Do Hospital
Este post vos eh oferecido diretamente da cama do hospital onde estou aprisionada ha uns 2 dias. Sendo uma paciente meio sem paciencia (perdoem o trocadilho) pra digitar post do celular, digito do laptop no qual, quase um ano depois, ainda nao sei botar acentos. Cai bem em tempos de reforma gramatical que ainda nao tive tempo de estudar com afinco. Tambem sem wireless (nao sei o que esse povo pensa de deixar alguem internado sem wireless) pra publicar pelo laptop, salvo no pen drive e mando pro marido publicar quando chegar em casa.
Tudo comecou assim…um sangramento no dia 30 de Dezembro, na noite anterior a minha planejado almejado e esperado durante todo o ano Reveillon na praia. Eu ainda estava na fazenda da vovo em Minas, fomos de manha pra “ cidade grande”, a irma do marido da prima que eh obstetra “conhecida” na cidade me arranjou um ultrassom de encaixe em uma clinica particular em pleno dia 31 as 11 da manha, meu voo para sao Paulo era a 13:00. A medica fofissima e empolgadissima que fez o ulrassom disse que estava tudo bem, cervix fechado, placenta (que estava semi-previa no ultrassom de 20 semanas) subindo e grudadinha no utero como deveria, nenezinha sem nome estava linda, perfeita e intacta, passando a maozinha na cabeca e dando tchau. Sem titubear, mas sob protestos veementes de todas as tias (sao 5, imaginem) e principalmente da vo da crianca (minha mae, no caso) catei Viajack e fui-me pra Sampa, encontrar o marido e ir pra praia, com promessas de repouso absoluto, que de fato fiz. Nada como estar em um hotel na beira da praia, com café da manha servidos, quarto arrumado, mordomia total e ainda por cima abusando do pobre marido para as tarefas menos nobres como carregar tudo, trocar o menino, dar banho, etc e tal. Meu unico esforco diario era andar uns 20 passos do quarto ateh a cadeira na praia, da praia pro restaurante, do restaurante pra piscina, se ha uma definicao pra repouso, esta era a perfeita.
Passados os sangramentos, o ano novo e uns dias, Papito voltou com Viajack pro Canada sozinho (maridinho precisoso esse meu, fizemos a divisao assim: vc volta com o menino que nao consgue dormir em aviao enquanto eu fico fazendo umas comprinhas no Brasil e depois volto com a nene quietinha na barriga, tudo muito justo) ainda fiz uns exames em Sampa sob a supervisao da amissisma enfermeira obstetra com ligacoes para as amigas obstetras pra confirmar que tudo ia bem, obrigada. Nao vou dizer que minha turne de shoppings e restaurantes em Sampa tenha sido repousante, mas que foi muito desestressante isso foi sem duvida.
De volta ao Canada, faz faxina aqui, corre pra botar a vida em dia ali e outro sangramento. Como o povo daqui eh mais tragico, e infelizmente aqui nao tenho nenhuma amiga ou irma do marido da prima obstetra, vou eu ao hospital (porque a minha obstetra mesmo nao atende assim, sem horario marcado, maravilhas do sistema publico de saude canadense, mais sobre este topico mais tarde). Vem um residente de 15 anos de idade mais ou menos me olhar e claramente sem ter a menor ideia do que esta rolando chama a outra residente, de 16, ufa! Essa sim, chinesinha e chamada “ Zen” tambem nao sabe o que rola mas ao menos tem seguranca na voz e diz, a gente vai te manter em observacao, soh por garantia. Garantia do que minha filha? Ta certo, na duvida, aprisione o paciente ateh conseguir falar com um medico de verdade. Depois do questionario basico tirado do livro, lido e relido pra confirmar que nao tinham esquecido de nada, logo, nao levariam bronca do professor, vao os dois, a chinesa de 16 e o jogador de hockey de 15 me examinar. Lanterna em punhos, aquela posicao pela qual vc chegou ao mundo e a nao sei o que me irrita mais, a narracao detalhada de quem esta revisando passo-a-passo o que fazer ou a cara de quem esta vendo aquela parte intima do seu ser pela primeira vez e pensando…nossa, eh assim mesmo! Olha que eu tento ser uma paciente paciente (olha o trocadilho de novo, impossivel nao recorrer!) com estudantes, afinal, todo mundo tem que aprender e ha de se ter uma vitima, mas que ninguem merece, isso eh fato. O exame, obviamente, nao da em nada, eles continuam sem saber o que se passa, e resolvem mesmo que o melhor eh me acorrentar, esperar pra conseguir falar com minha medica em algum momento dentro dos proximos 20 dias, enquanto isso, vao completando o check list do livro de obstetricia, me dar todos os remedios profilaticos possiveis, colocar o bebe no monitor e fugir da minha vista rapidinho, antes que eu venha com mais perguntas.
Okay, conformada com meu destino e depois de responder pela vigesima vez as mesmas perguntas pra mais uns 3 residentes, 2 estudantes de medicina, 10 auxiliares de enfermagem, 5 enfermeiras, a moca da faxina e a outra que traz a comida comeco a pensar que, jah que claramente ninguem aqui sabe ler as fichas dos pacientes antes de entrar no quarto dos mesmos (eu disse quarto?? Ahahahaha, nao, nao, o que eu quis dizer foi “ cortininha do paciente” ) eu vou fazer a minha propria, e deixar colado na testa, me economizando o tempo e a paciencia de responder tudo, tudo de novo cada vez que muda um turno. Ou entao coloco um bihete na testa escrito: favor consultar minha ficha. Alias, em menos de 48 horas de internacao eu jah tive mais de 200 ideias sobre como tornar sua estadia em um hospital publico canadense menos enlouquecedora. No topo da lista, logo depois de fazer a lista de respostas obvias pra perguntas repetidas esta: traga seu i-phone pra ter acesso a internet e poder certificar-se sozinha de que tudo o que te dizem esta correto, ou melhor ainda, pra descobrir tudo o que nao estao te dizendo, a despeito das suas perguntas. Foi assim que me auto-diagnostiquei com diabetes gestacional 24 horas antes da mediquinha chinesinha. Vou publicar um livro e ficar rica, ou entao vou ter meu proximo filho no Brasil mesmo, porque vamos combinar, o que eu nao daria pra estar na Pro-matre ou no Einsten numa hora dessas. Mesmo sendo contra o excesso de frescuras que rondam os nascimentos brasileiros particulares, a total ausencia de frescuras, como…um obstetra de verdade, eh bem irritante.
Bom, bom, mesmo jah tendo colocado toda minha leitura util e inutil em dia (de livros, artigos e blogs) e todas os artigos sobre placenta previa, internacao a 28 semanas de gravidez e diabetes gestacional, tenho mais uns 20 post inuteis pra publicar sobre esta minha maravilhosa experiencia de internacao. Eh incrivel como soh assim, de repouso total que voce nota que aquela lenda que te contaram, de que um dia tem 24 horas e nao 2 como acontece quando a vida esta norma, eh verdade. Vou publicando aos poucos pra nao esgotar a paciencia dos leitores, nem a do marido que alem de cuidar do filho (com ajuda da cunhada visitando do Brasil e logo, salvando a patria), da casa e trazer toda a lista de mil items de casa pro hospital, ainda tem que ficar publicando essas futilidades.