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Questão de gênero

Já tem um tempo que Tagarelack se apropriou da palavra "ôto" (outro) para os mais diversos fins. Por exemplo, para solicitar "ôto mamá" - aconteceu quando minha tentou dar o peito dela para não me acordar em uma das estressantes noites do feriado de fim de ano. O bichinho pedia: "Mamá, mamá", mas queria um que funcionasse, o "ôto". Quando eu deito com ele um pouquinho antes de dormir e o abraço com uma mão, ele, que sabe da minha vocação para contorcionista, sempre pede "ôto", querendo não só que eu o abrace com as duas mãos mas também faça carinho, com a terceria mão é claro. E foi em um dia desses que eu perguntei: "A outrA mão?", e ele prontamente respondeu afirmando com a cabecinha: "Ôta"! - Foi assim a descoberta do gênero.

Desde que ele descobriu a nova persepectiva do mundo que só se tem de cima da privada, seu passatempo predileto é primeiro, pedir pra fazer cocô, mesmo que seja 2 da manhã e ele obviamente não queira fazer cocô, e depois, uma vez no trono, arrancar cada pedacinho do papel higiênico e jogar no lixo, com direito à narração:"Papel? Litcho" (Papel, lixo). Um dia desses, em um daqueles momentos íntimos onde a mãe sentada no chão frio espera o menino acabar com o papel higiênico, não fazer cocô e falar:"Tega!" (chega), a mãe enfezada e altamente preocupada com o número de árvores que vão ter que ser cortadas pra produzir todo o papel higiênico que ele está desperdiçando fala:
- Filho, chega de papel, papel é pra limpar e depois jogar.
- Papel? Litcho?
- Não, só depois de limpar.
- Ôto? Pôpapô! (Outro? Por favor!)
- Não, filhinho, chega.
- Ôta? (Outra?)
Como se tudo fosse apenas uma questão de gênero.

E quem aguenta isso?

Vocês têm que "concordar" que de "gênero" o menino entende, de "número" de palavras engraçadinhas necessárias pra dobrar a mãe ele já domina, "grau" de fofura não é o problema...Pasquale que se cuide, "nossa língua portuguesa" tem novo dono.
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Emoção

Eu deveria estar emocionada porque vou ter um primeiro artigo publicado em uma revista indexada...


Eu deveria estar emocionada porque comemoramos os 19 meses de Culturack no museu de Belas Artes onde o menino viu Monet, Renoir, Van Gogh e ia quase derrubando uma estatueta de Rodin. Tá certo que o motivo principal da visita foi porque a entrada era de graça (pobre é uma desgraça, diria uma amiga) e que de todas as obras de arte maravilhosas do museu a que Curadorack mais gostou foi um cavalo bizarro esculpido em isopor, a respeito do qual ele insistia em cantar em alto e bom som: "Pocotó, pocotó, pocotó, mine mi a pocotó" (minha eguinha pocotó, para os que não leram isso), gerando um profundo questionamento por parte dos amigos que estavam junto, enquanto eu, inutilmente tentava desviar a atenção do fato ("Nossa, o que é isso que ele está cantando?" - E eu: "Não sei, alguma música de cavalinho... nossa, olha aquele quadro que lindo, e que tom de branco! Que textura...").

Eu deveria estar emocionada porque segunda-feira fez -28 graus e eu tive que andar "no tempo" por mais de 30 minutos e não morri...


Mas hoje, o que me emociona é algo muito mais sublime: O cocô.

Sim, sim, hoje, Adultack começou uma nova etapa de vida, ele fez cocô na privada. Por favor me lembrem de vir aqui apagar isso quando ele tiver uns 12 anos e quiser me matar por sair contando as intimidades dele assim, em público. Mas foi lindo. Normalmente eu pago pra não ver meu nenezinho crescer, mas trocar fraldas com dejetos progressivamente mais fétidos, não é minha tarefa preferida da maternindade. Pela mesma razão me recusei a comprar um penico...se na fralda é ruim, imagine tendo que lavar, tô fora! E foi assim que ontem comprei um daqueles assentos miniaturas já que Incomodack há semanas vinha avisando: "Mamãe, cocô!" e lá se ia pro cantinho fazendo força. Hoje quando ele avisou, sagaz que sou, peguei a tampinha, botei no vaso e ele ficou todo prosa, quando a coisa fez "pluf" foi só alegria, abraços, adesivo na mão e um menino sem entender nada, o pobre. Demos tchau pro cocô, como manda o figurino (pra quem não sabe que figurino é esse, é coisa que Freu explica, entre outros autores), lavamos a mão e saimos do banheiro, o menino-grande e a mãe emocionada.


Agora olho pra trás e vejo que tipo de pessoa eu virei, do tipo que se emociona com o cocô dos outros...abestalhada, sem noção, fora do parâmetro são palavras que me vêm à mente, mas por alguma razão, "mãe" parece explicar melhor.
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Ingredientes

Responda rápido:

Qual é o ingrediente mais usado em sobremesas?

tic, tac, tic, tac (tempo para processar)

Se respondeu "leite condensado", ou até "leite Moça", parabéns, você é normal, assim, do mundo certo. Agora, se respondeu "amêndoas" ou qualquer coisa que termine com "berry", pode internar...você vive do lado errado do mundo, meu filho, mas já que está por aqui...

No começo eu achava estranho ver as latinhas de leite condensado de uma marca só (e não era Leite Moça) tão perdidas, tão sem atenção em um cantinho mísero das prateleiras do supermercado. Depois eu me surpreendí ao dar a "complexa receita" de brigadeiro para uma ginga qualquer e a mesma não ter idéia do que se tratava o tal leite condensado, exigindo de mim uma explicação detalhada do tal ingrediente misterioso.

No entanto, quando a falta de tempo foi progressivamente extingüindo a minha já limitada vocação de de mestre-cuca-de-sobremesas (porque pra pratos salgados eu nunca tive vocação alguma mesmo), e já que eu não tenho mais uma "Amor aos Pedaços" na esquina de casa como tinha em Sampa, tive que começar a explorar o terreno das sobremesas gringas.

No início da jornada foi só decepção, não achava nada bom mesmo, a não ser sorvete Ben & Jerry's, mas os sorvetes também pertencem a um departamento só deles, não contam como sobremesa. Gordinho que se preze sabe que sorvete é sorvete, sobremesa é sobremesa. É como brigadeiro, que apesar de ser "Leite Condensado" na sua melhor forma, não conta como sobremesa. Conta como cura-TPM, cura-fim-de-namoro, cura-briga-com-chefe, cura-saudade-do-Brasil, mas sobremesa não é. Enfim, foi só depois de convencer todos os meus 2 ou 3 amigos gringos de que sobremesa que se preze tem leite condesado que eu comecei a reconsiderar o fato...

Lembrei de uns croissants de amêndoas - mas croissant não é sobremesa, obviamente...Mas aos poucos fui descobrindo umas tortinhas, uns trenzinho bãm (como diria minha vó mineirinha)...E foi assim que meu mundo se dividiu, entre sobremesas com leite condensado , as quais eu tinha como únicas realmente boas, e as outras com amêndoas e blueberry, amêndoas e cranberry, amêndoas e strawberry - mas aí era só Morango e não ficou tão chique - quadrados de amêndoas com raspberry e por ai vai...Sobremesas que surpreendentemente, apesar da sua incurável falta de leite condensado, são incrivelmete boas, não só boas, como viciantes. Como eu sou do tipo que se deleita até com cubinho de açúcar (daqueles de colocar no chá), não é de se estranhar a minha alegria em explorar um novo mundo de sobremesas e fazer questão de degustar cada uma delas que ouse cruzar meu caminho.

Por favor não me entendam mal, não quero com isso dizer que o leite condensado é mal elemento, afinal de contas, a vida é tão bela quando se tem uma lata de leite condensado por perto (parodiazinha barata do Rei RC * ). Mas se pudesse dar um conselho, caros leitores, diria: Abram seu coração, e suas papilas gustativas para as sobremesas de amêndoas, elas merecem. É claro que só digo isso porque tenho em mãos um "carré aux amandes"que se não soasse chique por ser em francês seria só um "quadrado de amêndoas", mas jamais diria o mesmo se tivesse um pote de mousse de maracujá ou um pudim de leite condensado.

Viu só, quando você pensa que leitura de blogs é tempo gasto inutilmente, você vem aqui, lê um post desses e descobre que realmente, precisa procurar um outro hobby...


* E antes que eu destrua a pouca reputação que me resta, não, eu não sou fã do Roberto Carlos, mas para meu desgosto, vez ou outra eu acabo descobrindo que umas letras bem simpáticas como esta, vieram deste ser que usava uma pena na cabeça. Geralmente quem me faz descobrir isso é o maridão que não contente em ensinar Funk pro filho, ainda tem uma dupla sertaneja e toca insistentemente TODAS as músicas do Rei no violão - pra provar que o amor tudo suporta...
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Só as cachorras...e os bebezinhos

Então você faz seu filho escutar Mozart, Vivaldi e Bach desde que é feto, canta à exaustão todo o repertório da boa música folclórica brasileira do despertar ao deitar, gasta seu estoque de criatividade em composições improvisadas que fazem sentido, cria padrões rítmicos e parlendas, escolhe a dedo os CDs e DVDs que ele escuta e vê, bota o menino pra tocar piano até que ele aprenda o que é grave a agudo, sente alívio ao constatar que os programas de domingo na TV são ruins, mas pelo menos não têm menininha de 3 anos dançando de mini-saia; e eis que em um breve momento de distração, você pega o sujeito, olhando para um cavalinho e cantando: "Pocotó, pocotó pocotó, mi me mia pocotó" - sim, é dela que ele estava cantando, minha eguinha pocotó. Não satisfeita, a madrinha solta: "Piri rim piri rim pi ri rim" - Ao que o pequeno funkeiro responde: "Pintutão tito ta tim" (Princhucão ligou pra mim). Tudo ensinado pela avó e pela madrinha, com ajuda do pai, assim, nas minhas costas...

Me resta de consolo que ao menos, a criança é afinada e tem ritmo, tanto que eu fui obrigada a reconhecer as trágicas peças musicais, se é que se pode chamar isso disso. Aqui acaba a promissora carreira do futuro Beethoven e começa o sucesso de vendas, Bonde do Princhucão. Pelo menos, eventualmente eu vou ser uma mãe-agente rica.
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Decadência

Ví na revista que a Jennifer Lopez passou uns dias em Fernando de Noronha, onde comemorei meus 2 anos de casamento.

Hoje ví um email da pousada onde ficamos em Jericoacoara (no nosso terceiro aniversário de casamento) desejando feliz 2008 com muito sol e brisa do mar.

Olho pro termômetro: - 15 graus centígrados.

Olho pro calendário: Ainda 5 meses para algo que lembre o verão.

E enquanto minha barraca de côco ainda está no rascunho penso que de literalmente andamos descendo nosso nível de comemorações de aniversário de casamento, menos viagens mas principalmente bem menos graus.

E pensar que casamos em Janeiro porque sendo férias e verão, as comemorações sempre seriam quentes...
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CRISE!!!!

Há 8 anos eu era uma meninha, de vestido branco, véu e grinalda, o príncipe encantado chegou a pé, pela plantação de girassóis (era bem isso mesmo, decorei a igreja com girassóis, tantos que mal dava pra achar os noivos, auge da moda na época, hoje em dia olhando as fotos acho que estava mais pra uma falsificação de Van Gogh de última categoria) e foram felizes para sempre.

Ah, a crise do título, não tem nada a ver com meu oitavo aniversário de casamento, que aliás, vai muitíssimo bem, obrigada. Mas sim pelo fato de que a pomposa comemoração do mesmo foi subsituída por uma emergencial e inadiável revisão de artigo, pelo telefone, com a orientadora. E pela minha consequente constatação de que nunca nesse mundo eu vou conseguir terminar essa !#%^$% de doutorado já que eu sou incapaz de escrever um mísero artigo que não precise de 50 revisões, inclusive as 10 da noite porque a orientadora estava de férias e até ela achou que eu era capaz de fazer sozinha, tadinha.

Então vou ter que recorrer ao plano B. Vou largar tudo e realizar meu sonho de colégio, montar uma barraquinha de água-de-côco na Praia do Norte, em Ilhéus. Viver de brisa, acarajé, minha jangada vai sair pro mar e tals. Já tenho vislumbres de QualéatuameureiZack correndo livre pela areia branca, carbonizado pelo sol que não dá cancer, trepando no coqueiro pra garantir o sustento da família.

E com estes pensamentos me retiro porque amanhã tenho que acordar cedo pra trabalhar, argh! Digo, pra comprar a passagem, tirar o mofo do biquini, ver a cotação do côco...
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Sintonizando

E bom, estamos de volta a nossa programação. Amanhã recomeça a vida, aliás, tem coisa mais antipática do que recomeçar a vida? Especialmente depois de um natal e ano novo recheados de família,vida mansa, comidinha na mesa, fraldas trocadas pela vó e pasmem, grama...sim, porque em algumas partes do mundo existe grama (e verde!) em pleno mês de Dezembro, eu tinha esquecido disso. Dois dias no freezer e eu já esqueci a cor da grama. É assim, sorte de quem é daltônico numa hora dessas, o mundo por aqui fica em um tom ótimo, tudo branco, nada de verde pra confundir com vermelho, meu pai (que era daltônico) ia adorar.

Já voltei mostrando à 2008 a que vim. Mal cheguei e já fui esquiar, sim, porque 2008 será um ano atlético.

Em seguida, passei o dia fazendo faxina, aquele espírito da mulher de verdade, moletom largo, cabelo preso com piranha, espanador na mão (ok, sem espanador na mão, mas só porque eu não tenho um, aliás, sempre quis ter, acho espanador assim, tão cara de faxina) e um ímpeto raro de jogar tudo fora, metade da casa tá no lixo, pelo menos até Princhuco voltar e recuperar metade dos ítems da lixeira. Sim, porque 2008 será um ano organizado.

O próximo ítem na lista era ler uns textos e me preparar pra aula de amanhã, porque 2008 seria um ano de mais estudo com antecedência e menos tempo de blog, mas aí não aguentei e me deu uma vontade de escrever só um pouquinho, ler só um poucão, largar aquele balde no meio da casa comer um pacote de Calipso. Sim, porque 2008 será um ano igualzinho 2007 - e que assim seja porque cá entre nós, chega um momento na vida que você percebe que já que é pra fazer resoluções e não cumprí-las, é melhor não fazer nenhuma. Só não me sinto tão mal porque até o Drummond era dos meus: "A minha vontade é forte, mas a minha disposição de obedecer-lhe é fraca" (e pra bom preguiçoso meia citação basta). E se o moço fez tanta beleza com a a disposição fraca, de repente até sobra uns versos da minha falta de disposição também. Pois é, esse ano vai sendo como for.