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Amizade depois de grande - parte 2: A explicação

Olha, eu tinha mesmo planejado continuar o tal do assunto da amizade. Porém, depois de tanta controvérsia na interpretação do meu pobre e desintencionado texto, ao invés de fazer um texto parte 2, que só seria mais incompreendido (e que na verdade eu já tinha feito quando postei a parte 1, mas que desapareceu misteriosamente, realmente não sei onde foi parar e não estou a fim de escrever de novo), resolvi me explicar ao invés de continuar.

Antes das explicações, devo dizer que é muito interessante isso de blog. É como livro que vira filme (sem pretensões de grandeza, só usando a idéia da Cláudia - vide comentários do post de páscoa). O autor do livro escreve alguma coisa com todo um contexto em mente, afinal de contas, no meu caso, eu me conheço muito bem, sei quem eu sou, como tem sido minha vida (apesar do meu Alzheimer congênito eu lembro de uns 2 ou3 detalhes sobre isso) então escrevo alguma coisa no blog. Cada leitor (salvo os que me conhecem pessoalmente) vem com seu próprio contexto, sua própria imagem, seus próprios cenários e vivências que aplicam ao texto e assim, se fosse pra cada um fazer um filme do Tirando o Sapato, cada um ia ser completamente diferente. Muito, muito interessante isso. Acho mesmo que algum antropólogo, sociólogo, blogólogo deveria fazer uma análise deste universo paralelo

Ok, reflexões a parte, vamos nos explicando:

Deby: Acho sim que tem a ver fazer a faculdade na mesma cidade. No meu caso, no fim do curso cada um voltou pra sua cidade, e a distância, quando as amizades não são tão "longas", acaba afastando. Já uma amiga que fiz quando transferi meu curso para São Paulo de novo, essa virou eterna, entrou pro hall das "pra sempre". Tenho certeza que se encontrasse hoje com minhas amigas da faculdade teríamos assunto "pra mais de metro", ficaria super feliz e tudo. mas AMIZADE, aquela de ligar quando tem um problema ou decisão pra tomar, pra falar sobre o seu corte de cabelo, filosofar sobre a vida, falar que não pode falar agora porque está ocupadíssima assitindo TV, ou comentar o último episódio de Lost, esse tipo de amizade é outro departamento.

Dani: Acho que você está alcançando sua meta! Eu estou bem feliz com nossos últimos "papos". Eu nunca tive dificuldade pra fazer amizades, só quando cheguei aqui! Aparentemente, quando estamos "fora de casa" é mais difícil confiar nas pessoas, encontrar um espaço em comum. A impressão que eu tenho é que a gente acaba se "agrupando" em princípio de acordo com a situação, mais do que por afinidades pessoais (brasileiro, mesma religião, com/sem filhos, mora perto de casa, etc) e só depois é que vai ver se tem as afinidades pessoais, e se não tem, o negócio é ir se moldando, aprendendo, cedendo e eventualmente a gente acaba sendo amigo de pessoas que talvez não seríamos em outra situação, mas que aprendemos a amar, a se importar e quando vai ver...viraram amigos de verdade e você já nem lembra que no começo foi diferente.

Sandra: Não tenho dúvidas que você adora fazer amigos! And so do I! A questão é justamente esta, quando a gente gosta de fazer amigos e se vê em uma situação onde fazer amigos é diferente do que foi a vida inteira, isso dá uma desestabilizada. Não é que eu ache difícil, é que pra mim foi AC/DC - antes do Canada, depois do Canada. AC, todos os meus verdadeiros amigos eram de infância, adolescência no máximo (exceto a 1 amiga da faculdade mencionada acima), ou conheci no contexto do IAE (o colégio onde estudei a vida toda). DC, conheci um bando de gente nova, alguns estranhos, alguns (os canadenses) muito falsos (sério, tipo...não confie), coisa que antes eu mal conhecia. Aí veio fazer novos amigos em um contexto "adulto", onde cada lado da relação tem seu pacotinho de exigências, vivências, desconfianças, e você tem que se adaptar, pra não ficar maluca e sozinha. É um pouco isso que aconteceu comigo quando cheguei aqui. Mas não se preocupe, você não vai ter esse problema, porque quando chegar, já terá um comitê de recepção te esperando! Eu na frente! :-)

Lilian: Eu sei que você sabe! Aliás, acho que este é também um dos grandes motivos que te eleva ao seu posto de guru! A verdade é que cada vez que eu volto lá, eu sinto tristeza ao constatar que já não é, e nunca mais vai ser a mesma coisa. Acho que faz parte do kit "vire adulto" a gente aprender que as coisas mudam e não adianta querer ter nas "amizades de adulto" o doce conforto das amizades de infância(com quem você tem uma história, conhece sua família toda, seus primeiros amores, etc, etc). Por outro lado, não adianta também querer exigir dos amigos de infância a cumplicidade do dia-a-dia (principalmente quando fomos nós que escolhemos ir pra longe) e na minha opinião, amizades verdadeiras são uma soma dos dois aspectos (dividir o cotidiano somado à confianca irrestrita), então a gente vai vivendo, construindo novas histórias e não deixando calar as antigas. De qualquer forma, a impressão que eu tenho é que sempre vai ter uma lacuna, sempre vai faltar um pedacinho tanto nas novas, quanto nas velhas amizades...c'est la vie.

Claudia: É bem isso, não tenho dúvidas que tenho amigos, a questão é que a vida vai botando uns mais longe, outros mais perto, e certamente, em dias melancólicos (como foi o do fatídico post 1) a gente para pra pensar nessas coisas. Com certeza Companheirack é um mini-amigo dos melhores; ri de todas as palhaçadas que faço, me escuta o quanto precisar (fazendo cara de quem realmente está entendendo, inclusive) sem dar nenhum palpite, vai comigo em qualquer lugar que eu queira, precisa de mim pra viver (ok, talvez eu prefira que meus outros amigos não precisem de mim pra viver, mas é bom saber que você é "precisada"), posso confiar qualquer segredo que ele não vai contar pra ninguém (por enquanto...), conhece minha vida, sabe do que eu gosto e do que eu não gosto (não liga muito pro fato que eu não gosto que ele derrube todos os cds no chão repetidas vezes, mas tudo bem, ninguém é perfeito), apoia meus projetos (principalmente se o projeto é fazer papinha pra ele, contar história pra ele, pensando bem, meio interesseiro esse moleque) e é bem maduro pra sua idade. Mas eventualmente, a gente precisa de uns amigos mais crescidinhos:-)

Ufa!Tudo explicadinho, alguém aí tá precisando de uma amiga?

3 comentários:

Deby disse...

Ufa!! Cheguei ao fim...rsrs
Eu entendi muito bem o q falou. Acho q tb sentiria falta de ter uma amizade adolescente na fase adulta.
espero q consiga uma pessoa bem legal pra confiar e ser sua amiga "in canada"...rsrs.
um ótimo fim de semana.
bjinhos

Sandra Vicente disse...

Eu já havia quase me esquecido de uma fase, pós parto dos dois, que essa questão de amizade mexeu um pouco com a minha cabeça sim. Hoje quando a menor já atinge os 3 anos, a coisa voltou ao normal. Com dois filhos seguidos, passei 4 anos "de molho" em vários aspectos. Por exemplo: envolvimento na igreja, as amigas mais próximas eram as que estavam vivendo as mesmas etapas do pós-parto e nem sempre tão interessantes assim. Às vezes estava a fim de um papo mais cabeça e só saía: doença de filho, babá, escolinha, desenhos, pediatra, vacinas, decoração para festa de aniversário infantil, liquidação de roupas infantis... Essa fase foi meio esquisita pra mim.
Atualmente, voltei a fazer amizades novas e totalmente desvinculadas das crianças e é tão bom...
Nunca vivi num ambiente como o IAE.
Nem sei avaliar. O pessoal diz que é muito bom para construir amizades...

Keiko disse...

Deby: Já consegui! As amizades são "Made in Canada", mas as amigas em sí são "made in Brazil"!

Sandra: Sabe que essa é outro ponto interessante...na verdade comigo acho que é o contrário, a grande maioria das minhas amigas ainda não tem filhos, as vezes eu quero falar de fraldas e não tem com quem! :-)