Enquanto em lugares como New York e Washington lojinhas com coisas brasileiras, assim como os brasileiros em sí, pipocam em todo canto e Guaraná é vendido até no Wal Mart, por aqui, pra achar coisas "do Brasil" é preciso bússola, paciência e persitência pra testar de tudo até achar. Também é útil ter um faro aguçado pra descobrir qual outra cultura no mundo tem alguma coisa que parece com o almejado similar Tupiniquim além de uma rede de informantes por toda a cidade pra descobrir se o que não tem em um mercado tem em outro em um bairro diferente. Descobri outro dia que em um mercado normal, mas em um bairro com muitos chineses, tinha uma versão de Yakult, que eu adoro mas nunca tinha achado. Aliás os produtos chineses são os campeões do disfarce, é pra James Bond nenhum botar defeito. Tem leite ninho disfarçado de Nido, graviola disfarçada de uma fruta com um nome impronunciável, polvilho que chama tapioca e até goiabada. Também descobrimos em equipe que os árabes roubaram nosso queijo Minas e botaram um outro nome estranho lá. Imagine a alegria do nosso clã brasileiro ao descobrir a goiabada chinesa com o queijo minas árabe na mesma semana - O fim trágico de Romeu e Julieta se repetiu até a última lasquinha.
Semana passada passei em frente a um lugar que costumava ser uma lojinha brasileira, das mais capengas que eu já vi na vida. O ponto passou de um dono pra outro por uns bons tempos, sem muito resultado, até que alguém finalmente fez do lugar um autêntico e decente pedacinho de Brasil por aqui. Pão de queijo quentinho, mousse de maracujá, guaraná, tudo em um lugar bem decoradinho, bem aconchegante. Brasileirack encontrou uns outros brasileirinhos expatriados pra brincar (que por sinal entendiam Português, mas só falavam Francês, coisa triste...), mamãe tirou a barriga da miséria e todos saíram contentes.
Ontem fomos convidados por um chileno que é dono de um dos restaurantes brasileiros daqui (pra combinar com o chinês, dono da churrascaria brasileira em Vancouver) pra assistir o lançamento de uma cantora brasileira que aparentemente é bem conhecida aqui, Monica Freire. O álbum entitulado "Na Laje", é super bom, a voz dela é ótima e ela mesmo, uma autêntica "Papa-jaca" (pessoa nascida em Itabuna segundo o Dicionário de Baianês de Princhuco), é uma simpatia. Mas o programa foi melhor ainda. Lançamento bacaninha em um espaço meio alternativo, com um monte de pipas penduradas em todo canto "da laje". Apresentação de capoeira e batucada, Samback gastando a sapatilha e a família feliz em um tipo de programa que há tempos não fazíamos, digno de Sesc Pompéia no domingo a tarde.
Antes de ontem fui ao consulado renovar meu passaporte vencido. Avisei pra moça que tinha perdido meu título de eleitor e ela:
- Como assim perdeu?
- Perdi moça, não sei onde foi parar, procurei e não achei.
- Ah gente, mas como assim, perdeu?
- Você nunca perdeu nada na vida? Sabe, quando uma coisa some, você procura e não acha?
- Ah, mas então não vai ter jeito...
- Mas não tem como tirar uma segunda via?
- Ah não sei...
- Tem como perguntar pra alguém?
- Ai, ai...vou ver...
pega o telefone e liga pra alguém
- Bom, você entra nesse site aqui, preenche esses formulários aqui sem rasura e volta, mas volta amanhã porque hoje já está tarde.
Detalhe, eram 12:30. Pego os 425 formulários, vou pro escritório procurar o site. Descubro que o site era errado,enfim...a habitual cordialidade e prestimosidade dos funcionários públicos me fez lembrar que sim, é possível viver um pouquinho do Brasil por aqui.
Ontem pra completar o pacote de atividades "Minha terra tem palmeiras", fui ver qual é de uma aula capoeira, dita ser a modalidade miraculosa para eliminar cada uma das banhas adquiridas ao longo de anos de muffins e sendentarismo e da não mais possível desculpa de "eu tenho banhas mas tenho um nenê lindo, vai encarar?". O professor era gringo, veja bem, um bando de brasileiro aprendendo capoeira com um gringo. Coisa de brasileiro expatriado isso de resolver ser brasileiro, assim, aquela coisa autêntica, com jingado, que joga capoeira, que acha verde e amarelo a combinação mais linda do mundo e que conhece a Amazônia como a palma da mão. Depois de uns 15 minutos, logo depois do aquecimento eu já estava mais pra lá de Bagdá do que da Amazônia mas como "eu sou brasileira e não desisto nunca" e também tinha que provar pras gringas que a capoeira fazia parte do meu DNA, aguentei firme e forte...bom, ao menos eu aguentei, firme e forte já não digo. Bolhas no pé e dores musculares até pra espirrar hoje são a prova da minha invejável forma física...mas ao menos me diverti a beça e apesar de estar escutando som de berimbau até agora na minha cabeça, são essas coisinhas que nos trazem pra menos longe de casa, mesmo com o professor falando: "agoura a djinga".