Quem tem criança não precisa de David Cooperfield. (Porque todas as outras pessoas precisam. Veja bem...a pessoa precisava de uma frase de abertura para o post).
- Mamãe, lê esse pra mim, do "seu favorito" (eu tinha falado pra ele que o livro era do Chico Buarque, e isso ele sabe, o Chico é favorito - valeu Flávia pela sugestão). E no meio do livro, abrir um sorriso e gritar bem alto, com os olhinhos brilhando de quem viu um mundo novo se abrindo, diretamente da boca do lobo:
- E-U SO-U UM LOBO! - Mamãe!!!!!! Eu entendi!!! Ele disse: EU SOU UM LOBO!!!
Mágico.
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Arrumando "a marmita" do menino de escola para o dia seguinte. Ele brincando e de repente vem checar o lanche:
- O que você está fazendo hoje mamãe?
- O mesmo da janta Filhote, milho, aspargo, tofu...
- Não mamãe, em forma de que você está fazendo?- Diz ele se referindo aos (poucos) dias em que a mãe inspirada faz carinhas, cidades e outras formas com a comida.
- Humm... hoje não tem forma de nada filho...
- Ah mamãe, faz alguma coisa...
- Tá bom, vou fazer. - Bota uns aspargos pra lá, espiga de milho pra lá e... - tchã-nã!!!!
- O que é isso mamãe?
- Ah... olha bem Zack... use a sua imaginação (leia-se: ache e invente coisa porque eu não consegui fazer nada), você tem que adivinhar.
- Hummm... eu acho que é um bolo!
- Um bolo? Ah... muito bem, onde está o bolo? (Céus... juro que de bolo não tem nada)
- Aqui é uma camada do bolo, aqui as velas, aqui as balinhas do enfeite e aquele sprinkles e o outro pedaço do bolo!!!!!! - Diz ele todo pimpão.
- Muito bem filho! Você adivinhou! (Ufa!)
- Muito bem Zack, boa imaginação, hein? - Auto elogio de quem sabe que mereceu.
Imaginação de criança é tudo. Mágica.
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Cinco minutos depois de colocá-la na cama, escuto um grito e um choro incosolável:
- Eu tenho um dodóoooooooi, eu "piciso" de um remédico!! (PS - ADORO "remédico",tanto que não tenho coragem de corrigir! Eu sei, eu sei, má mãe, má mãe...)
Conhecendo a vocação de atriz da figura, dou um tempinho sabendo que normalmente, cinco minutos bastam para que ela ache sozinha a cura dos seus males. Ou ela cai no sono e o dodói miraculosamente desaparece. Cinco minutos passam e os berros só pioram. Melhor ir conferir o tal dodói. Chego no quarto e encontro uma menina desolada, descabelada, bochechão cheio de lágrimas:
- Aqui ma-mãe, eu tô muito dodói - diz ela entre soluços, mostrando o dedão.
- Ah Ninoca... to vendo (to vendo um dedo, intacto), tá bom filhinha, você precisa de um band-aid, né?
- U-hum... "piciso".
- Tá bom, mamãe vai buscar.
Vou buscar o band-aid, aproveito pra botar uma roupa na máquina, dobrar umas outras, ligo a máquina de lavar louça, guardo uns brinquedos jogados, aquela coisa básica que mulher faz quando vai de um cômodo ao outro. Pelo silêncio vindo do quarto, assumo que, ou somente a ideia do band-aid já curou o ferimento grave ou ela dormiu. Mas volto com o band-aid porque promessa é promessa. Ela ainda estava acordada, deitadinha, olhando pro dedão e o dodói imaginário.
- Pronto, tá aqui o band-aid, princesa, agora pode dormir, tá bom? - Diz a mãe, também conhecida como enfermeira e fada madrinha nas horas vagas.
- Tá bom mamãe...pode acender a luz pra ver o band-aid?(Boa tentativa de ficar acordada! Figura...)
- Não precisa, dá pra ver assim, ó.... viu? Agora boa noite, tá bom?
- Boa noite mamãe. - Diz ela satisfeita olhando para a atadura sagrada, vulgo band-aid.
E dois minutos depois, a bela já está adormecida. Mágica.