3

Capítulo 4


Como diria uma amiga: Eu quero fazer um Bonsai de Ninoca! Será que dá?

Minha filhota gostosa

4 anos!!
Todo pai e mãe fala “nossa, passou voando, parece que foi ontem”, e de fato, isso é verdade. Parece que a gente piscou o olho e um bebezinho muito gorducho e muito bochechudo virou essa princesa bailarina que canta, dança e fala O TEMPO TODO. Não é exagero, é o tempo todo, exceto quando a bateria acaba, o que só acontece em situações extremas tipo a nossa última viagem ao Brasil com mais de 20 horas de vôo em 4 escalas das quais todas deram errado de alguma forma. Mas vamos falar sobre isso daqui a pouco.

Por outro lado, neste momento de retrospectiva, eu não consigo entender como tanto tempo cabe em somente 4 anos. E ao bem da verdade, ando fazendo uma força danada pra tentar lembrar como era a vida antes de você… será que tinha uma? Você preencheu cada espaço, cada silêncio, cada momento de um jeito tão arrebatador, tão divertido, tão único que eu sinceramente olho e penso que “parece que foi há 200 anos”, parece que a gente sempre existiu e só existiu juntas. 

O tempo vai passar pra você também, minha coisinha gostosa. Daqui uns anos  você vai descobrir como aniversários não são dias mágicos nos quais, como hoje, você acorda se sentindo grande e forte e “virando 4 anos”, em boa tradução. Nem sempre o mundo inteiro vai mudar num passe de mágica no dia 4 de março, mas você, como eu, vai descobrir que aniversários são sim mágicos, mas de uma mágica deveras diferente. Uma mágica que faz a gente parar e pensar no que passou, no que virá, no que foi bom, no que precisa mudar. Porque aniversários fazem isso com gente que não é tão sábia  quanto você, que consegue ver bem o que está a sua frente, que me respondeu hoje à pergunta:
-       - O que você mais gostou dos seus 4 anos?
-       - De você, mamãezinha linda e quentinha!
Um dia, você também vai olhar pro dia 4 de março chegando no calendário e pensar: mas onde foi parar o tempo? E ao mesmo tempo, que tempo? – Essas reflexões meio que absurdas pra você, são apenas porque o seu aniversário é muito perto do da mamãe, e ela queria estar fazendo 4 também, tão mais divertido que 32!

Mas enfim, voltemos aos 4. Você, que sempre foi do partido das bailarinas, agora se afiliou com carteirinha e ações no sindicato das princesas. Eu posso culpar seu pai, que te deu uma peruca loira e “muito longa” da Rapunzel, junto com o vestido da mesma. Posso culpar sua avó que te deu o vestido da Cinderela, posso culpar o mundo e o capitalismo pela imposição cultural e social das princesas. Mas eu não aguentei quando você, num dia de vento batendo no rosto e seu cabelo mesmo voando lindo pra trás ficou toda séria e começou a cantar: “ Have you ever heard the wolf cry to the blue moon”, e quando eu quis tirar uma foto e falei pra você sorrir, você me falou que não, porque a Pocahontas é séria. Além disso, você não só constatou sozinha que você está mais pra Pocahontas do que pra Cinderela, mas fez uma constação que eu achei interessante, do ponto de vista antropológico, ainda que um pouquinho preocupante, do ponto de vista social , você falou que a Pocahontas e a Jasmin podem ser amigas, porque elas duas são “marrons”. Eu expliquei que não, que todas podem ser amigas, inclusive a Cinderela, coitada, que só tem irmãs más, que ela iria se divertir horrores brincando na floresta com a Pocahontas, ao que você reagiu com a maior cara de “dããr”: “Mamãe, as princesas são adultas, elas não brincam”. Enfim, princesas e suas concepções distorcidas da realidade a parte, a fofura é inevitável. Além do que, você anda se divertindo tanto com a turma da Mônica, com o Patati Patatá, com a Galinha Pintadinha e esses outros capitalistas mais tupiniquins, além dos seus amigos sem marca que são tão preferidos como a sapinha caolha, a tartaruga do projeto Tamar, o porquinho que tem filhotinhos que mamam e o macaquinho pendurado na mamãe, que no fringir dos ovos, eu acho que o negócio é relaxar e deixar você curtir o bom e o ruim. Fiquei tão feliz quando você escolheu sozinha fazer sua festa de 4 anos de “Boneca de neve”, sem nenhuma princesa por perto, que  acho que quando você crescer você vai saber que a roupa da feirinha é tão mais legal do que a da Pakalolo (se bem que você nunca vai saber o que é a Pakalolo), mesmo que só uma vezinha você queira pelo menos um elastiquinho de marca, tudo bem, a gente vai achar um equilíbrio bacana, de comer granola feita em casa mas de vez em quando ir ao McDonald’s.

Do que você é hoje, posso dizer por mim: uma bebezoca gostosa muito, muito engraçada. Você tem personalidade, minha filha, sempre teve! Sabe o que quer e se faz ouvir, característica que eu adoro quase sempre, exceto quando a gente está com muita pressa. Mas eu adoro seu senso de humor, como você não passa batido, e como você sempre tem resposta para tudo, e perguntas para as coisas sem resposta. Coisa de mãe achar que só você é assim. Mas já te digo que só você é assim! J Na escolinha a professora não cansa de me dizer que você vai ser ou artista, pelas suas inúmeras performances, caras e bocas, ou primeira ministra, porque você é uma líder nata. Já vi você liderando todos os seus 18 amiguinhos em um passeio de “ônibus”, onde você organizava quem entrava, quem saía, quem fazia o quê. Já ví você coordenando um piquenique e vejo todos os dias umas 5 ou 6 amiguinhas saindo no tapa, literalmente, pra te abraçar primeiro quando você chega na escolinha. O que eu amo nisso é que a professora vive me contando como você contorna essas disputas “com classe”, ou saindo dela de vez (do tipo, se vocês vão ficar brigando então eu vou brincar com os meninos), ou tentando organizar o coreto. E como você sempre tenta incluir outras crianças “menos populares” (eu jurava que essa de popularidade era mais pra frente...) para quebrar o atrito, e pra deixar todo mundo brincar. Eu amo até o fato de você dizer, sem vergonha nem pudores que você “gosta mais do papai do que da mamãe”, que você prefere piscina à praia, que você só vai usar o casaquinho enquanto eu estiver vendo mas que depois você vai tirar porque você sente calor, e que você era danada, quando riscou a parede de casa, mas que não vai mais ser porque o papai ficou bravo, mas você acha que não tem problema riscar a parede. Autenticidade te resume bem. Eu adoro ter sido a fábrica que produziu esse exemplar único. Sua patente não tem preço!

Das coisas que eu mais amo fazer com você, estão nossos bolos e cupcakes, que você pede pra fazer e eu não aguento, tenho que parar tudo para ver você se orgulhando por já conseguir quebrar os ovos direitinho sem deixar cair casquinha, limpando a mão depois de cada ovo porque não aguenta ficar com a mãe melada, igual eu, medindo a farinha bem certinho, passando o dedo pra ficar retinho e tudo. É delicioso demais ver você se deliciando com seu próprio sucesso. Adoro quando você me chama pra deitar no seu colo quando você está assistindo TV, e eu deito na sua perninha gordinha, e você faz cafuné. Adoro quando você me chama pra inventar brincadeiras onde eu tenho que dizer exatamente o que você tem no seu script mental, sem direito a mudança, e adoro nossas segundas-feiras, quando você fica trabalhando comigo no escritório, na sua mesinha de bricolagens. A outra coisa que me faz feliz a cada manhã, porque faz você feliz também, é arrumar o cabelo. A gente se diverte escolhendo presilhinhas, decidindo se vamos fazer maria-chiquinha, cocotinha, trancinha (uma ou duas, porque o Zack gosta mais de duas), rabinho alto, baixo, de lado...uma infinidade de vaidades que me lembram tanto eu! – E quanto mais eu te vejo, mais eu concordo que uma das coisas mais deliciosas de ser mãe, é a gente ver a vida de novo. E eu que sempre achei que as coisas só eram bem boas quando vistas com olhos de primeira vez, agora consigo ver que há sim uma coisa linda em ver tudo com olhos de “segunda vez”, vale a pena ver de novo e é claro, com a chance de melhorar, de endireitar o que saiu meio torto, enfim, você é uma projeção onde só coisas boas se projetam, como ler um texto pela segunda vez e achar os erros, e descobrir novas belezas, como visitar um lugar amado de novo e achar novos cantinhos, e evitar os restaurantes ruins, e assim, do velho escrever uma história novinha em folha, uma história que vira cada vez mais sua, uma história que eu comecei, mas que aos poucos vou te ensinando a segurar a caneta, escrevemos juntas, até que um dia você vai pegar a caneta de vez, e continuar escrevendo sozinha, e eu vou ler, filhotinha, vou ler e acompanhar cada novo capítulo, mas vai ser impossível não sentir saudade de quando escrevíamos juntas.