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Pequenas felicidades imensas

Coisas que aquecem o coração nestes dias de agradáveis -25 e deixam a mãe abestalhada e saltitante como a Novissa Rebelde no alto da montanha, o canto da boca com aquele sorriso maroto de quem sabe que não precisa de mais nada na vida, e a necessidade de ter uma câmera que registre esses momentinhos que não são parte do roteiro principal, mas que são os que realmente fazem o filme perfeito:

1. Enquanto eu cozinho, os dois filhotes brincam de pular no sofá, o de 6 anos criando um circuito super divertido que passa pela floresta, tem ponte e desafios como monstros e dragão e um bocado de outras coisas interessantes que só se acha na sala daqui de casa. A de 3 anos, presta atenção nas instruções como quem reconhece que sua vida depende de seguí-las, e os dois partem, rumo ao poço das almofadas misteriosas, o desfiladeiro do piano assombrado, a escada... e morrem... de tanto rir quando os dois caem no tapete e se abraçam, e rolam. Amor de irmãozinhos, coisa ímpar, embora par :)

2. Enquanto jantamos, a mãe perde a paciência com uma certa mocinha de 3 anos que não tem problema nenhum em consumir uma mesa inteira de brigadeiros de copinho (vamos reconhecer: e porque alguém teria problema com isso? Mas enfim, criança tem que comer coisa ruim, todo mundo sabe, e esta é a mesma menina que outro dia falou do nada que estava com muita vontade de comer aspargos), mas que de uns tempos pra cá decidiu gastar pelo menos 3 horas pra comer o menor prato de comida. A mãe decide adotar uma posição mais radical e anuncia que ela não precisa comer, mas também não vai comer mais nada. Ela chora, faz drama, diz que é pequenininha e clama então pelos seus direitos (aqueles que poderão, e serão usados contra ela no tribunal) de alguém alimentá-la. A mão por um fio, quando o irmãozão, aquele magricelo bom de garfo que nunca na vida deu trabalho pra comer, em um claro surto de maturidade e bondade que são só dele vira pra ela e fala:
- Tá bom, Nina, eu vou dar pra você... mas vixe! O que é isso? Ah, vou ter que avisar pro XXXXX (um nome engraçado que SEMPRE a faz rir quando pronunciado por ele) que essa menina não quer comer.
Bingo, ela passa do choro pro riso, come a comida toda e ele ainda vira pra mãe e diz:
- É só fazer ela rir, né mamãe? Viu só, se ela fica feliz ela come tudo!
Posso com isso? Não posso! Juro que eu não fiz nada tão bom assim pra merecer!

3. Fazer biscoitinhos com eles, pro papai que chega amanhã. Sério mesmo que poucas coisas nos conectam tanto como cozinhar juntos. Ver uma mãozinha gorda toda orgulhosa porque agora "que eu tenho 3 anos", já consegue quebrar os ovos sem deixar cair pedacinho de casca na massa. A farinha por todo lado, o fato de o menino de 6 saber que pra fazer bolo precisa de um pote pros "secos"outro para os "molhados", medir, pesar, peneirar e a familidariedade com tudo isso.

4. Jogar "Qual é a música"com assobio. Ver um menino de 6 que em questão de semanas passou de "conseguir assobiar"para um profissional do ramo, e a de 3 que tenta acompanhar no que é só um sopro no início pra "Mamãe eu conseguiii!!!! Olha, olha! "fazendo um assobio fininho...

5. O tal do menino de 6 anos que desce correndo do carro na garagem e vem abrir a porta do carro para a mãe falando:
- Madame, por favor... ladies first!
- Ai que lindo, filho, que cavalheiro.
- É porque este é o mês da "não-violência"na escola, e nós estamos aprendendo que tem que ser gentil, ajudar, amar os outros. E hoje é o dia das "filles d'abbord", mas amanhã é dos meninos!

Eu sei lá, eu adoro escola, adoro ver as descobertas da escola sendo trazidas pra casa, e ponto pra escola pública que pode falhar aqui e acolá na matemática e na ciência, mas que tem um programa de filosofia e cidadania realmente exemplar, ainda que laico.

E depois de uma sequência de acontecimentos assim não tem como a gente não pensar que a vida é bonita e é bonita.