Disse que continuava amanhã, mas não amanhã de que dia, certo?
Bom, 2009 já foi, mas antes que 2011 chegue ainda vale a retrospectiva.
Depois de muitos anos sem Globo, este ano assisti a retrospectiva 2009 na casa do primo (e um pequeno PS, nos EUA tem tanta coisa brasileira! Tremenda injustiça! Tem Globo, tem Leite Moça e Guaraná no supermercado! Um escândalo minha gente! Aqui pra achar essas coisas é uma peregrinação) e foi aí que eu constatei a dimensão da minha alienação. Tipo...75% dos fatos "retrospectados" eu não tinha nem ouvido falar. Sério, E.T, minha casa...em que planeta eu estava mesmo?
E agora vamos à retrospectiva dos únicos fatos que eu sei com certeza, onde conto pra Ninoca sobre o seu 2009.
Aviso: O texto que segue ficou meio biográfica e longo, coisa de mãe, estes seres abestalhados que acham lindo cada besteirinha feita pelos filhos, principalmente os muito pequenos. E se derretem, e acham que todo mundo quer saber também. Em minha defesa, eu não acho tudo que eles fazem lindo. Cocô na minha mão, e vômito na minha cara, por exemplo, são coisas das quais não me orgulho e que como prova disso não vou incluir na biografia deles, pronto, falei. Já esta retrospectiva é pra ser lida daqui uns 20 anos pela personagem principal para que ela saiba como foi seu primeiro ano. Então pra quem for corajoso, ou como eu, goste de ler umas coisas a toa pra fugir do trabalho, voi-là.
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Minha filhota, este ano foi um ano deveras importante pra você, afinal, você virou você e conheceu este mundão que agora te aguarda. Julho de 2008 e você era duas células viajando pelas "Europa". Em algum momento entre Veneza e Atenas você virou uma célula só (eu ia dizer que essa história está muito "metida", mas já vi o marido fazendo trocadilhos infames, depois a menina vai ler daqui uns anos e ficar com o maior "argh") e assim, sem mais nem menos, você virou o quarto elemento da nossa família, tornando nosso mundo bem mais cor-de-rosa (e viva os trocadilhos, esse foi pra você Camila :-). Mesmo todos os cursos de fisiologia, anatomia, bioquímica, genética e neurologia, não conseguem me deixar menos abismada com a maravilha deste processo, um pedacinho de coisa que vira um pedacinho de gente e povoa uma casa inteira com uma alegria e um amor que não tem tamanho, além é claro, de muitos vestidinhos, presilinhas e sapatinhos.
Até que pra quem saculejou tanto e teve tantas noites em claro ainda dentro da barriga escura, você teve uma chegada em grande estilo. Bastou uns dias pegando um bronze no hospital e já estava pronta pra batalha. Você ainda vai ouvir muita mãe dizendo por aí que a infância dos filhos passa muito rápido e olha...sabe que elas tem razão, porque de fato este ano foi mais rápido do que um dinossauro - a medida de velocidade, tamanho e poder, de acordo com seu irmão.
De um dia pro outro meu bebe molinho virou um bebe interativo, cheio de sorrisos banguelas e gracinhas. Magricela você nunca foi, mas em questão de meses você ganhou uma rechonchudeza absurdamente deliciosa, e diretamente proporcional ao aumento de dobras, foi o aumento de mordidas e apertos que você ganhou de todos ao seu redor, do seu irmãozão que te esmaga até as últimas consequências (seus berros), a estranhos na rua que me param pra falar que querem apertar as suas bochechas, ou que invejam seus cílios de boneca, sem rímel, eu garanto.
Em Julho Mamãe arrastou você e seu maninho sozinha pro Brasil, e confesso, foi só pra mostrar pra todo mundo como você era deliciosa. Depois disso fomos para um monte de lugares aqui mesmo pelo Canadá; Halifax, Hamilton, Niagra, Mont Tremblant e você, desde que esteja enroladinha no sling, não se incomoda de andar e acompanhar os horários pouco habituais da sua família desregulada. Dormir, no entanto, não é o seu forte e neste ano você só dormiu grudadinha na mamãe ou no papai. E não venha me dizer que a culpa é minha, que também quem mandou não seguir nenhum dos conselhos dos tantos livros que eu li e acostumar você a dormir em cima de mim, grudadinha no sling ou do meu lado, porque a culpa é inteiramente sua e da sua fofura. Mamãe sempre gostou de dormir com ursinhos de pelúcia, até que começou a ter alergia deles e você, no entanto, é mais macia do que todos os ursos, e extremamente anti-alérgica.
Desde Setembro você começou a se mexer e ver "qual é" a do mundo. Foi um grande alívio pra você conseguir sentar sozinha, porque assim você ficou quase em pé de igualdade com seu irmão e os outros amiguinhos da escola, podendo brincar no chão, este grande e desconhecido território até então. Ainda insatisfeita com o fato de que de repente todo mundo ia embora cuidar da vida e você ficava lá, onde te colocaram, você logo tomou atitude e começou a se arrastar em Outubro. "Essa menina vai longe", diziam as multidões enquanto você limpava o chão de casa com a barriga, sendo mais eficiente do que qualquer aspirador de pó, achando sujeiras microscópicas pelo chão. Zack, seu irmão e super-protetor, do qual você ainda vai ouvir falar muito, até desistiu de me avisar quando você estava comendo sujeira: "Mamãe, a Nina...ah, já comeu tudo" - diz ele, conhecendo a importância da vitamina "S". Conforme você foi ganhando velocidade no rastejamento, ganhou também o título de "Minhoquinha doida II - A missão", já que seu irmão também escolheu este como meio de locomoção, sem nunca ter engatinhado. Precavida, você ficou em treinamento para exército até Novembro, quando resolveu passar para a classe dos que andam sobre "quatro patas", como dizem por aqui.
Novembro foi um mês de grandes mudanças. Você não mais aceitou ser gostosa, porém banguela, e foi logo botanto pra fora os seus dentes. Todo mundo sabe que fazer dentes sairem da gengiva não é tarefa pra qualquer um, e só quem viu suas gengivas vermelhas e aquelas pontinhas de dente saindo é que consegue entender a dimensão da sua bravura, aguentando tudo só com mordidas em todos os objetos, inanimados ou não, que passassem por perto de você.
Agora que você tinha dentes, você viu que era hora de investir mais no seu repertório de fofuras e começou a ensaiar vários truques, para o deleite da sua plateia (estava doida pra usar uma palavra com regra nova de acento!). A partir de Dezembro então você aprendeu a fazer "denguinho", botando o pescocinho pro lado e dando um sorrisinho danado, também sabe achar a luz, bater palma e dançar ao som de qualquer música. Aliás, já que você desistiu da carreira militar, você poderia trabalhar naqueles programas de auditório, ou nos seriados americanos que tem risadas de fundo, porque bater palma e morrer de rir virou algo mais forte que você. Outro dia fomos à um espetáculo e você batia palma ao fim de cada música, encantando os vizinhos de poltrona. Na mesma noite, enquanto voltávamos pra casa, você cansada, se contorcia e chorava na sua cadeirinha, até que colocamos um CD do Tom Jobim ao vivo e no fim de cada música, você parava o choro pra bater palma junto com o CD, e foi assim até dormir.
Faz umas semanas que você começou a dar indiretas de que sendo um bebê moderno, precisa de um celular, botando a mãozinha na orelha cada vez que o telefone toca ou alguém fala "alô" pra você. E como a gente é bem bocó, fica falando alô o tempo todo, só pra ver essa sua mãozinha gorda com punho de dobrinha fazendo o tal do "alô". Por favor não fique brava por que a gente faz você fazer isso o tempo todo, afinal, provavelmente na sua adolescência o pedido vai ser pra você parar de falar "alô", então aproveite.
Seu primeiro Natal foi bem sossegado. Antes da data você foi o bebê Jesus, em uma atuação brilhante onde você ficou quietinha por longos quase 10 minutos, uma atriz nata. No dia do Natal você brincou muito, arrancou todos os enfeites que estavam ao seu alcance na árvore da vovó e tentou várias vezes conferir se o fogo da lareira era quente mesmo, mas na hora da ceia já estava nos braços de Morfeu, perdendo assim a aparição do Papai Noel, que deixou um presente pra você assim mesmo, do qual seu irmão cuidou muito bem, não deixando ninguém encostar até no outro dia. Cedo ou tarde, mas mais provavelmente cedo, você vai descobrir o quanto sua mãe não é exatamente um ser que tem memória, e que por isso mesmo, não lembrou de colocar o vestido de natal, o babador de "Baby's first Christmas", o outro que dizia "Quem precisa de Papai Noel se tem vovó"e até o chapéu de Papai Noel que ela tinha levado só pro Natal, obviamente. Ainda bem que nós fomos cantar no dia 26 em um asilo e aí, aproveitamos pra colocar todos os apetrechos e tirar umas fotos, e você, mesmo sem cantar, fez a alegria dos velhinhos distribuindo sorrisos natalinos, só para em seguida fazer um trabalho nada natalino e tão pouco feliz, sujando cada peça da tal roupa de natal, vestido, meia-calça, bolero...tudo mesmo, só escapou o chapéu.
A julgar pelo seu temperamento neste ano, você vai ter personalidade. Bom, personalidade todos tem, mas nem todos esbravejam tanto quando a comida não chega rápido na boca, ou quando são colocados na cadeirinha do carro ou no berço, estes instrumentos de tortura que sobreviveram à idade média só para serem usados com você.
Um capítulo a parte é seu amor pelo seu irmãozão, o Zackolino, e vice-versa. Desde aquele encontro lá na maternidade foi amor a primeira vista. Aliás, ele e seu pai são os únicos homens que você tolera nessa vida. Dizem que isso deve mudar quando você tiver uns 15 anos, mas você não vai no colo e não quer conversa com nenhum homem, já o Zack, você segue por todos os cantos e quase sempre ele fica feliz com isso, deixa ele te apertar até "esmagar seus ossos", coisa que ele aprendeu com seu tio Dedê e sempre dá o braço pra ele quando ele quer te pegar. Mas isso eu conto mais quando falar do ano dele, afinal de contas, pra você, o mundo já veio assim, com ele junto, já pra ele, você foi uma guinada em 2009.
Minha "Mamita Gordita", "Pisquila", "Pipuca", "Bochechuda", "Nervosa", "Deliciosa da Mamãe", o ano acabou ( e aliás, não conta pra ninguém, mas outro já começou) e de tudo que passou tão rápido, se fosse para colocar alguma coisa na cápsula do tempo de 2009, sem sombra de dúvidas eu colocaria suas risadinhas de garganta, os gritinhos quando você me vê e vem correndo, os tapinhas que você dá na minhas costas quando eu te pego no colo como quem diz: "valeu parceira", você mamando com aquela cara de "este é o líquido sagrado", você saindo correndo de mim engatinhando e dando gargalhada quando está comendo sujeira do chão e deixa a boca bem fechada para eu não conseguir tirar, pena mesmo que todas essas coisas são justamente as que não se pode guardar.
Você talvez nem vá conhecer esse sujeito, mas Michael Jackson morreu e dizem, foi um dos grandes acontecimentos do ano, mas pra mim, obviamente, o grande acontecimento foi você. Com um peso no coração eu estou aposentando sua coleção de sapatos tamanho 1 e 2 (outro dia escrevo mais sobre isso), "um pouco" pelos sapatos que são lindos, admito, mas "um muito" por constatar que você está crescendo e que como tudo mais que aconteceu neste ano, essas coisinhas tão "ai que delícia" não voltam nunca mais.
Feliz 2010 minha Gostosinha, que neste ano novo você encontre muitas sujeiras gostosas e nutritivas enquanto explora este mundão, que continue descobrindo, curiosa, tantas cores, formas e expressões interessantes com estes olhos brilhantes e redondos de Mangá, que você continue tentando falar coisas que além de Mamama e Papapa, vão fazer sentido para os nossos ouvido sempre abertos pra você, que você dê seus primeiros passos com segurança, mas caia muito também, sabendo que muitos braços estão esperando pra te agarrar, e te apertar, e te amar com este amor desmedido e incabível que já é seu, com ou sem fofuras.
(A seguir... parte III - A Retrospectiva do Batman - Com vídeo)