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Traduções

Prometi pra mim mesma que não ia escrever nenhum post até terminar o *%$#@*& (essa aprendi com minha amiga Márcia) da apresentação do meu protocolo de pesquisa. Mas como eu me peguei várias vezes em meio à apresentação pensando em forma de post, já formatado e dividido em parágrafos, não se trata de escrever, mas apenas transcrever, então tá autorizado.

Viver em outro país implica, obviamente, viver traduzindo as coisas. Aos poucos o processo se torna automático e você nem sabe mais quando está ouvindo uma língua ou outra, ou outra. Veja a filhinha de uma amiga venezuelana (que fala espanhol em casa, francês na igreja e inglês na creche, coisa comum por aqui), além de conversar com os brinquedos dela em todas as línguas, ela pensa que o nosso português é chinês, e mesmo assim ela entende, além é claro de constantemente corrigir meu portunhol.

Habitando o mundo dos bebês, o processo é semelhante. Você magicamente entende o que os choros querem dizer, e começa a ouvir coisas dentro de qualquer barulinho produzido pelo serzinho. Poliglack soltou a matraca e agora fala sem parar, prolixo que só ele. As divergências quanto à tradução é que são interessantes. O tio "Dadá" já estava certo de que ele seria o primeiro a ser chamado, mas a primeira fala mesmo foi "avvvvvvvvvvvv", e a avó, como não podia ser diferente, já saiu contado pra todos que o netinho já sabe falar "vovó querida do meu coração", ela tem certeza.

Agora, claro como a luz do dia, foi esse semana, quando ele começou a disparar "ma ma ma ma ma" pra todo lado...o pai ficou arrasado, chega deu dó, mas, vamos encarar os fatos - seja porque o estômago está vazio, seja porque foi "ma ma" mesmo que carregou o cidadão por 38 longas semanas (nada mais merecido do que ser a primeira a ser mencionada), ou seja só porque foneticamente essa é a sílaba mais fácil sem ter ainda qualquer conexão simbólica - ma ma, é mais importante, dura e fatídica verdade. Em vão foram todas as tentativas de ficar falando "pa, pa, pa" na frente dele um dia inteirinho, o coitadinho, "Ma ma" reina soberana.

E só para constar nos autos, para o alívio de Ma ma neurótica, Princhuquinho finalmente já sabe se virar na vida, ou pelo menos no edredon colocado no chão como sua área de exercício, ou melhor, de brincadeiras. O bichinho chega suou, mas conseguiu! "Alegria agora, agora...amanhã e depois e depois e depois de amanhã" quando ele não parar mais em lugar nenhum, já não tenho tanta certeza...
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Comentando os Comentários

Márcia: Você sabe que meu estômago tem uma certa resistência extra a doces, as vezes até eu me impressiono.

Flávia: Pois é, eu já tinha ido atrás destas informações também, queria só confirmar com a médica dele, má idéia pelo visto...
O suco de maracujá dizem que o melhor mesmo é dar sem nada, nem açúcar, nem Stévia, assim eles se acostumam com o gosto da fruta, não do doce...aliás, a gente deveria fazer isso também...pra mim não rola, mas pra ele vou tentar. Quanto aos cereais encaixotados, de fato eu acho estranho a primeira comida ser de caixa, por isso já tinha até me inscrito em um curso de "papinhas pra bebê" (dadas minhas habilidades culinárias limitadas), mas queria novamente ver com a médica qual era a opinião dela e ela foi categórica em dizer que os de caixinha são melhores porque são enriquecidos com ferro, e no meu caso, que sou vegetariana (porque apesar do abuso de doces, no resto eu tento ser saudável), ele pode ter carência de ferro se não tiver um suplemento. Apesar de achar a idéia super prática, ainda não estou convencida não, como vamos estar "em casa", vou atrás de alguém por lá, qual é o seu plano alimentício pro Pacotinho de Nutrição?

Deby: Valeu também pela visita. Oxi bichinha! Você tem que experimentar Nutela, ninguém no mundo pode morrer sem experimentar, não deixe para o próximo ano, está muito longe! Mas se você nao conseguir se controlar e comer o pote inteiro, aproveite que está na Bahia e tome só água de coco no dia seguinte. Vamos pra Ilhéus, você mora onde? Parte da família do marido está por lá, aliás, o marido foi criado lá. Ai que delícia...vou comer cocada com Maracujá do Tororomba até dizer chega...pensando bem, até entendo você nunca ter provado Nutela, quem tem cocada, tapioca e até picolé de Cajá não precisa de Nutela não, viste?
Desejo muitas bençãos pra você também!!

Marquito: Olha, eu sou super a favor dessa coisa de um horário no trabalho pra ler blogs. Se quiser eu mando uma carta de recomendação, ou então a gente pode organizar uma passeata na Av. Paulista, visto que a causa é nobre. Eu já institui o meu, é qualquer hora que Princhuquinho está dormindo. Ainda bem que minha orientadora não sabe Português, porque se por acaso ela fosse comparar minha produção "bloguística"com a da minha tese...eu tava na roça!
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Cúmulos

O cúmulo da vida não tropical:
Fui à pediatra essa semana para a visita de rotina do Pimpolho. Como seria a última visita antes de ir pro lado de baixo do Equador, fui tirar algumas dúvidas:
- Ele já vai ter 6 meses, vamos introduzir cereais, será que tem problema dar também uma água de coco (já que vamos pra Bahia), só para dar o gostinho?
- Como assim água de coco?
- Sabe... coco, aquela fruta...
- Sei, sei, mas como assim água? Não conheço....
- Deixa pra lá...

Vou trazer uma de caixinha pra médica...talvez na caixinha ela entenda. E nem perguntei sobre purê de goiaba vermelha ( se é que isso existe, tudo pela goiaba vermelha) suco de maracujá...

O cúmulo da precipitação:
A alegria de mostrar o mundo dos sabores pra Comilack é tanta que fomos ao Wal Mart (pra comprar enfeites de natal) e saimos de lá com um kit completo de alimentação pra bebê. Colherzinha, pratinhos cheios de frescura e cereais pra bebê, enriquecidos com ferro, basta adicionar leitinho materno (indicado pela tal médica, esse ela conhece), achei o máximo, mas fiquei pensando...como os bebês de 6 meses se alimentavam antes?

O cúmulo da gordura:
E falando em bons exemplos alimentares, Guleiko devorou uma iguaria light do livro de receitas "Como não deixar sua mulher emagrecer após o parto", de autoria do Papai Princhuco: Kinder Ovo recheado. - Com surpresa? Não, não, porque a surpresa não é comestível - A inovação é Kinder Ovo recheado com Nutela, e pedacinhos de chocolate Lindt, que é pra garantir que mesmo as "vitaminas e minerais" vão virar banha e celulite. Para Princhuquinho - o leite já vem achocolatado. Argh!

O cúmulo do peso na consciência:
Não consegui dormir antes de correr pelo menos 30 minutos e fazer 100 abdominais, enquanto assistia "Extreme Makeover" (à 1h30 da manhã). Deve ter dado pra queimar 1/23 das calorias consumidas, mas em compensação...já sei direitinho como funciona a lipo que vou fazer daqui mais um pouco.
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Diga-me como te chamam, que te direi quem és

Um comentário no blog da Flávia sobre uso de apelidos, me fez pensar nessa questão aqui em casa.

Dizem que depois que a gente vira mãe a gente só quer falar do filho. E pior é que é verdade. Em defesa das mães que sabem falar de outra coisa (e do marido que anda sentindo-se renegado), vamos virar o disco (nossa, essa expressão vai desaparecer? Já desapareceu?) e falar do marido.
Temos aqui em casa uma certa brincadeira, que acabou virando mania. Esses joguinhos de família que olhando de fora parecem idiotíssimos, mas olhando de dentro...bem, parecem idiotas também, mas a gente continua fazendo, e achando divertido. A nossa aqui é relacionada a nomes em geral. Tudo começou com a incapacidade do marido de chamar as pessoas pelo nome. Ele sempre tem que acrescentar algo ao nome original, geralmente um sufixo ligado a algo que a pessoa fez (nossa amiga Lidiane um dia fez algo estranho e virou Lidistrangers), ou mudá-lo completamente mesmo até um ponto que nem o próprio "apelidado" não é mais capaz de lembrar o seu nome original (caso do seus amigos Gamba e Fuca, cujos nomes eu desconheço, e mesmo sob tortura jurariam que é assim que foram registrados) .

Via de regra, um sufixo carinhoso ameniza um apelido potencialmente denegridor (se é que essa palavra existe...), exemplo clásssico, sua sogra (que não por acaso é minha mãe), virou "Sogrete", a coisa pegou e todo mundo a chama assim. Seria simples, mas aí vem o desdobramento do jogo. Se a "Sogrete" está "de frescura" (em bom Bainês), ela vira automaticamente "Frescurete", ou se não entende alguma coisa, naquele dia ela é "Burrete" (e mesmo assim ela defende o genro com unhas e dentes, contra tudo e todos, ou seja, contra mim, geralmente). O mesmo princípio foi aplicado a senhora para quem demos (com todo o sofrimento do mundo) nosso cachorrinho (Lhasa-apso, com pedigree e tudo, a coisa mais fofa desse mundo inteiro) antes de vir pro Canada. A dita cuja não queria deixar eu visitar o bichinho na minha primeira ida ao Brasil, nã deu outra, virou "Baranguete" (seu nome, Arlete, e aparência física contribuiram, quem mandou regular o cachorro).

Outra versão do mesmo jogo é manter o final do nome original e trocar o começo por um adjetivo. Meu irmão mais velho, "Idiotilson", sempre se embanana tentando entrar no jogo, o pobrezinho, acaba sempre soltando um "ImbeciliKeiko" quando o correto seria "Imbecileiko", não é a toa que este é o seu nome de guerra (mas não se enganem, a gente se ama). O mais novo por sua vez, no auge da sua adolescência e da completa "falta de noção" em situações variadas, virou "Noçailson", que mais tarde sofreu a influencia do anglicismo e virou apenas "Notion". Pessoas legais ou chatas (segundo o critério dele, o que não quer dizer que as mesmas não estejam entre nossos melhores amigos) podem ganhar um simples "le" ou "cha", caso do "Tile" e sua esposa " Nycha" - porque os opostos se atraem (e Nycha é minha melhor amiga de infância, o que me faz também Keile - e isso vai me render um comentário malcriado em sua defesa, certeza).

A única regra realmente importante do jogo, é que o apelido não pode ser de todo simpático, muito menos piegas, do tipo "Meu bem". Foi por isso que ele se acabou de rir quando viu outra amiga chamando o namorado (hoje noivo) de Príncipe. É claro que eu não perdi a oportunidade e comecei a chamá-lo de Principe também, nao só chamei como coloquei uma faixa enorme no escritório dele em um aniversario, com letras garrafais: "Principe: Feliz Aniversario!" , foi ótimo, o pessoal do escritório até hoje o chama de Príncipe. Por causa de chatices dele (que eu amo) ajuntei um "cha" ao Principe, que virou "Princha", e para amenizar, virou " Princhuco". Dentro do mesmo padrão provocatico, eu que era "Tia Teto" (chamado pela minha sobrinha que não conseguia falar o "K"), atualmente virei "Tia Tetôncias", não é difícil entender o porquê, dada minha proeminente comissão de frente, responsável pela alimentação de "Esfomiack"- mas isso não é motivo para escapar do codinome.

E foi assim que o mais novo membro da família não podia ficar de fora, filho de Princhuco, Princhuquinho é (já fiz referência ao Princhuquinho em outros posts sem nem explicar o porquê...não que alguém tenha notado, mas enfim...fica explicado), e é o bebê de 5 meses com mais apelidos que eu já conheci. Não seria ruim chamar um bebê de Princhuquinho, soa carinhoso, não conhecendo o histórico. Mas é claro que o pai não se contenta. O menino já tem nome que é apelido por si só (Zack), não sendo suficiente, o pobrezinho é frequentemente chamado de "Caga-cebo" quando bom...caga cebo (é assim que chamam o número 2 na Bahia, explica o pai-canadense-criado-na-Bahia, pensando que justifica-se), "Zé Bogola" quando fala coisas que ninguém entende (ou seja, o tempo todo - lembrando, o bichinho acabou de completar 5 meses), "Pisquileto", em momentos de ternura, "Tio Arnóbio", quando começou a ficar careca como um falecido tio, "Japoronguito", em referência aos genes que herdou de mim (ainda que atualmente eles sejam quase imperceptíveis, até pálpebra o moleque tem! - essa só quem é japonesa, e sempre quis passar sombra na pálpebra, sem sucesso, pode entender), "Zackolino" e muitos outros que são criados de acordo com situações variadas. Já não basta a confusão que o menino vai ter entre tantas línguas, ainda vai ficar confuso sobre qual é seu nome, porque até hoje, tenho certeza que ele ainda não sabe que quando alguém chama "Zack", a coisa é com ele.

Xii...rodei, rodei, rodei, e acabei falando de quem? É...parece que o mal é mesmo inevitável, "Mamãe Teto" aqui só sabe mesmo falar do seu "Pimpolhack".
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Faz 5 meses...

que alguém se alimenta de mim,
que as manhãs são cheias de sorrisos,
que o que eu mais adoro na vida tem menos de 70 cm,
que eu já tenho antipatia de nora
que ouço mais conselhos do que ouvi minha vida inteira,
que eu doaria um rim, um braço, um olho, ou até dois pra alguém sem pensar duas vezes,
que vídeos, propagandas, fotos e pensamentos sobre crianças me fazem chorar,
que posso conversar por horas com alguém que nem sabe falar,
que não preciso de ocasião especial pra tirar fotos,
que compro roupas pelo numero de meses (que nunca são certos mesmo),
que fico toda boba quando recebo elogios que não são pra mim,
que eu me sinto magicamente conectada a qualquer pessoa que tenha um filho,
que faço planos mirabolantes para os futuros de outrem,
que adoro ter alguém dormindo em cima de mim,
que sei que horas são pelo horário de mamadas e sonecas,
que escolhi assinar "Today's Parents" e não "Cosmopolitan",
que meus genes não são só meus,
que me preocupo sobre como meus hábito e conceitos podem influenciar outro,
que conheço todas as marcas de fraldas descartáveis do mercado,
que o meu colo é consolo certo,
que não somos mais um casal, mas uma família,
que me pego olhando pra alguém e sinto um amor que de tão grande não cabe,
que sinto que o tempo esta passando rápido demais e já penso na alegria de ouvir "mamãe" , mas na tristeza de ouvir "tchau"...

Faz 5 meses...que eu sou mãe!
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Fogo!

(Aha! Arranjei uma nova técnica para acentuação, etc. Copiei o texto no gmail e coloquei para corrigir, mas ele não reconhece todas as palavras... bom, pelo menos os cedilhas e alguns "tils" já melhoram a carinha do texto)

Vivi 24 anos no Brasil e nunca ouvi um alarme de incêndio. Carro de bombeiro então, só quando eu fui visitar o corpo de bombeiros com a escola lá pela 2a série do primário (hoje ensino fundamental...credo, quando as coisas começam a mudar de nome eh sinal que a idade vem chegando)

Pois bem, estando aqui em Montreal há apenas 1 ano e meio já passei por 3 alarmes de incêndio. Me parece que a situação aqui eh meio incineraria mesmo, já que a maioria das construções eh de madeira, pra reter o calor. Por sugestão de um amigo guardamos os documentos e coisas importantes em uma caixa "a prova de fogo" no caso de voltar pra casa e não ter mais casa. Ironias de primeiro mundo (primeiro mundo eh outro conceito que mudou, não? bom, deixa assim que todo mundo entende), vc tem uma caixa prova de fogo, mas dificilmente precisa de uma a prova de roubo. Ou então, deve ser porque as casas e apartamentos tem detector de fumaça, que por sua vez dispara um alarme de incêndio por qualquer fumacinha (vindo de uma frigideira ou qualquer coisa esquecida no forno, o que acontece frequentemente aqui em casa, já até tirei a bateria do me detector).

O primeiro alarme de incêndio foi pra mim realmente...digamos...alarmante. Estava na faculdade, no meio de uma prova de estatística quando o alarme soou. Verifiquei se não era a fumaça saindo da minha cabeça que tinha causado o tal disparo, não era. A professora, revoltadissima foi logo avisando: as provas serão recolhidas e canceladas, venham preparados na próxima aula para fazer outra prova - droga, e eu crente que poderia "conferir" algumas questoes no livro. Pega casaco, cachecol, gorro, luva, mochila e sai aquela boiada. Eu era aparentemente a única apavorada, fingi calma, pra não dar bandeira da minha inexperiência incendiaria. A cada andar alguém com coletinho da brigada de incêndio orientava: sem pânico, continuem descendo, estando no 11 andar não parecia a melhor ideia do mundo, mas como não havia opção... Chegando lá embaixo, aquele frio de sei lá quantos abaixo de zero, procura fumaça aqui, procura ali e nada - era soh treinamento. Fala sério! Bem que eu tinha achado estranho a galera com o cronometro na mão, mas achei um abuso! Se pelo menos eu estivesse na biblioteca que fica no 3 andar...

No segundo alarme eu já estava no prédio que moro hoje, a Vila Olimpica, que hospedou atletas e delegações nas Olimpiadas de 1976. Pela conveniência do predio (tem supermercado, farmácia, banco, cabeleireiro, biblioteca e tudo mais que vc imaginar dentro do prédio) hoje habitam aqui basicamente velhinhos, facil entender porque o nosso bebezinho faz tanto sucesso por aqui, ele não eh um bebe, mas O bebe, quem nunca viu, já ouviu falar. Mas enfim, estava eu sozinha com o tal bebe (que dormia) quando o alarme disparou. Já estava vacinada, logo lembrei do treinamento, mas quando sai na sacada, em menos de 2 minutos, la vinham eles, os moços do calendário em seus carrinhos vermelhos, e todas as pessoas dos andares comerciais já fora do prédio - pânico. Me deparei com uma questão quase existencial (ou pelo menos dessas de testes de auto-ajuda): se pudesse salvar só X coisas de um incêndio, o que salvaria? (se pelo menos fosse a da ilha deserta...pra essa eu já tinha resposta pronta). De um item eu já tinha certeza, era o bebe, o que só me deixava com uma mão extra. Pensei no carrinho - não pode, elevadores bloqueados. Acorda o bebe, coloca no canguru, bendito canguru, pelo menos tenho duas mãos, ainda bem que eu escolhi o apartamento do 4 e não do 20 andar. Bebe pronto pra partida, e agora o que pegar? O lep top com o protocolo da tese e todas as fotos, definitivamente, e...fotos, o álbum do casamento, lua de mel? Qual será o mais importante?? A caixa dos documentos - a não, essa eu posso deixar, eh a prova de fogo, mas e se não for? Nunca testei, e eu que não sou louca de queimar meu passaporte e ter que ir naquele consulado tentar tirar outro - mas a caixa eh pesada, abre a caixa, pega só os documentos, enfia na mochila junto com o lep top e o álbum do casamento - melhor deixar as mãos livres, vai que algum velhinho precisa de ajuda (em um momento solidário) - danem-se os velhinhos, vou mesmo eh pegar os outros álbuns, pq de tudo, as fotos são as únicas que não tem como conseguir outras, os velhinhos vão conseguir se salvar (agora que eu nao morri, talvez deveria trabalhar essa questao um pouco egoista). Tudo pronto pra correr, tchau moveis, tchau souvenirs de viagens, tchau roupas queridas, tchau porco rosa (difícil de explicar, mas eu tenho um porco rosa gigante na sala...), no auge da minha despedida de todos os objetos da minha vida, escuto uma voz vinda do interfone na sala: os bombeiros localizaram a razão do alarme - um defeito em uma das chaves do sistema. O pior eh ficar com raiva porque sua casa NÃO pegou fogo.

A terceira vez foi hoje (motivo do post - agora tudo faz sentido). Lá pelas 6 da madrugada (sim, porque pra quem dorme as 3, 6 eh o ápice da madrugada), tudo escuro, dispara o alarme. O marido que não tinha passado por nenhum ainda, levanta assustado, a mãe no quarto ao lado idem, o bebe chora, já eu...nem me dei ao trabalho de abrir o olho. Dessa vez era incêndio mesmo - que nada (mas que ia ser um bom fim, isso ia ) - alguém tinha esquecido o pão na tostadeira ou algo do tipo que eu nem escutei direito pois já estava dormindo de novo, sonhando com os bombeiros.
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A primeira noite de um homem e outras

Extra!Extra!Extra! Princhuquinho dormiu 8 horas seguidas nesta noite! Achei que estava sonhando quando escutei o chorinho, olhei no relogio e eram 8h30! A tatica foi simples, o domingao cheio de compromissos sociais e ele nao conseguiu dormir sua soneca da tarde, logo, foi chegar em casa, banho e cama! Nem lembrava mais como era dormir 8 horas seguidas, te digo, eh bom!

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Ai meninos... -filha do meio com 2 irmaos, sei bem as agruras de se ter meninos por perto, qualquer coisa era motivo pra competicao, ateh corrida de gota de chuva rolava. Confesso que acabei incorporando o espirito (jogar imagem e acao eh quase sempre sinonimo de discussoes acaloradas)
Mas bem, eu acho q sou uma das unicas pessoas no mundo que realmente gosta de cha de bebe, e todas as brincadeiras idiotinhas que o acompanham. Nesses dias modernos quando os homens participam de chas de bebe...estavamos hoje em um desses eventos, todo mundo tinha uma chupetinha e quem falasse a palavra "bebe" perdia a sua para a pessoa q ouvisse. Enquanto a maioria das mulhere nem lembrava disso e nao exitava em comentar sobre "o bebe" os homens massivamente bolavam estrategias pra conseguir o maior numero de chupetas possiveis, ateh surrupiar as chupetinhas guardadas pela organizadora estava valendo. Mas eh claro que se questionados, vao dizer que nao se divertiram. Nao ha modernidade que mude algumas coisas, penso eu... com um homenzinho dormindo logo ali...

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Nao parece possivel, mas existem vantagens de se viver em um mundo sem baba nem empregada. Uma delas, as tarefas domesticas e parentais sao realmente partilhadas. Faz seculos que nao varro o chao e fiquei contentissima de ver em um centro de compras a plaquinha mostrando que no banheiro masculino, tambem tinha trocador. Soh nao fui conferir se tinha tb o kit basico de troca de fralda para o pai (pelo menos o daqui): 1 rolo inteiro de papel higienico (vc se pergunta, papel higienico? - Respondo - sim, papel higienico, para colocar embolado sobre o piu-piuzinho, pra evitar que o jato poderozissimo e fatal de xixi te atinja durante a troca), 15 lencinhos umedecidos (aos que nao tem filhos, uma pessoa normal- leia-se, mae- gasta uns 3), 1 tubo inteiro de hipoglos (e olha que o hipoglos vem do Brasil). E nao ouse tentar explicar que nao eh assim, se nao quiser ouvir a reposta obvia: entao troca vc!
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Fofuras mil

Fofurinha da Estrela (da epoca que para o boneco fazer xixi "de verdade" tinha que apertar a barriguinha) aqui de casa esta mesmo cada dia mais fofo, se eh q isso eh possivel...e nao, eu nao sou uma mae coruja, se trata da realidade.

A mae terapeuta, neurotica como se pode ser, anda preocupadissima porque com 4 meses e meio, Fofurinha ainda nao rola, acho que eh um pouquinho de preguica, ele vai ateh a metade do percurso e desiste...ai volta. E nao ha estimulo terapeutico q o convenca, mas tudo bem, cada crianca tem seu ritmo, nao existe um padrao, jah dizia uma terapeuta que eu conheco, pra todas as maes neuroticas de pacientes...essa gentinha!

Nao rolacoes a parte, as novas aquisicoes: a outrora simples e calma tarefa de mamar virou uma luta contra os estimulos do ambiente. Qualquer fonte luminosa, voz, barulho e ateh o espirro da mamae eh motivo pra parar tudo, procurar a fonte, sorrir, comentar o assunto e soh depois, com sorte, voltar a mamar. Se o tal distrator for muito interessante, a fome ateh passa. Jah se a mae estiver com pressa por qualquer razao, a fome nao passa, e o tempo pra retornar pra mamada eh maior, sob risco de protestos e ateh mordidas (por enquanto desdentadas, mas temos q trabalhar nisso - ideias?)

A segunda grande aquisicao de Fofurinha foi a descoberta do espelho. Ele ateh jah andava desconfiado que tinha alguem dentro daquela coisa brilhante, mas foi soh essa semana que ele descobriu quem era. Agora se delicia apreciando aquele ser fofinho do outro lado. Olha soh que beleza, quem precisa de um irmaozinho se jah esxistem varios bebezinhos pela casa, que conversam quando vc conversa, riem quando vc ri, esticam a mao pra te pegar tb, fazem bolinhas de baba, dao risada...e ainda por cima, nao estragam seus brinquedos! (Vantagens de ser irma do meio, estragava os brinquedos do mais velho e o mais novo era muito novo ateh pra dar ciumes...amo meus irmaos! )

O lado "ser-social" de Fofurinha tb esta em alta. Abre o sorrisao banguela pra qualquer pessoa, conhecida ou nao, que olha pra ele. Se conversar entao, as chances sao grandes de se ouvir uma gargalhada. Pela mesma razao todo mundo sente-se impelido a pegar Fofurinha no colo. Em meio a conhecidos, as vezes fica ateh dificil pra achar depois (alguem viu um nene por ai? Ele eh assim fofinho, meio galeguinho, semi-careca e nao anda!), ou em caso de estranhos (nao na rua, vale explicar - estranhos em ambientes familiares - pra ninguem achar que eu sou maluca o suficiente pra deixar qualquer estranho no elevador pega meu nene), a mae se depara com o dilema: deixa ou nao deixa pegar, e se deixa, o desespero toma conta e a vigilancia eh tanta (tem gente que acha que soh pq o nene jah esta "durinho" nao precisa apoiar as costas, e jah pode tomar coca-cola) que o estranho finalmente se convence que nao eh legal ficar querendo pegar o nene dos outros.

Mas ando mesmo ansiosa pra ter aquelas historias fofissimas de falas e feitos de crianca pra contar...enquanto nao tenho as minhas, conto a dos outros:
Da sobrinha do marido (que eh minha sobrinha tb) lah pelos 6 anos:
- Mae, compra uma mochila do Power Rangers pra mim? (Confesso que nao lembro quem era o personagem, mas sei que era alguma dessas coisas de TV, de qualidade pouco duvidosa que as criancas tendem a adorar)
- Nao filha, vc sabe que a mamae nao gosta que vc assista essas coisas, entao nao eh bom ter mochila tb.
- Entao compra uma mochila da Xuxa? (Partindo do mesmo principio)
- Nao filha, vc sabe que a gente nao assiste essas coisas...
- Ah, entao compra uma mochila do Jornal Nacional!
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Sem Licença

Aqui no lado de cima onde o "welfare state" faz um certo sentido, a maioria das mães, sendo trabalhadoras, podem gozar de 1 ano inteirinho ao lado dos seus pimpolhos. Pais também podem usar parte deste tempo, aliás, eu ousaria dizer, com um certo medo de ser apedrejada em praça pública, que pais por aqui fazem (ou ao menos têm a oportunidade de fazer) quase tanto quanto as mães, mas isso é assunto pra outra conversa.

Parecia boa escolha não trabalhar e só fazer mestrado enquanto começa a procriação (o pai quer 5...a mãe nem tanto). Minha supervisora até me advertiu: tire uma licença, mas não...quem precisa de licença se todo o trabalho pode ser feito em casa? - Aparentemente, qualquer um. E agora cá estou eu a procurar os meus apetrechos de super-heroína, mas só acho roupa suja de bebê. Na verdade não estava querendo abrir mão da bolsa. Licença maternidade de trabalho é paga, de estudos, não.

Com essa de mestrado e filho, a rotina aqui em casa virou literalmente, de cabeça pra baixo. Eu sempre fui fã do "deixe para amanhã o que você poderia fazer hoje, mas deveria ter feito ontem", mas agora as consequencias são mais drásticas e me vejo atolada entre textos e chocalhos enquanto os prazos vão passando e os outros (da unviersidade, não do Lost), mesmo que solidários à minha condição maternal, querem o trabalho feito. Enquanto o bebezinho tira o cochilo da tarde, a mamãe liga o computador para acessar as bases de dados e redigir seu artigo, mas num passe de mágica, subtamente já está escrevendo blog (e até mudando o template, redundâncias a parte, aquele preto estava muito "dark"), lendo blog, lendo sites de tudo o que há sobre bebês e afins...e tese que é bom, nada. E ao menor "hã" do bebê, a mamãe sempre alerta já está lá, sem exitar. Entre uma brincadeira e uma musiquinha a mãe até tenta fazer alguma coisa, mas quem consegue trabalhar com um alguenzinho tão gostoso olhando pra você?

"Passa tempo tic-tac, tic-tac passa hora" e o novo horário de funcionamento aqui em casa é das 23h - 3h. Esse é o horário mágico quando o bebê dorme consecutivamente e a mamãe finalmente já leu tudo o que tinha pra ler sobre o mundo dos bebês e pode começar a trabalhar de verdade. Enquanto isso o papai, que também está de "auto-licença", faz companhia, confere os erros de formatação, formata bibliografia e até canta. As 3 em ponto, bebê acorda pra mamar, é o sinal de que chega de trabalho, todos pra cama e o dia recomeça as 11h da manhã.
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Aconselhamento Gestacional

Hoje fui visitar um casal de amigos, tambem brasileiros, gravidos de 4 meses. Me senti A especialista, e nao foi pelos conselhos de terapeuta ocupacional que eles queriam por conta de uma suspeita de toxoplasmose, mas sim pelos simples conselhos de mae. Embora as vezes eu ainda me surpreenda com a ideia de que sim, eu sou mae, nunca pensei q em 4 meses eu tivesse sido capaz de acumular tamanha experiencia maternal.

Fui logo falando que esse negocio de enxoval, jah me disse minha sabia vozinha de 88 anos, eh coisa do tempo em que se confecionavam as roupas da crianca, hoje em dia q vc vai a qualquer loja e compra tudo pronto, nao ha a menor necessidade de se ter 429 roupinhas, mantinhas, casaquinhos e outros tantos "inhos" e "inhas" dos quais vc acaba usando metade.
Princhuquinho aqui com 4 meses jah tem um saco de roupas gigante pro irmaozinho (aos exaltados acalmem-se, o irmaozinho nao vem tao cedo). Me parte o coracao colocar de lado um macacaozinho (mas q mania de colocar tudo no diminutivo, soh pq eh de nene!) que soh foi usado 1 vezinha (e olha o diminutivo), ou pior, nenhuma - pq a mamae aqui tem um certo probleminha de organizacao e esqueceu o macacao guardado - mas a galera nao perdoa, e soh pq o nene nao consegue esticar a perninha dentro do macacao, jah acham ruindade. O pai nao se conforma, mas tem dias q eu troco a roupa dele (do bebe, nao do pai) umas 3 vezes, soh pra dar a(a) roupa a chance de ser usada. O marido da amiga adorou o conselho e jah foi logo agradecendo a economia q a nossa visita renderia, jah que a esposa jah estava, como toda boa gravida, avida pela colecao inteira da baby GAP.

As dicas tb passaram pelas roupas de gravida (minha maior alegria foi uma calca jeans com elasticao q segura a barriga, para q a mesma nao caia, sensacao q soh quem jah esteve gravida pode entender...) e pelo meu voto contra sutia de amamentacao, completamente descenessario ao meu ver.

Tambem falamos da luta por encontrar uma vaga em creche por aqui, e que portanto ela deveira colocar imediatamente o bebe na fila de espera (esse eh brasileiro mesmo, nem nasceu e jah nao pode ver uma fila...), dos esquemas pra fazer o serzinho dormir (travesseiros na frente e atras, coloca de bruco, depois vira de frente e vixe...) e muitas outras coisas q ateh pensei em escrever aqui, mas agora deu preguica...eh, pq mae tem preguica tb, e amanha eh segunda feira...nao que isso tecnicamente faca muita diferenca jah que hoje eu deveria ter trabalhado tanto quanto amanha - mas isto eh assunto pra outro post.

E como nao poderia ser diferente, na lista de conselhos da expert, o conselho mais importante:
"nao ouca os conselhos de ninguem, ou melhor, ateh ouca, mas siga mesmo o seu coracao, a sua intuicao e a sua paciencia, o resto, para sua sanidade, ignore".
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Comentando os comentarios

Aprendi com a Flavia (irma gemea separada no nascimento que acabei de descobrir - isso renderia um bom " Porta da Esperanca" , nao? Ou era no Faustao? Gugu? Bom, qqer coisa dessas super bacaninhas q fazem do domingo a tarde o melhor momento para nao assistir TV) , a responder comentarios atraves de posts.

Entao lah vamos nos:

Flavia:
Eu sempre imaginei q tinha uma irma perdida por ai, isso resolve metade das minhas frustracoes infantis de soh ter irmaos. Alias, vc sabe, eh por sua causa q esse blog existe, depois q li o seu, logo pensei: se minha outra metade (em um sentido fraternal, e nao lesbico, melhor explicar...) tem um blog, eu tb posso ter! Sou fa absoluta do seu 'estilo literario' humoristico!
Quanto a certidao do seu pacotinho, extendo minhas condolencias eh boa sorte... acho q eh tudo q se pode dizer. Pior eh q eu ouvi dizer q a partir de nao sei quando (uma informacao bem precisa, como vc pode notar) as ccas nascidas fora do Brasil, mesmo com pais brasileiros, tem q optar aos 18 anos por uma cidadania apenas! Jah pensou, toda essa dor de cabeca e o bichinho ainda vai ter q escolher... no seu caso por uma entre 3! Eh, a vida eh uma grande prova de multipla-escolha...
Valeu pelo apoio moral...meu computador agora deu pra desligar sozinho, a gente nao se entende muito bem mesmo, se eu nao sei nem colocar acentos, quem dira links, fotos, foruns...
Mas estava aqui pensando, para quem quiser entretenimento mesmo, sugiro ter um bebe, eh entretenimento garantido pra vida inteira!

Dani: Que bom q os passaportes estao na mao...espero q os nossos cheguem logo, afinal, jah diria o Chico, a gente "tem razao de fugir assim desse frio!" Pena q eh pra ver Sampa, e nao o Rio de Janeiro...mas qualquer temperatura positiva jah serve de consolo!

Marcia:
Xiii, vc me pegou! Por favor, nao conte pra ninguem sobre a minha nacionalidade, nao agora q eu to enganando todo mundo dizendo q eu vou pro Brasil, qdo na verdade soh vou ficar uns dias dormindo em casa...

Ti: perdi a chance de usar o meu novo vocabulario Tagalog, cabulei a aula de frances ontem...mas foi por uma boa razao: o Zack pediu pra eu ficar...serio! Eh isso q acontece qdo o sol se poe as 4h30 da tarde...qualquer compromisso 'a noite' nao eh apropriado para uma mae de familia.

Ny: pq os ultimos serao os primeiros...deve ser por isso q a menina me falou q o nome da lingua eh Tagalo, e nao Tagalog...ela soh sabe falar ingles!