3

Os protestos de sexta-feira

E quem disse que só quem quer mudar o país e mães em geral ficam cansados e de saco cheio e revoltados com a vida na sexta-feira, né não minha gente?

Veja Nina, no maior clima dos protestos no Brasil, na primavera dos seus 4 anos...

Chega no carro, depois da creche:
- Mamãe... você tem uma comidinha pra mim? (Carinha linda de gordinha sorridente, gostosa, vontade de morder)
- Ah filha, não tem nada...
- Aaaaaaaaaaaaa (é um grito, tá? Assim, grande e doído igual a galera na Paulista), não acredito!!!! Eu esqueci o meu iogurte no carro do Papai, agora como eu vou fazer? (cara desconsolada, arrasada, Dilma depois do impeachment), Mamãe, eu to com fooooomeeeeeee (cara daquele outro protestante em greve de fome que não come há 40 dias pelo menos).
- Ah Nina, a gente já já chega em casa
- Mas mamãe, como eu vou fazer? Eu tenho dois dodóis no joelho, e minha barriga tá me dizendo que ela tá com muita fome, mamãe (ai que dó... todo mundo sabe que uma coisa é passar fome, agora...passar fome com dois arranhões no joelho!! É o tal dos 20 centavos!!)
- Nina! Olha o cavalo, que lindão!  - Diz a mãe, achando que está arrasando ao se utilizar da técnica milenar de distração para apaziguar crises (o gás lacrimogênio está em falta por aqui...)
- Aaaaaaaaaaaaa (é outro grito, caso não tenha ficado claro), ah, mamãe, eu queria tanto um cavalo bem clarinho e cor-de-rosa!!!! (lágrimas, lágrimas, lágrimas, mesmo sem gás)
- Ah minha filha, tá bom, vamos comprar um iogurte. - Diz a mãe de saco cheio e se dando por vencida. Digo, diz a mãe que compreende as necessidades da filha e sabe da importância de ouvir as ansiedades de um pequeno coração. Como a loja de cavalo cor-de-rosa estava fechada devido aos protestos, fomos na padaria, que fica na estação de trem. Chegando na estação de trem:
- Aaaaaaaaaaaa mamãe, a gente já veio aqui buscar a vovó uma vez! - Diz a menina provando que roubou de fato toda a memória da mãe - Eu quero tanto ver minha vovóoooooooo!!!
Iogurte, frutinha, um croissant. Vale tudo para restaurar a paz mundial, o fim do aquecimento global, pelo direito de voto das mulheres no Afeganistão....

Chegando em casa, bem alimentada e feliz, a mesma menina (juro que não troquei!! A despeito da vontade), sai pra ir na casa do vizinho e pede para ir a pé. A mãe, sedentária, mas que escreve projetos de promoção de saúde, concorda feliz (até porque não dá nem dois quarteirões). No caminho, o ser bipolar celebra o primeiro dia de verão no hemisfério norte saltitando pela grama:
- Ah mamãe, sabe por que eu gosto de ir a pé?
- Porque, filha?
- Porque o sol ilumina "em eu"... e tem tantas aventuras.... (olhando para o sol, saltitando como quem acabou de eleger alguém miraculoso pra transformar o Brasil no país do futuro que acabou de chegar....)

Vai entender...
Vem pra rua ;-)
PS - Enquanto isso, no país dos idosos, eu tenho um filho de 7 anos!! Post comemorativo (sempre atrasado) em breve...
5

Hoje é Domingo

Obviamente que não (hoje não é domingo), porque as coisas aqui em casa ultimamente (tipo... nos últimos 7 anos) raramente acontecem ou são reportadas em tempo real. Sim, elas não acontecem em tempo real. Tenho pra mim que a maternidade transporta tudo para um sub-tempo, onde tudo acontece só do jeito que tem que acontecer, sem contagem de dias, sem hora para aquela sua tele-conferência imprescindível que você não podia perder por nada (até que a filha fique doente e você esqueça completamente), sem horário para escrever no blog na hora que as coisas acontecem (nem pelos próximos meses ou anos), sem horário pra manicure sem a qual você achava que não podia viver, sem horário para eventos que precisam esperar até você ter tempo de organizá-los, sem horário para aquelas regras lindas de educação que funcionam tão bem nos livros (ou nos blogs das outras mães), enfim, vocês sabem do que estou falando, aquela tal da quarta dimensão...

Daí que ontem (que era domingo) foi daqueles Domingos de revista. Eu, que já estava com um filhote extra, topei agrupar mais 3 pra dar uma força pra amiga que sempre cuida dos meus (3 a mais, 3 a menos, e quem mora longe da família sabe que sem amigos nós não somos ninguém!). Seis crianças, dia de sol, maridão foi cortar a grama, e eu só deixei eles na televisão por umas 3 horas no máximo... (brincadeirinha amigas que deixaram os filhos comigo! Foram só 3 desenhos, eu prometo! Até porque nem adianta mentir quando se está cuidando de criança que fala! Que esses dão o relatório completo! Esses dedo-duros! - Aqui eu já falei: Pode comer o terceiro pedaço de bolo de chocolate, mas só se não contar pra sua mãe! Tooooo brincande de novo amigas que deixaram os filhos aqui em casa, é no máximo dois e ponto final :-p ).

Daí que eu tenho um "sub-solo"que eu acho divertidíssimo, é o que eu chamo de "terra do nunca", zona de ninguém, lá embaixo pode tudo. Pode riscar a parede, pode andar de carrinho, jogar hóckey, futebol, montar forte... os amiguinhos adoram, galerinha pira mesmo lá embaixo, e é claro, que Sapequina leva "tudo" ao pé da letra. Estava eu cá tentando arrumar um café da manhã saudável e feliz (mais ou menos meio-dia, tem que alimentar os filhos dos outros, veja bem) e Corretack vem ofegante:
-Mamãe!!!! Você não sabe, que desastre! A Nina está dentro do Puff, tem bolinha por todo lado, em tudo, mamãe, tudo, tudo, tudo (repare que o número de repetições é sempre proporcional ao tamanho do desastre).

Mãe chega lá embaixo, a menina literalmente dentro do puff (como será que escreve puff, gente?) só a cabeça pra fora, bolinhas de isopor espalhadas realmente por tudo, tudo, tudo, e a criança, com a maior cara de danada, danada, danada (eu tinha perdido meu celular, droga!) do universo, estica os braços (espalhando ainda mais bolinhas de isopor no movimento) e faz: Ta-dã!!!!! - Saca, tipo, circo: Ta-dã! - Olha o que fiz que liiiiiindo: - Ta-dã! As outras crianças rolando nas bolinhas, histéricas e contentíssimas com o feito: Ta-dã!

Normalmente eu ficaria naquele dilema: Rola de rir, chora, briga, enfia o resto da criança no puff? MAS, como no dia anterior ela já tinha começado este mesmo experimento e eu tinha sido bem clara que podia fazer tudo, menos abrir o tal do Puff, eu tive que mostrar que sou acima de tudo uma mãe consistente (cof-cof), e que sete anos de maternidade me ensinaram bem a a necessidade de as vezes, rir (muito) pra dentro. Leva pro castigo, no cantinho escuro (reservado para as ações de nível 5 - porque no claro não dá pra pensar muito bem), e só escuto ela falando:
- Não tem problema mamãe, eu nem vou ter medo de ficar no escuro porque eu confio em Deus.
Veja bem, que a menina é arteira, mas escuta as histórias da Bíblia como ninguém, uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa.

Quando a mãe se acalma, ri por dentro, e ela parece arrependida (castigo aqui é assim: quando você estiver pronta pra ser obediente você me chama):
- Nina, por que você abriu o puff se a mamãe falou ontem pra você não abrir?
- Ah, mamãe, é que parecia TÃO legal. (Fato, né gente! Pensa que coisa mais divertida entrar num puff de bolinhas de isopor, realmente MUITO legal...)
- Mas Nina, tem que obedecer a mamãe, né, filha?
- Até quando é muito legal, mamãe?
- Até quando é muito legal...
- Táaaa bom (com a cara mais triste e frustrada do mundo, do tipo, "pô, sacanagem ter que obedecer até quando for muito legal...mas tá bom...)

Depois de algumas horas aspirando bolinhas (que foi o castigo mais divertido da história), outras tantas brincando de rouba bandeira, elefante colorido e guerrinha de água no parque e andando de bicicleta eu acabei o dia sem mal conseguir subir uma escada (e hoje de manhã estava me perguntando porque tudo doía... acabei de lembrar), mas sinceramente, talvez eu não queira ter seis filhos (só se for em esquema de cooperativa, como eu sugerí às amigas)... mas não sei como seria viver em uma casa onde bolinhas nunca saem do puff, sem criança pequena e suas sapequices insuportavelmente fofas... como será viver fora esta quarta dimensão...

Maridinho romântico achou que se eu aspirasse todas as bolinhas e conseguisse cuidar de 6 eu merecia uma declaração de amor na grama
O sexteto - alegria e diversão, na quarta dimensão