Estamos de volta ao mundo dos que não tem uma enfermeira tirando sua pressão, temperatura e perguntando sobre seu xixi e cocô a cada 2 horas. Ah, como eu amo esse mundo de cá! Sério, descobri que eu não gosto de dar satisfação sobre meus movimentos internos. E se a bebê só mamou por 10 minutos e caiu no sono isso é problema meu e não venha me dizer que eu não tentei "hard enough", você não sabe nada sobre minha vida! (Certo hormônios, agora controlem-se. De repente, mas só de repente, ela só perguntou porque faz parte do trabalho dela).
Do lado de cá também, existe uma casa em estado de caos absoluto. Eu falei caos?? Não, caos estava quando eu saí na terça-feira, hoje isso aqui está pior do que...nossa, incrível, não consigo pensar em nada que possa estar pior do que a situação da minha casa...Faixa de Gaza depois dos bombardeios me vem a mente, mas a comparação ainda seria injusta. Com vantagem pra Gaza, obviamente.
Mas bom. Sinteticamente falando a sequência de fatos foi esta: Sangramento. Hospital. Internação para observação. Contrações (será que eu estou sonhando?).Mais contrações (não, acho que não é sonho não. Melhor chamar a enfermeira).Cesárea de urgência. Bem-vinda ao mundo nenezinha!
A versão menos sintética pra quem tem paciência ou é muito curioso foi assim. Fui pro hospital com sangramentos na terça de manhã. A noite fiquei lá presa e no meio da madrugada comecei a ter contrações. Papito voltou correndo e chegou a tempo de sentir os chacoalhões pra tirar a coisinha do seu lugar quentinho, escutar um choro forte fortíssimo e cortar o cordão, ele já é experiente no assunto. Me chateou só ver a bichinha um pouquinho de nada e depois ficar de molho por 3 longas e tediosas horas na sala de recuperação esperando meu dedão do pé voltar a mexer enquanto sabe-se lá o que faziam com a minha nenê ainda sem nome.
Mas...3 horas passadas, um leve ataque histérico seguido de palavras muito gentis do tipo: Eu quero minha filha AGORA! E tudo resolvido. Mamazinho dado, ufa!Ela estava realmente alí.
Horas mais tarde chega Irmãozack e não podia ter sido mais lindo. Ele abre a cortina do quarto e solta contente:
- Minha irmãzinha!
Irmãzinha em cima de mim, irmãozinho sobe na cama e com a cara mais fofa do mundo, que já lhe é peculiar, começa a exploração ao mundo da irmãzinha encantada:
- Olha mamãe, a orelhinha dela! O cabelinho dela!
Levanta o cobertor e solta surpreso:
- Ela tem fraldinha! E o pezinho! Eu quelo pegar no colo!
Muitos carinhos e beijinhos depois, ele já estava satisfeito.
- Agola eu quelo vê filme.
Muito justo.
O tempo de molho no hospital pós-cesárea é de 72 horas. Nesse período dividi o quarto com 3 outras "famílias de parto normal". Bom...nada é perfeito e realmente eu tive minha cota de hospitalização por esse ano, ou por essa vida. Decidí que quando eu morrer não vou pro hospital (bom, provavelmente vá pro cemitério, mas digo, antes de morrer). Sério, não quero mais brincar disso. Sobre cesárea X parto normal vou fazer um post inteiro qualquer dia desses, o tema merece. Sobre não ter visto, ouvido ou se quer recebido uma ligação de nenhuma das "minhas" duas médicas (de família e obstetra) não quero nem comentar. O médico que fez minha cesárea não se deu nem ao trabalho de se apresentar ANTES da cirurgia. Mas depois de tudo devidamente costurado ele foi simpático, veio do outro lado da cortina e disse:
- Olha, a gente não se conhece, mas parabéns.
- Certo. Obrigada viu?
Ouço os otimistas de plantão dizendo que pelo menos, não desembolsei nada por isso, o que não é verdade já que eu pago quase $1000/ano de seguro da faculdade que me dá direito a um quarto semi-privado - com duas camas ao invés de 4. Mas enfim, faz parte do pacote "imigrou porque quis, agora aguenta". E o pacote de formulários para preencher e receber os benefícios mensais do governo pra criança dão uma compensada.
Quem me deu alta do hospital hoje foi um estudante de medicina. Se eu soubesse que a coisa estava diminiuindo em anos de estudo, eu não teria reclamado da residente que me atendeu da outra vez, pobrezinha. Quando ele tirou o curativo e me mostrou a cicatriz eu quis chorar. De alegria por finalmente lembrar que existe vida abaixo da minha barriga, mas de muita tristeza ao ver o tamanho da coisa e pior, dos grampos. Sim, grampos, do tipo que se coloca em papel, não em barriga!! Me digam se eu estou enganada mas no Brasil não tem uma parada de uma colinha muito da discreta? Bom, na segunda os grampos vão embora e aí veremos o tamanho do estrago. Minha barriga, que já não estava essa visão do paraíso depois da gravidez número 1, agora virou a visão do inferno de vez. Um misto de geleca (aquele dos "Caçadores de fantasmas") com gambá (com uma linha preta no meio) e um toque final de Jason e Frankstein. Coisa linda.
Em casa, apesar de apenas 8 meses sem amamentar eu tinha esquecido como é essa sensação nos primeiros dias. Por um lado, nada mais lindo do que uma nenezinha desesperada que se acalma em dois segundos ao ganhar leitinho da mamãe. E saber que tudo que ela precisa na vida é isso e amor. E ambos abundam. Por outro lado, essa sensação física de "eu sou uma vaca" e ter o peito cheio até o pescoço e tudo pingando e tudo que te toca cheirando a queijo minas não é das mais confortáveis.
Resumo da ópera: Agora nossa família tem mais cara de família. Agora tenho uma menininha gostosa pra empetecar e encher de lacinhos e sapatinhos e tantos outros "inhos". Agora eu sei que é verdade, no coração de mãe sempre cabe mais um e é tanto amor, mas tanto amor por uma criaturinha que eu conheço há apenas 3 dias e ainda assim, nada muda o amor pela outra criaturinha que conheço há longos 2 anos e 8meses. Maridão tá bobo e eu também. É muita bobeira e babação. É muita alegria dar vida a uma vida.
Essa gravidez foi chatinha.Foi cansativa, senti muita dor e reclamei muito. Ainda não sei se vou ficar diabética pra sempre ou não. Se ficar, vou reclamar mais. Mas de uma hora pra outra, tudo no mundo se resume a uma palavra: Amor. E é só isso o que realmente importa.