Tem uma musica do Vinicius na qual ele fala do filho que ele quer ter, que conta um pouco das expectativas e do curso da vida que se estabelece entre pensar em ter um filho, te-lo, e finalmente ser ninado por ele "num acalanto de adeus".
Fora todas as lagrimas que esta musica me arrancou durante a gravidez enquanto eu passava as roupinhas do Zack (pela primeira e ultima vez), ela tambem me fez pensar que talvez muito "do filho que eu quero ter" tem a ver com "a mae que eu quero ser". No fundo, no fundo (e as vezes nem tao fundo assim), a gente tem filhos com objetivos variados que passam do afetivo: "concretizar a expressao do amor entre dois seres e formar uma familia" ao heroico: "fazer um mundo melhor criando um cidadao consciente e honrado" passando pelo demografico: " a populacao esta envelhecendo e precisa de criancas", pelo obediente :" crescei e multiplicai", chegando ao pratico: " ter alguem pra cuidar de mim quando eu envelhecer".
Tantos objetivos e uma soh crianca eh trabalho pra Hercules nenhum botar defeito (nao eh a toa que o pessoal das antigas tinha 12 ou mais), e eh ai que o peso de ser a mae ideal vem tao forte quanto os versos do Vinicius - A realidade por sua vez, nem sempre eh tao poetica.
A " mae que eu queria ser" tinha uma dieta balanceada, fazia todas as receitas do livro de receitas vegetarianas pra ter o leitinho perfeito e forte que garantiria a prole inteligencia, forca e bochechas rosadas, igualzinho no comercial. A mae que eu sou come o que da tempo de fazer e ainda ataca no meio da madrugada (quando a tal da mae esta tentando estudar, enquanto a tal da prole dorme) um pote de chocolates trazidos do Brasil ( Concorrencia desleal, a "mae que eu queria ser" nao tinha esse problema, jah que tinha sua rotina perfeitamente organizada e nao precisava fazer nada de madrugada e as 9 da noite jah estava na cama) - e o livro ainda fica empoeirado na prateleira jah que a "mae que eu sou" tambem nao consegue ter tempo de tirar o poh da casa.
A " mae que eu queria ser" tinha a cada dia um jogo diferente pra brincar com seu pimpolho, apropriado para sua faixa etaria e estimulando todos as esferas do desenvolvimento. A "mae que eu sou" jah esgotou seu repertorio em menos de 4 meses, e confessa (nao com orgulho, se isso serve de defesa) que jah deixou seu nenezinho assistindo televisao em um momento de desespero total (por ideia do pai, se isso serve de desculpa).
A "mae que eu queria ser" nao ia dar nunca chupeta ao filho (e ainda brigava com quem falasse que ela ia acabar dando), nao ia dar mamadeira antes dos 4 meses (e para isso nao ai abandonar o bebezinho em casa nem por um minuto, com quem quer que fosse), nao ia comprar brinquedos a pilha (desses que brincam sozinho excluindo a necessidade de um adulto por perto, e de repente ateh da propria crianca), ia criar uma rotina musical com o bebe (com a mesma musica sendo cantada pra cada coisa, e nao uma musica inventada as vezes pra algumas coisas), ia fazer massagem no bebe todo dia, ia sair todo dia pra mostrar a natureza, ia esterelizar tudo de novo caso alguma coisa caisse no chao (mesmo que fosse por menos de 7 segundos), e eh claro, ia tambem voar e ter todos os poderes magicos necessarios para manter um sorriso banguela sempre ativo.
E eh assim que a mae que eu sou fica ateh meio frustrada as vezes (talvez ateh depressiva depois de listar tudo isso) mas mesmo sem recorrer ao Lexotan a gente acaba vendo que a "mae que eu sou" eh a "mae que eu dou conta de ser" e acaba sendo em um momento ou outro (mesmo que raros) " a mae que eu queria ser - versao sem cortes".
Sorte do Vinicius que por nao ser mae, podia soh pensar no filho que ele queria ter...
2024 Stocking Stuffer Guide for Kids, Tweens & Teens
Há uma semana
6 comentários:
À parte o tantinho de frustração pela ducha fria de realidade, trata-se de uma crônica belíssima!
"(mesmo que fosse por menos de 7 segundos)"
... nao seria a regra dos 4 segundos?
ah,,, eh o dada ai em cima...
ai familia...esses seres q se orgulham de qqer coisa q vc faca...
sei nao Dada, acho q a regra eh 7 segundos mesmo, nao?
De - agora eu me dedico a assuntos mais serios, como vc pode perceber
Marquito - levou a serio mesmo essa coisa de habitue, hein? valeu!
Pois é, a mãe do filho que eu quero ter achava que o único problema dos brinquedos a pilha era ter que trocar as pilhas...Ou seja, vc está indo muuuito bem.
Além do que, de forma poética, vc acaba de dar um novo sentido ao uso do anticoncepcional...O que já torna o mundo bem melhor...
Oi Keiko! Estou, aos poucos, na medida do possível do meu tempo, lendo seu blog. Antes estava indo do fim para o começo, agora resolvi vir ao princípio. E estou amando! Já te sinto, como costumamos dizer, minha mais nova amiga de infância! (Desculpe-me a intimidade!) É que esse mundo virtual proporciona coisas inusitadas!
Acho muito interessante seu jeito de escrever, seu humor inteligente e sua sensibilidade. Reitero os parabéns que deixei no meu primeiro comentário.
Quanto à crônica, pelo tempo transcorrido, você já deve ter superado esse dilema - da mãe idealizada e da mãe verdadeira - e percebido que essa mãe primeira é uma lenda urbana de nosso tempo. Ela não existe. E você já deve ter percebido que, sendo essa melhor mãe que você pode ser, você é a melhor mãe que seu filho poderia ter.
Bjs, Juliana.
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