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Jeux d'enfant

Musicack gosta muito de música, mamãe gosta de música então todo mundo fica feliz quando chega a hora dos concertos infantis da OSM.

Uma série feita para crianças, com música clássica e contemporâneas (de Puccini ao tema do E.T., de Aleluia de Handel ao tema do Harry Potter), orquestra boa, regente bem-humorado, sketches de teatro entrecortando as músicas e fazendo a criançada rir, programa perfeito para um domingo de neve e calor de -2.

Depois do concerto na ótima companhia dessa moça e seu nenezinho sorridente, fomos jantar na casa de amigos onde o Calmack se transformou em Monstrack na companhia dos outros dois meninos mais velhos (de 4 e 7 anos), que me fizeram mais feliz por estar esperando uma menina, e não outro menino, porque três meninos, ainda que muito calmos, quando juntos realmente não fazem combinação exatamente pacífica. Mas enfim, chegamos em casa todos felizes e cansados. Instrumentack decidido a tocar contra-baixo, mamãe satisfeita por ter saído de casa um dia inteirinho.

E aí chega segunda-feira e eu me pergunto: Mas já?
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Big Brother

Não, não, eu não vou falar sobre aquele programa insuportável que está na milésima edição no Brasil e que eu não consigo acreditar como no mundo as pessoas ainda assistem.

Mas enfim, a medida que a pança vai crescendo, vai ficando mais evidente que alguém vai chegar em casa e roubar o centro das atenções de um certo menininho. Não duvido que crise de ciúmes surgirão, mas por enquanto, essa coisa de irmãzinha anda super pacífica e fofinha.

Papito trouxe uma camiseta escrita: "Big Brother" e um bodyzinho escrito "Little Sister" (todo cheio de glitter e lacinhos). A princípio, mamãe pergunta pra Primogenitack:
- Você sabe o que está escrito aqui?
E ele, muito literado vendo dois Bs, do nome da Dinda Bianca, solta sem dúvida:
- Bianca e Bianca
- Não filhinho, o B de Bianca é também de "Big Brother", você é o "Big brother"da irmãzinha!
- Blig Blother! É o nenê!
E agora todas as camisetas que ele coloca e que tem alguma coisa escrita Cebolack faz questão de ler todo prosa:
- Olha, tá esquito Blig Blother!É eu!

Outro dia, indo pra piscina com os tios, encosta na barriga e pelo umbigo (todo mundo sabe que o umbigo é o canal de comunicação entre a irmãzinha e o mundo externo) pergunta:
- Qué ir pra piscina irmãzinha?
Coloca o ouvido no umbigo, faz cara de quem está realmente ouvindo algo, vira pra mim e diz:
- Ela não qué. Vamo embola pessoal!

Ontem chegou da escolinha todo eufórico e como eu estava no computador, ele quis assistir o vídeo preferido no "You tube" que ele assiste acompanhando com uma performance impagável (porque criança que é criança hoje em dia já nasce com videos favoritos do youtube, email, facebook, orkut...eu, hein? ). Eu saio da cadeira, fico de pé atrás dele que, preocupado, vira pra mim, levanta minha blusa e abrindo meu umbigo fala:
- Vou abir aqui pá imãzinha ver também.

E eu que nem sabia de todos esses super-poderes concentrados no meu próprio umbigo.
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Pelas escolas públicas brasileiras



Há uns muitos posts atrás eu tinha tido a idéia de escrever sobre um assunto "sério" e com pretensões de utilidade pública toda segunda-feira. Pessoa tão séria que sou, meu plano durou exatamente uma segunda-feira. Mas enfim, nunca é tarde pra retomar o projeto, nem que seja só por mais uma vez, já que recebi um email que vale a pena comentar e colocar na mesa.


Eu sempre estudei em escola particular. Minha mãe dava aula em uma, logo, não pagávamos mensalidade. Mas a mais assustadoras das ameaças vinha do meu pai, dizendo que se algum dia a gente tirasse nota vermelha ou repetisse de ano iríamos direto pra escola pública que ficava a dois portões da nossa casa. Acabou que passamos a vida na escola particular mesmo, pública só a faculdade, como acontece com a classe média no Brasil, mas o medo de ir pra escola pública existia porque mesmo?

Um dos meus estágios da faculdade foi em escolas públicas, implementando a inclusão escolar de crianças com necessidades educativas especiais, e aí eu entendi. As escolas públicas são muito ruins. Minha cunhada é professora da rede pública em Brasília e diz que por lá é diferente, as escolas públicas em sua maioria ainda são melhores do que as privadas. Não sei no resto do país, mas em São Paulo a coisa não é boa não. Então achei genial a idéia do Cristovam Buarque, aliás, o moço tem muitas boas idéias, acho um exemplo de político que sabe pensar na minoria (em poder) que é maioria (em massa) e em idéias que podem ser muito efetivas, principalmente para a educação.

O projeto de lei que ele apresentou (e que não sei há quantas anda) propões que todo político eleito (veradores, prefeitos, deputados, etc) sejam obrigados a colocar seus filhos em escolas públicas. A medida visa, obviamente, tocar diretamente no que todo mundo tem de mais precioso, seus filhos. E, se os políticos não pensam na educação pública de qualidade como direito do povo, então que pensem como direito dos seus filhos. Achei genial. Tomara que dê certo.

Aqui no Quebec existe um grande debate sobre público e privado, tanto para a saúde quanto para a educação. A educação pública é acessível a todos, mas minha experiência, trabalhando também com inclusão tanto em escolas públicas quanto privadas, diz que, como no Brasil, existe uma diferença enorme no nível de qualidade, mas minha experiência se restringe ao sistema anglofono, dizquem que do lado francês a situação é melhor. Para meu filhote Estudantack que deve adentrar o sistema escolar em um ano e pouco (aos 4 anos) estou considerando todas as opções, mas por enquanto, minha tendência é o privado. A diferença é que mesmo o privado é subsidiado pelo governo, então você não tem que vender a casa, o carro, a mãe e o papagaio para pagar as mensalidades. Uma escola muito chique e cara custa em torno de $500/mês, e vai ficando mais barato a cada ano, me disseram. No Brasil eu já ouvi falar de mensalidade de escolinha pré-maternal por R$1200/mês. Cruzes! Haja guache pra justificar uma criança de 2 anos usando esse dinheiro todo por mês.
Outro dia discutindo com um amigo chegamos a conclusão que a escola, enquanto instituição é só um complemento à educação da criança. Principalmente no ensino fundamental, o caráter dos pais, o exemplo e o ambiente proporcionado em casa fala mais forte, de modo que mesmo uma educação "fraca" pode gerar crianças brilhantes. Ninguém duvida que muitos expoentes surgiram dos meios mais inóspitos e muitas vezes, até sem alguma educação formal. Mas mesmo assim, podendo escolher, é difícil querer arriscar o futuro dos nossos serzinhos.

E vocês, o que acham disso tudo?

O projeto completo do Cristovam Buarque pra quem quiser saber mais.






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Venturas de uma grávida de risco

Eu sempre fui muito contra frescuras gestacionais, ou melhor, gestantes fresquinhas. Esse papo de não pode carregar peso aqui, não subo a escada alí, não como isso, cuidado com aquilo, nunca fez muito meu gênero. É claro que existem momentos em que a regra cai e se torna imprescindível fazer um charminho, pra usar filas preferenciais (no Brasil, porque aqui no primeiro mundo grávida é gente normal, um absurdo) ou abusar um pouco do marido e dos amigos mais próximos, mas isso é outra coisa, não é frescura, é abuso puro e simples mesmo. Há de se tirar vantagens dessa pança imensa que você carrega por 10 (e não 9) meses.

Na primeira gravidez meu estilo me caiu muito bem, caí na neve, trabalhei até o fim da gestação, tudo nos conformes. E decidi que queria ser assim mesmo pela(s) próxima(s). E foi que foi e não deu pra ser. A tal da placenta baixa aliada a diabetes gestacional me colocou automaticamente e sem opção na categoria de "grávidas com frescuras".
Eu adoraria estar de repouso e não ter que fazer nada. Do tipo, acordei, tragam meu café e o controle remoto porque hoje eu tenho que assistir todos os capítulos de Eli Stone, Grey's Anatomy e Lost enquanto como um pacote de Passatempo Recheado tomando Todynho. Ou então: "Aparecida, pegue Zackolino, traga aqui pra eu fazer um chamego, depois dê banho, troque de roupa, dê café da manhã e leve pra escolinha, quando você estiver voltando passe no supermercado e depois limpe toda a casa" -ah! Como é bom sonhar. Porém, contudo, todavia, entretanto, a realidade é que eu tenho que fazer um bando de coisas que já estavam no cronograma muito antes da tal placenta e ainda por cima, sem direito a chocolate. Ficar de molho é triste, não poder ir pra academia?? Deprimente! (e parem de rir aí, ano passado eu paguei o ano inteirinho e fui várias 5 vezes durante o ano!) agora, isso tudo sem nenhum docinho pra consolar...como alguém pode sobreviver??
E foi assim que minha sonhada gravidez sem frescuras virou um eterno circo de tele-conferências, emails, emails, emails, pica o dedo pra medir a glicose, come um chocolate beeeem pequenininho e a glicose sobe, leva bronca do médico, volta a comer alface, outra tele-conferência, vai o marido buscar documentos no hospital, traz de volta pra eu poder trabalhar em casa, dá beijinho em Carentack que quer colo, mas não pode pegar no colo e por aí vai. Isso tudo fora a eterna vigilância dos amigos e parentes. Outro dia apareci no hospital rapidinho só pra pegar uns papéis e levei a maior bronca da orientadora, da secretária, até a moça da faxina brigou comigo! Fui comer um brigadeiro minúsculo e inofensivo em uma festa e outra bronca da cunhada, poxa, fala sério! Decidi que eu nunca mesmo quero ir pro Big Brother, esse negócio de ficar em casa, sob vigilância 24h não dá futuro.
O pobre Escravonstchon, o marido, tem que se encarregar de tudo, da criança na aula de música, na aula de natação, na escolinha, do supermercado, da faxina, de buscar e levar coisas pro hospital (para a pesquisa) e ainda servir de Jarbas para as consultas semanais na clínica de diabetes e médicos. O coitado já está repensando os 5 filhos que queria ter, se for nesse ritmo, só mesmo "Made in China", porque "Made in me" está embaçado.
Eu sei o que você está pensando: "Calma Keiko, faltam só 2 meses e depois tudo terá valido a pena, quando você vir aquele rostinho, e vestir todas as roupinhas fofas e cor-de-rosa". Não duvido que valha a pena e como sempre, nada é tão ruim que não poderia ser pior, mas que eu estou em dúvida se estou mais ansiosa por ver a cara da nenê ou comer o Chocotone que eu trouxe do Brasil, isso eu estou...mas não contem pra ninguém.
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Torre de Babel

Eu gostaria muito de aprender pelo menos uma língua dessas estranhas, com caracteres diferentes do tipo árabe ou chinês. Mas enquanto isso não acontece, ando me surpreendendo com a quantidade de linguagens dentro da nossa própria língua.

Meu leitor e amigo Thiago no post anterior me falou alguma coisa que tinha a ver com Feed RSS, sei lá. Está aí uma linguagem que eu não entendo é essa parada de informática. Já acho o cúmulo do avanço tecnológico uma pessoa como eu ter um blog, e conseguir postar, tipo, UAU! Como eu sou avançada! Agora não exagere, essa coisa de mudar de layout, Feed, sei lá mais o que...bom, meu irmãozinho vai dar conta disso pra mim enventualmente, mas eu mesmo, não falo essa língua não.

Sei que cada profissão tem seus jargões. Existe agora uma tendência a desmistificar a linguagem científica por exemplo, pra fazer o conehcimento mais acessível. Mas enquanto isso não acontece, fica uma certa lacuna entre o que algumas pessoas dizem e o que outras entendem, como essa mensagem que minha cunhada recebeu. Ela está processando um inquilino que não paga aluguel há meses. Daí recebeu do tribunal essa mensagem aí:

O arresto via BACENJUD não encontra esteio na legislação vigente. No mais, a citação editalícia se mostra inoportuna, tendo em conta o exequente não ter esgotado os meios acessíveis para localização da ré.

Isto posto, indefiro as medidas pleiteadas, requeira o autor, no prazo de 30 (trinta) dias, o que entender cabível.Brasília - DF, quarta-feira, 04/02/2009 às 17h51.

Não sei o que Camões entederia cabível nesse caso. Pra mim soou algo como: '" Comprei um carro e não achei a marcha ré?" Ou "Alguém citou alguma coisa num edital e o cara não curtiu, logo, deu pra trás". Ficamos algum tempo refletindo na mensagem sem conclusão alguma. Entendemos como cabível então, ignorar a mensagem, ou pedir ajuda dos universitários (mas tem que ser universitário de direito).

E assim, a torre de Babel continua inacabada.
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Mas já?

Hoje saiu a lista de aprovados da Fuvest. Só sei disso porque minha home page é a UOL, não fosse por isso nem me daria conta das muitas comemorações e decepções acontecendo hoje. Dez anos atrás, eu era uma das caras ansiosas esperando a divulgação da lista, uma das caras felizes e pintadas comemorando a aprovação. Há 10 anos!!! Nos anos seguintes eu ainda fiquei conferindo a lista, sabia de tudo porque tinha um amigo ou outro ainda esperando a tal aprovação, que quando ocorria era motivo de notícia amplamente comemorada.Depois teve notícia do povo se formando, de uns se casando e a grande notícia hoje em dia são os filhotes chegando aqui e acolá.

Olhando as fotos dos aprovados tão felizes com seus grandes "USP"s escritos na testa eu fiquei aliviada. Muito bom pensar que já passei por todo esse perrengue de faculdade, poxa vida, é bom saber que se eu for presa tenho direito a cela especial (se bem que depois que fiquei internada uma semana eu decidí que não quero ficar presa nunca, se hospital é ruim, imagine prisão. Alias, só por isso que eu decidi, perceba). Por outro lado, fiquei pensando também...como é que pode, dia desses era 1999 e eu estava entrando na faculdade, gente, 10 anos é muita coisa! Credo! Que velheira! Quanta água já rolou por baixo da ponte...eu já dei notícia de casamento, de mudança de país, de filho número 1 e agora de filho número 2 e sinto que de agora em diante as notícias são os filhos, chegou aquele momento que a sua história começa a se fundir com a história dos outros, outros que você fez! Isso defintivamente é um mal sinal. Bom, espero um dia ainda dar notícia de que virei doutora, mas até lá...bota mais uns 10 anos na conta.

Nem precisa dizer que um grande atestado de velhice é essa conversa toda de ter tido disco de vinil, saber o que é um video-cassete, ter mandado cartas a amigos pelo correio, ter feito curso de datilografia, etc. Isso é lugar comum pra quem viveu nos anos 80 e não me faz senti velha. Mas sei lá, quando acontecimentos da sua vida começam a fazer aniversário de 10 anos, é sinal de que a coisa está ficando feia mesmo.

Bom, vou alí comprar um Chronos, tomar um banho de formol e começar a me preparar pro dia que Vestibulack estiver comemorando a sua entrada na Fuvest.
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Cade o nenê que estava aqui?

Existe algum fenômeno que ocorre na vida de um bebê entre 2 anos e 5 meses e 2 anos e 7 meses, que envolve alguém entrando na sua casa na calada da noite e trocando o nenezinho que você tinha por uma criança idêntica, mas cheia de idéias, frases, vontades própria, composições musicais de fazer inveja...algo muito, muito estranho.

De uma dia pro outro Adultack virou uma pessoa. É claro que eventuais crises pra escovar os dentes (e por eventuais leia, 3 vezes por dia) ou quando alguma coisa dá muito errado na vida (do tipo, ele foi tentar abrir a porta sozinho e bateu a porta na própria cara ou quando não consegue vencer os longos 3cm que separam seu pé do chão ao tentar descer da minha cama) me lembram vagamente que ele ainda é um bebezinho, mas fora isso, meu nenê virou mesmo uma mini-pessoa.

No avião ele já sabe o que fazer. Senta, coloca o cinto de segurança, abre sua mesinha, coloca seus pertences e começa a se entreter. No restaurante, pega o menu e fica lendo: arroz, feijão, A, B, C...até achar todas as letras e quando o garçom chega ele sempre pede:
- Arroz e feijão, sil-tu-plait.
Por alguma razão os garçons sempre dão uma risadinha e o ignoram, essa gentinha.
Dia desses, eu no telefone, perto da hora da janta, ele brincando quando chega perto de mim e anuncia:
- Eu tô com fome.
Eu faço que sim com a cabeça, mas continuo no telefone. Ele espera um pouco e volta:
- Mamãe, eu quelo comidinha.
Eu interrompo a ligação e tento ensinar virtudes como a paciência:
- Você pode esperar um pouquinho?
- Posso.
Espera dois segundos, então coloca as duas mãos no meu rosto, bem terno e paciente (ele sempre coloca as duas mãos no rosto da gente pra falar coisas "sérias" e pra dormir, uma delícia) e pronuncia categórico:
- Ponto. Agola eu quelo comê comidinha. Faz comidinha pa mim mamãe, pô favor??
Sem escapatória, levanto, ainda ao telefone, e vou passar um patê de tofu em um pão, a fim de ludibriar a criança enquanto acabo a conversa. Vendo o que se desenrola, o menino puxa minha roupa e diz com a cara mais indignada do mundo:
- Eu não quelo pão! Eu quelo comidinha! Berinjela, arroz, feijão, milho...

Tá certo que se fosse grande mesmo ele iria lá na geladeira e preparava seu próprio rango, mas pera lá: berinjela, arroz, feijão e milho??Que criança tem o menu da janta assim, na ponta da língua? Eu criei um monstro...e lá fui eu, desligar o telefone e preparar uma comidinha ao gosto do cliente. Depois disso dei pra ele papel e caneta e falei pra escrever logo o menu da semana inteira, para facilitar minha vida. Ele escreveu uns "T"s , uns "A"s e desenhou uns círculos, suas novas produções gráficas, e me entregou o papel, satisfeito.

Outro dia coloquei um pijama novo e ele, que está dormindo na nossa cama temporariamente, solta todo sorridente:

- Nossa mamãe, que bonita! É pra dormir com o nenê?

Fala sério, homem que repara em pijama novo e ainda elogia?? Já vejo a fila de candidatas na porta de casa. Só não sei se elas vão concordar em fazer arroz, feijão e berinjela todo dia, se bem que ele também adora brincar de comidinha e me ajudar na cozinha, então tudo está resolvido...meninas, mandem seu CV porque do jeito que a coisa anda, daqui uns 2 meses vou estar emprestando a chave do carro.