamos ao nível "agenda de couro", mas ela ainda tinha seu charme. Saquinho para guardar coisinhas, clipes coloridos em uma página e é claro, a sempre presente possibilidade de usar canetas coloridas, colocar uns stickers escondidos (inclusive alguns "economizados" há anos, muitos anos de outras agendas e outros carnavais) aqui e lá, enfim, ainda havia esperança.

Desde o ano passado troquei minha agenda de papel por um Palm, doado pelo sócio do marido que não conseguiu se adaptar a tecnologia e voltou ao papel. No começo achei chique, pensei que agora sim, tinha virado gente grande. Um ano passado e eu estou entrando em depressão. Até colei uns adesivinhos atrás do negócio, mas vamos combinar, ficou ridículo, tive que tirar.

Outro dia em uma reunião vi uma colega terapeuta grifando com canetas marcadoras de 2 cores diferentes 2 reuniões futuras que estávamos agendando e fiquei morrendo de inveja. Eu lá, com aquela canetinha sem graça que nem cor tem, anotando no meu Palm, bargh! Não vou dizer que ele é de todo ruim, me economiza por exemplo repassar os telefones e datas de aniversário de uma agenda pra outra, está tudo lá. Mas existem outras questões altamente existenciais envolvidas, como, e se eu não quiser mais saber o aniversário daquela pessoa no ano seguinte? E que desculpa eu posso dar se não ligar pra alguém? ("Perdi o papelzinho onde anotei seu telefone" é um clássico...e no meu caso era sempre verdade, agora já era). E como você personaliza um Palm? Tá, bota umas fotos, umas músicas, mas ninguém vê, só você. Falta aquela troca, aquela chance de deixar os outros te conhecerem um pouco só olhando pra sua agenda. Bom, talvez eu seja a única maluca que fica fazendo análise de personalidade através da agenda, mas que eu faço eu faço. E ninguém pode fazer de mim, porque eu não tenho mais agenda!

Isso só pra falar de agendas, sem contar as cartas, com papel de carta perfumado e envelope que combina (que aliás, podia ser trocado por 2, certo?- observação exclusiva para meninas que já colecionaram papel de carta). E os cartões de aniversário?? Tem coisa mais antipática, e no entanto mais prática, do que cartões virtuais? Poxa vida, e aqueles cartõezinhos que vinham do Paraguai e tocavam parabéns pra você com aquele som irritante quando você abria, até a bateria acabar? Acabou, acabou. Hoje em dia, mesmo morando longe de vários potenciais "remetentes" as únicas cartas que eu recebo são contas, nada divertido isso. Mas aí é assunto pra um post mais sério e reflexivo sobre os males e dilemas da tecnologia (e este post de hoje é só uma reflexãozinha inútil de uma moça sem agenda, sem marido ( no Brasil) e por isso sem vontade de ir dormir).

Se quem sabe então Montreal for um dia uma cidade submersa, pobres escafandristas, a não ser que inventem hardwares a prova d'água, não vai sobrar nada pra dar para os sábios decifrarem...
( e aqui eu colocaria um link para a letra de "Futuros Amantes", caso alguém não saiba do que eu estou falando, mas por alguma razão misteriosa minha barra de endereços sumiu e eu não sei como copiar o link. Veja só, a tecnologia.)
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De outro planeta

Você sabe que não mora em um país tropical abençoado por Deus quando, finalmente acha um mamão papaya no supermercado, murchinho, meio verde, meio podre, mas contente ou contentada, o pega assim mesmo. Vai até o caixa toda prosa com seu mamão e a mocinha do caixa pergunta:

- O que é isso?

Com ar de quem acabou de ver um Alien.

É verdade que 4 meses com neve também remetem levemente à falta de tropicalidade do local, mas deixa esse papo pra daqui umas semanas...
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Muralzin

Sandra: Pois é, muita distância pra pouco dia...

Cláudia: Essa coisa de ser pajem é só pra minha mãe poder dizer: "Tá vendo o que eu passei?". Já que eu mesmo fui daminha umas 20 vezes, tadinha.

Anônimo: A parte de Vancouver está aqui.

Ciça: Vixe, aproveita mesmo enquanto os bichinho é semi-imóvel, depois é só maratona, mas como tudo com esses serzinhos, vale a pena, mesmo com a paciência e as horas de sono sendo pequenas.
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Apenas um Fim de Semana Comum - última parte - finalmente

Bom, demorei tanto pra contar a estória toda que cansei, aí ia desistir de contar a última parte, mas achei que ia ser mancada, o final sempre é o melhor, ao menos em Holywood, porque esse final aqui tá mais pra cinema europeu, onde tudo dá errado no final, para o desespero dos carentes de um final feliz, vou logo avisando.

Sábado: Basicamente o sábado foi uma alegria, como já dizia uma canção que aprendí na minha infância, "o sábado é um dia feliz". De manhã fomos à igreja onde praticamente nasci, cresci e vivi até vir para o Canadá, todos viram e apertaram o pobre Princhuquinho que respondeu à altura dando beijos e sorrisos até se cansar e ir catar pedrinhas (na falta de coquinhos). Em um dado momento, não habituado com um sol de rachar em pleno Outubro e não querendo abrir mão das duas pedras que carregava, Desequilibrack caiu de boca no chão, "estragando a figura" do pajem do casamento que era a tarde. Gelo na cara sob protestos, a vida continua, com um beiço meio mulato.

Na hora do almoço banquete de amigos que trouxeram um banquete de comida, todas ao meu gosto. Essa é a grande vantagem de morar "fora", quando você volta é um mimo só. E eu que não sou besta exploro mesmo, fui logo encomendando mousse de maracujá, pavê de sonho de valsa, massa fresca de requeijão com amêndoas e ainda ganhei de brinde bobó de queijo, carne louca vegetal e outras iguarias vegetarianas e doces. Enquanto eu comia, o pai tentava fazer o Quiçá-pajem dormir, uma fazia chapinha no meu cabelo, outra mostrava as super produções de scrapbook, a outra trazia paninhos umedecidos pra limpar a cara e fazer maquiagem, tudo enquanto as fofocas do ano inteiro eram botadas em dia, aquele caos básico que tanto me faz falta.

Lá pelas 4 saímos que nem loucos para ir pra casa do irmão, tomar banho, trocar de roupa, vestir o pajem que obviamente, só agora pensou em dormir. Dá banho dormindo mesmo, vai de fralda até a igreja, madrinha e padrinho vestidos, maquiagem por fazer no carro. Busca a amiga querida que vai sempre de carona (e que constatou que é por isso que está sempre atrasada nos casamentos). Trânsitinho amigo na Marginal, chegamos junto com a noiva, a fila de padrinhos já pronta. Enfia o semi-fraque no pajem, agora em plena birra pós-ser acordado, taca um spray no cabelo do pobre, larga com a primeira desconhecida que vê na frente e entram na rabeira da fila de padrinhos, ao som do menino (e dos comentários: "gente, de quem é essa criança?") que berra no colo da desconhecida. Sorrisos, fotos, sobe no altar. Sai o pai pra socorrer Escandalosack, fica a mãe sozinha no altar com cara de tacho. No fundo da igreja a mãe agora consegue ver que o Possível-pajem se acalma e volta a ser feliz.

É chegado o grande momento, aquele que todos aguardavam, aquele que trouxe a família "do estrangeiro" diretamente para o casamento. A entrada do Pajem, com as alianças. A Mãe, no fim do corredor aguarda pra chamar o menino. O pai, no começo do corredor tenta convencer a daminha, de 4 anos, a dar a mão pro Pobrezinho do pajenzinho, olha como ele é bonitinho e nada. O outro pajem, de 2 anos e meio dá birra e resolve que não vai entrar mesmo. O Pai convence a daminha de pegar na mão do menino, fala pra ele que Mamãe está lá, dá aquele empurrão básico e lá se vão eles, corredor abaixo, a Daminha Nervosa e o Pajem do Nariz Vermelho. O Projeto de Pajem, embora exitante dá uns passos no corredor e começa a chamar Mã-Mã-Mã-Mã, conforme o prometido. Atrás de 2 fotógrafos e 2 câmeras que insistem em ficar na frente das crianças, uma madrinha maluca discretamente agita os braços, esperneia, quase grita: "A Mamãe tá aqui!", enquanto na frente do povo, um certo pajem vai ficando progressivamente mais desesperado, até começar a chorar já que não consegue ver a prometida Mamãe. A Daminha Nervosa se cansa daquela criancice e dá um puxão no menino como quem diz: "Cresça, muleque, você está estragando minha performance", típico. Meio cansado, meio chateado, meio atordoado e meio desequilibrado, o pajem, em slow motion, cai de novo de cara no chão, dessa vez no meio do corredor, para o desespero da platéia e da mãe que salta sobre os câmeras e fotógrafos e segue pelo resto do corredor com o Ex-pajem aos prantos, nariz mais vermelho, boca mais beiçuda e carreira de pajem definitivamente arruinada, como em Holywood, não adianta ser simpático e inteligente tentando provar pra todo mundo que 1 ano e 3 meses não é idade pra ser pajem, sem um rostinho perfeito você não é nada meu caro.

Após mostrar umas florzinhas pro Nunca-mais-pajem ele se acalma, a mãe sobe com ele no altar sob risadas complacentes da noiva, ele fala "Amém"um tanto de vezes durante a benção, começa a cantar Parabéns ao ver as velas, pede "água, água, água" ao ver a pia batismal e a paciência acaba junto com a cerimônia. A mãe sai pelo corredor com o pajem no colo, sem o pai que a essa altura estava escondido lá no fundinho da igreja, espertinho. Ainda havia esperança, as fotos fotos com a noiva na festa. Olhando o álbum anos depois ninguém lembra quem entrou ou não, o importante é aparecer sorrindo do lado da noiva.

Na festa, a cada vez que o Pajem-aposentado via a noiva, começava a chorar, e não houve bola, flor, luzinha ou Ritalin que fizesse o menino se acalmar. Não rolou foto com a noiva. Rolou foto com todos os convidados, o segurança, o garçom, o Dj, mas com a noiva...nem pensar! E eu que gastei R$130,00 nessa mini-roupa e não vou ter nem uma fotinho profissional. Bom, sobraram as nossas fotos escuras ou borradas como recordação do primeiro e provavelmente último casamento do qual o menino vai ser pajem, ufa! Como todas as outras histórias, não quero ouvir falar de pajem até ele ter 18 anos, pelo menos. Depois disso também acho que ninguém mais vai querer convidá-lo de qualquer forma.

E é isso...domingo só alegria, mais comida com as amigas, uma amiga mais chegada que um irmão veio de São Carlos só pra me ver um pouquinho, dia feliz fazendo compras na feirinha de artesanato, caldo de cana com pastel. Volta correndo pra casa do irmão, há 4 horas do nosso vôo. As amigas enfiam tudo na mala enquanto tomo banho e dou banho em Doentack, agora com febre. Tylenol pra baixar a febre e com sorte dormir no vôo. Passa no "Pedaço da Pizza" para uma última comidinha e encontrar a afilhadinha, corre para o aeroporto, larga a amiga na rodoviária, tudo corrido assim é bom que nem dá tempo pra tristeza, trânsito na Marginal pra lembrar que isso realmente é parte da viagem. Chegamos no aeroporto e o check-in estava fechando, não fosse a fila preferencial (exclusividade no Brasil) não teríamos chegado a tempo pro vôo. Despede correndo do irmão e do casal de amigos oficial-de-todas-as-despedidas. Pela primeira vez na vida, não choro depois de passar na Polícia Federal, não deu tempo, tínhamos que correr. Entramos no avião e esperamos quase 2 horas (sim, eu disse 2 horas) dentro do avião, porque relampejava. Impacientack prova que Tylenol não faz dormir, trocamos os "ol", tinha que ser "Tegretol". A viagem recomeça e vide capítulo 1 para mais detalhes. Só acrescente um pai para carregar as coisas e o bebê ter caído no chão 2 vezes durante a noite, a essa altura, ninguém mais se importa, está provado que o menino é a prova de choque.

Segunda de manhã: De volta à Montreal, corre pra botar o trabalho em dia e a vida continua...