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Toque de mágica

Quem tem criança não precisa de David Cooperfield. (Porque todas as outras pessoas precisam. Veja bem...a pessoa precisava de uma frase de abertura para o post).

Ele já vem lendo letrinhas e juntando sílabas aqui e lá há mais de um ano. Mas isso não é ler. Ler é trazer da estante o livro recém chegado do Brasil:
- Mamãe, lê esse pra mim, do "seu favorito" (eu tinha falado pra ele que o livro era do Chico Buarque, e isso ele sabe, o Chico é favorito - valeu Flávia pela sugestão). E no meio do livro, abrir um sorriso e gritar bem alto, com os olhinhos brilhando de quem viu um mundo novo se abrindo, diretamente da boca do lobo:
- E-U SO-U UM LOBO! - Mamãe!!!!!! Eu entendi!!! Ele disse: EU SOU UM LOBO!!!

Mágico.

********
Arrumando "a marmita" do menino de escola para o dia seguinte. Ele brincando e de repente vem checar o lanche:
- O que você está fazendo hoje mamãe?
- O mesmo da janta Filhote, milho, aspargo, tofu...
- Não mamãe, em forma de que você está fazendo?- Diz ele se referindo aos (poucos) dias em que a mãe inspirada faz carinhas, cidades e outras formas com a comida.
- Humm... hoje não tem forma de nada filho...
- Ah mamãe, faz alguma coisa...
- Tá bom, vou fazer. - Bota uns aspargos pra lá, espiga de milho pra lá e... - tchã-nã!!!!
- O que é isso mamãe?
- Ah... olha bem Zack... use a sua imaginação (leia-se: ache e invente coisa porque eu não consegui fazer nada), você tem que adivinhar.
- Hummm... eu acho que é um bolo!
- Um bolo? Ah... muito bem, onde está o bolo? (Céus... juro que de bolo não tem nada)
- Aqui é uma camada do bolo, aqui as velas, aqui as balinhas do enfeite e aquele sprinkles e o outro pedaço do bolo!!!!!! - Diz ele todo pimpão.
- Muito bem filho! Você adivinhou! (Ufa!)
- Muito bem Zack, boa imaginação, hein? - Auto elogio de quem sabe que mereceu.

Imaginação de criança é tudo. Mágica.

*************
Cinco minutos depois de colocá-la na cama, escuto um grito e um choro incosolável:
- Eu tenho um dodóoooooooi, eu "piciso" de um remédico!! (PS - ADORO "remédico",tanto que não tenho coragem de corrigir! Eu sei, eu sei, má mãe, má mãe...)
Conhecendo a vocação de atriz da figura, dou um tempinho sabendo que normalmente, cinco minutos bastam para que ela ache sozinha a cura dos seus males. Ou ela cai no sono e o dodói miraculosamente desaparece. Cinco minutos passam e os berros só pioram. Melhor ir conferir o tal dodói. Chego no quarto e encontro uma menina desolada, descabelada, bochechão cheio de lágrimas:
- Aqui ma-mãe, eu tô muito dodói - diz ela entre soluços, mostrando o dedão.
- Ah Ninoca... to vendo (to vendo um dedo, intacto), tá bom filhinha, você precisa de um band-aid, né?
- U-hum... "piciso".
- Tá bom, mamãe vai buscar.
Vou buscar o band-aid, aproveito pra botar uma roupa na máquina, dobrar umas outras, ligo a máquina de lavar louça, guardo uns brinquedos jogados, aquela coisa básica que mulher faz quando vai de um cômodo ao outro. Pelo silêncio vindo do quarto, assumo que, ou somente a ideia do band-aid já curou o ferimento grave ou ela dormiu. Mas volto com o band-aid porque promessa é promessa. Ela ainda estava acordada, deitadinha, olhando pro dedão e o dodói imaginário.
- Pronto, tá aqui o band-aid, princesa, agora pode dormir, tá bom? - Diz a mãe, também conhecida como enfermeira e fada madrinha nas horas vagas.
- Tá bom mamãe...pode acender a luz pra ver o band-aid?(Boa tentativa de ficar acordada! Figura...)
- Não precisa, dá pra ver assim, ó.... viu? Agora boa noite, tá bom?
- Boa noite mamãe. - Diz ela satisfeita olhando para a atadura sagrada, vulgo band-aid.

E dois minutos depois, a bela já está adormecida. Mágica.


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Ninar

Não conhecia... tão lindinha! E a Nina aqui levantando a mão: Sou eu! Nina! - Agora o Chico e a Adriana são os melhores amigos.


Ninar

Adriana Calcanhotto

Viva
Nina
Venha
Ver
Pequenina
Vem
Viver
Vem menina
Ser
Você
Vem menina
Nana
Nene
Dorme
Nina
Nana
Nene

Escute aqui

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Mas que mal-educada

** Só uma notinha: gente, é mal-educado ou maleducado? (Flávia, socorro!) - Vou deixar com o hífen porque gosto mais e me parece certo, mas os exemplos da Nova Grameatica que eu achei nunca falam do "mal" - assim fica difícil falar bem ! :-)

Ouvindo "Mas que nada", do CD do Rio que está nas paradas de su-ces-soo-o-o aqui de casa.

CD:
- Mas que nada, sai da minha frente que eu quero passar...
Polidack:
- Mamãe... mas essa música não é... "polite"!
Mãe:
- Não é bem-educada por que , filho? (Já sabendo a resposta)
Censurack:
- Ela tinha que pedir "dá licença"
Mãe:
- É filho, música pode fazer essas coisas, ser meio mal-educada assim, só na música, tudo bem, só pra ficar bacana... (PS - ele adora a palavra"bacana")
Corretack:
- Mas olha, dava certo assim: Mas que nada, dá licença que eu quero passar... (canta ele usando a métrica perfeita)

Tsc, tsc, tsc, o que diria sua mãe, hein seu Jorge Ben?

Para quem quiser se deseducar

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Acontece

Cedo ou tarde, acontece na vida de toda mãe:

- Mamãe!!! - Diz a menina de 2 anos para a mãe que tenta trabalhar no computador. - Olha! O Zack cortou meu cabelo! - Feliz da vida com um chumaço de cabelo na mão.
A mãe olha esperando pelo pior...confere e bom...nada tão trágico, só uma franja muito torta (salva parcialmente pela parte que estava presa com tic-tac), nada que o pai não tenha feito (pior) no cabelo do próprio Zack, e isso, também escondido da mãe.

*****
- MamÃ-Ãe (já viu que quando eles sabem que aprontaram o "mamãe" sempre vem assim divididinho?) !! - Diz a menina de 2 anos para a mesma mãe que tenta trabalhar no computador (ao que você conclui que ou desiste de trabalhar em casa ou vai ter que arcar com as consequencias) - Eu fiz cocô!! - Retumbante e orgulhosa, bundinha gorda ao léu, fralda na mão.
- Fez cocô na privadinha Ninoca?? - Diz a mãe esperançosa.
- Não, no chão!

E você só pode agradecer pela invenção das toalhinhas umedecidas "Lysol".



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Poliglotismos

Poliglack e Polininoca, como muitos outros poliglotinhas espalhados por aí (confiram os ótimos posts do Iglu de Babel sobre o assunto), sabem sem problemas com quem devem falar em qual língua, apesar de não saberem qual língua chama o que muito bem (Confundack ficou super surpreso outro dia assitindo a peça "The lion king", achando que todo mundo vinha do Brasil, porque falavam Português, "igual a gente", quando na verdade a peça era em Inglês). Mas vez ou outra, especialmente nos primeiros minutos depois da escolinha, rola umas misturinhas finas, que na maioria das vezes, são auto corrigidas.

Hoje pegando Fofurina na escolinha, a professora me falou:
- She had a very good day!
E Traduzinina com a maior cara de "é verdade, minha cara mãe", clarifica:
- Uhum... eu "teve" um ... very... não (pensa um pouquinho)... um muito bom dia, mamãe... não...um dia muito bom! É ! - Diz ela satisfeita com as maravilhas da expressão oral.

Mais tarde, pegando Crescidack na escola (escola dos "GANDES", como diria Pequenina), onde desde semana passada ele está tendo oficialmente uma overdose da terceira língua, Francês. Escutando no carro o CD do "Rio", que é em si uma mistureba de Inglês e Português, eu pergunto:
- Filho, essa música é de que parte do filme mesmo? (Porque ele, diferente da mãe, tem uma memória fotográfica e musical invejável - eu gastei a minha decorando todas as músicas da Xuxa na minha infância... mas isso é outra história)
- Essa música é daquele... o... bird méchant, sabe?
- Ah! O passarinho mau, é mesmo!
- É mamãe, do passarinho mau, isso...

*****
Equanto isso, do lado de fora da cerca do pátio da escola, uma mãe ainda muito angustiada chora todo dia depois de deixar um menininho que dá tchau atéééé perder a mãe chorona de vista. E grita:
- Eu te amo mamãe!!!!
E ela aproveita enquanto ele ainda não tem vergonha de gritar. E curte sabendo que sempre terão um "código secreto", o Português.



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Sem controle

Tudo começa com um pauzinho cheio de xixi. Um risquinho...opa, dois! E é dada a partida... lá vem elas, as primeiras de muitas que virão, sem aviso, quentes e sem controle rolando pela bochecha enquanto você vomita pela terceira vez no vaso sanitário.

Semanas depois é a vez do gel gelado na barriga, algo meio disforme e praticamente indecifrável mostrando no monitor, um som de surdo ritmado e alguém te diz que é um coração e, lá vem elas de novo, mostrando que vieram pra ficar, para marcar cada nova etapa desta total perda de controle que é virar mãe.

Mais semanas e lá está você, barrigão esquentando na tábua, passando uma a uma (pela primeira e única vez) aquelas roupinhas minúsculas, que logo devem ter dono, que logo vão estar cheias de dobrinhas gordas e risadas banguelas... enquanto passa você assite na TV uma propaganda de carro e um pai com um filho dentro e pronto... me dê essa caixa de lencinhos e você, que nunca chora em público (Freud explica) percebe que dalí pra frente, qualquer música que fale de crianças e pais, ou família e qualquer propaganda idiota de carro ou sabão em pó vão ser motivo, esquece minha filha...controle é pros fracos, ou fortes, ou para os que não tem filhos??

Passam mais semanas e sai de você aquela coisinha com cara de joelho depois de 13 horas de parto e enquanto desconhecidos costuram suas partes mais íntimas, elas correm não por causa da dor (uns dias depois será porque você não consegue sentar, mas vamos pular essa parte porque isso não combina com o tom melodrameatico do post...) mas por causa da alegria incontrolável, inexplicável de ver aquele serzinho com cabeça de cone e pele de meleca olhando pra vc...e elas virão também muitas outras vezes, cada vez que você colocar o dedo na frente do nariz dele para ver se ele ainda está respirando e constatar que ele ainda está, quando ele te olhar e rir pela primeira vez com aquela cara sem-vergonha de quem sabe que veio de dentro de você, quando ele colocar a mãozinha minúscula no seu peito enquanto mama com aquele barulnho único de nenê mamando todo satisfeito...

15 meses mais tarde, um gorduchinho muito descontrolado e desequilibrado vai dar uns 3 passinhos e cair de bunda no chão e você, camêra em uma mão e a outra estendida pra acudir, vai sentí-las rolando de novo. Dias depois vai deixar o mesmo desengonçado aos berros na escolinha e dia após dia, durante duas semanas você vai deixá-lo chorando e vai sair chorando mais ainda (talvez com menos berros) pelo portão, se sentindo a mais culpada, a mais carrasca, a pior do mundo por ter que trabalhar...até que um dia você sai e não escuta um berro, ao contrário, escuta ele se acabando de rir enquanto a professora canta uma música e aí minha amiga... você vai chorar também porque francamente..."como assim??? Feliz sem mim???"

O primeiro mã-mã, a primeira viagem ao Brasil, é lágrima pra oceano nenhum botar defeito...no verão passado foi a primeira vez de bicicleta sozinho e sem rodinha, totalmente livre pra ir e vir, um grito de liberdade, mais um passo de independência, só faltou as margens do Ipiranga...

Semana passada foi uma punhalada... ele virando todo grande, e dando tchau pra escolinha que o acolheu nos últimos 4 anos...você vendo nele pela primeira vez um ar nostálgico, de quem sente o peso de estar crescendo...um tchau definitivo, de quem parte pra novas aventuras. " Eu posso vir visitar a Nina, mamãe?" - "Claro que pode filho!" - Quisera eu poder te visitar pequenininho também...não posso, passou.

Outro dia foi no Wal Mart... pegando um pacote de canetinha, lápis de cor, etiqueta pra colocar nome, estojo...aquele cheiro de material novo, de mundo tão grande por descobrir, tantas aventuras por viver, tantos desenhos a colorir, estórias pra escrever, amizades por fazer... para os outros que passam e se perguntam "por que aquela doida está chorando no corredor da papelaria, os preços no Wal Mart são baixos, mas também não é de chorar", aquilo é só um supermercado, só um pacote de canetinha... pra você aquilo é mais um portão que se abre, e que se fecha com sua cria, a razão das suas lágrimas lá dentro e você de fora, sendo testemunha mas não sujeito, chamada só para as reuniões a cada 3 meses...- Coisa doida gente, essa sensação de sair de cena...um palco tão grande e meu meninó tão pequeno, com todos os holofotes só nele...E pensamentos de "homeschooling" invadem a sua mente...tudo passou tão rápido... em vão... o mundo está lá, e você, que sempre foi fã número 1 de escola, de escrever bilhetinho com poema pra professora, de passar horas na biblioteca escolhendo o próximo livro... sabe que essa experiência é tão necessária quanto imperdível... você não quer que ele perca, e sabe que seu coração bate mais forte junto com o dele, só de pensar no tamanho e na amplidão que o espera logo ali, a dois quarteirões de casa...

Estão lá na porta a mochila de sapo, a lancheira combinando e a agenda com bilhete para a Madame Lily ("Ela tem o mesmo nome do meu peixe! Disse um Zack muito surpreso")... e aqui estão elas, rolando soltas enquanto mamãe escreve e pensa... meu filhote, tão grande, tão moço...menino de escola, como disse a vovó...começando mais uma etapa dessa aventura sem volta, eita mundão...

É a promessa de vida no seu coração, já diria o Tom... feliz primeiro dia de escola filhote!!! Vai que o mundo é seu! Fica aqui sua mãe, sem controle nenhum da "grandura" que vem pela sua frente, mas na torcida por uma aventura descontroladamente maravilhosa.
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Antídoto

Antídoto 1:

plic, ploc, plic, ploc (foi a melhor onomatopéia que eu achei pra passos de pazinhos gordos chegando no quarto da mãe de manhã) ... esforço pra subir na cama sozinha...mãe continua fingindo que está dormindo pra ver se consegue dormir mais um pouquinho de fato... até ter suas pálpebras sumariamente abertas por uns dedinhos mais gordos que o pezinho e:

- Mamã-ãe, eu acordei! E eu tô feliz!

Antídoto 2:
Fim do dia, canseira, pega as crianças na creche e quando "sai pra fora" (em bom quebecois):

- aaaa, que gostoso esse ventinho.. olha o sol mamãe... que lindo!

Agora me diz se tem mau-humor, cansaço ou ziquizira que aguente!