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É a vida...

Existem coisas inevitáveis que acontecem no curso dessa nossa vida e que quando você vê você constata tristemente...caramba! E não é que aconteceu?

Coisa 1 -
Neste sábado fomos convidados para a festa de aniversário da filha de uma amiga. Tudo bem se não fosse o fato de que a filha estava fazendo não 5, mas 18 anos. Consegui deixar todo mundo triste quando em meio a gracinhas de Princhucão (o pai mesmo) percebi os olhares complacentes da turminha "dos jovens", pensando certamente "poxa, esse tiozinho aí até que é engraçado" ou o pior "pô, olha o tiozinho coitado, mó mané" (no carioqûes da amiga carioca). Sim, éramos os tiozinhos, os amigos dos pais, convidados só pra trazer presente e não deixar os próprios pais deslocados na festa da filha.

A aniversariante esperta, aproveitou nossa presença pra despistar os pais, entretidos conosco, e sair com os amigos pra fazer a verdadeira festa, longe da velha guarda. Fomos os últimos a ir embora, quase ajudamos na faxina...ô tristeza, e pensar que um dia desses eram os meus próprios amigos que faziam 18 anos...

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Coisa 2-
Desde pequena eu sempre praguejei em alto e bom som para minha mãe (que era professora) que podia ser tudo na vida, menos professora. Porque embora eu achasse o máximo escrever no quadro-negro (no tempo que isso existia), eu achava insuportável ver as pilhas de provas que ela trazia pra corrigir em casa, muitas vezes à custa do nosso tempo de brincar juntas ou quando mais crescidinhos, entrávamos na dança corrigindo provas em troca de chocolate (essa moeda sempre foi forte lá em casa) ou não cumprimento de tarefas domésticas. Minha mãe ria e praguejava de volta: "quero só ver".

Sei que sendo membro da categoria (mãe) não deveria falar mal da mesma, mas praga de mãe é mesmo uma praga. Tanto foi que hoje, não sou professora, mas sou assistente aqui na faculdade. Isso quer dizer que eu não escrevo na lousa, não ganho maçã e nem me regozijo na honrada missão de educar cidadãos para a vida. Tudo que eu faço é corrigir provas. Ah sim, também tiro dúvidas por email e escuto reclamações, sempre que os alunos não tem coragem de se dirigir à professora "de verdade", quanto glamour!

Por conta disso hoje, as 6h17 da manhã eu não estou acordando, mas indo dormir, após uma noite de correções precedida de muitos dias enquanto uma pilha de 101 provas figurava em cima da mesa e minha vida consistiu de uma rotina divertidíssima de "auto reforço positivo" de várias categorias: se eu corrigir 5 provas posso beber água, mais 5 posso ir ao banheiro (assim, apelando pras necessidades básicas mesmo), mais 5 eu leio uma história pra Princhuquinho (para compensar a culpa de fingir que ele não estava lá mordendo meu pé e chamando "mamamama"enquanto eu corrigia), mais 10 como uma colher de Nutella (pra repor a energia gasta). Chegando a data de entrega das médias (hoje) o desespero foi tomando conta e até amigas desavisadas que ofereceram ajuda só pra serem bacanas se deram mal e passaram o domingo fornecendo mão de obra escrava - assitentes da assitente - cargo ocupado também por Princhucão que faz as planilhas, soma, confere, organiza, uma verdadeira linha de produção.

A recompensa final, o capricho que me ofereço após a semana de trabalho intenso: "quando eu acabar tudo (e só quando eu acabar tudo) eu escrevo um post sobre o assunto". Voi-là, agora posso dormir em paz. Só não posso contar nada disso pra minha mãe, pra me poupar do clássico: "mas eu te disse!".

C'est la vie...
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Que venham as flores!

Finalmente, e já não era sem tempo, a neve foi-se e agora a primavera está se dando ao trabalho de mostrar a cara. Como diz meu aluninho, você pode começar a ficar feliz quando tem mais grama do que neve, bom sinal, estamos contentes, muito contentes.

Nas duas primeiras primaveras aqui eu achava estranho ver o povo saindo de camiseta e saia, mostrando aquelas canelas reluzentemente brancas, com uma temperatura de 16 graus. Em São Paulo isso é inverno, todo mundo sai de blusa, se bobear até de cachecol, já que falta melhor ocasião pra usar esse tipo de acessório. Mas agora tudo faz sentido...depois de meses usando sobre-tudo, cachecol, meias (assim, no plural mesmo), gorro, luva e o raio que os parta, ao menor sinal de calor, tudo que você quer é se livrar disso tudo. E pouco importa se ainda está um pouco frio, o calor vai embora rápido, é preciso usar todas as roupas possíveis antes que a oportunidade passe. É preciso sair pra passear, andar de bicicleta, fazer churrasco no quintal, respirar, pular...

Saímos neste fim de semana inteirinho sem casaco! É muita alegria! Calça pula-brejo, Primaverack de camiseta, o pacote de inverno aposentado de vez e para sempre (já que no próximo inverno não serve mais) e até havaianas foram usadas. Fizemos várias caminhadas ao ar livre (shopping também conta, já que shopping aqui é meio ao ar livre). Admirack está cada vez mais admirado com os animais que saem das suas tocas, esquilos, patos, pássaros (acho que pássaros não tem toca...nem patos) minhocas, folhas (penso que folhas também não são animais, mas enfim), é incrível como as coisas se mexem quando não estão cobertas por kilos de neve!

A gente cresce no Brasil vendo fotinhos das 4 estações nos livros da escola e não entende nada, já que no inverno não tem neve, no outono não tem folhas caindo das árvores, flor tem todo tempo e não só na primavera, assim como o sol que deveria ser tecnicamente do verão. Aqui tudo faz sentido, cada estação é igualzinha a dos livros e o negócio é tentar aproveitar o melhor de cada uma. Daqui uns dias as ruas vão estar cheias de tulipas, dá até vontade de ter um jardim. Ainda bem que a vontade passa assim que eu lembro que para tanto, eu teria que primeiro, ter uma casa e segundo, cuidar do jardim enquanto não inventam um tipo flor com "auto-cuidante". Para aproveitar a primavera me resta então usar todas as minhas saias, apreciar os jardins dos outros, passear pelo parque com Princhuquinho, andar de bicicleta e dar valor pra cada minuto de sol,céu azul e temperatura ideal porque daqui uns dias, passa e começa o calor desgraçado do verão, que logo passa também, as folhas caem e aí a história se repete...
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Conspirações

Eu juro que tento, mas é só eu realmente decidir emagrecer que uma série de fatores conspiram contra minhas esforçadas tentativas:

1- A chuva: Sabe as águas de Março que vão fechando o verão por aí? Aparentemente elas vêm abrir a primavera em Abril por aqui. Mesmo com chuva, tem exercício no parque. É só colocar a capa de chuva no carrinho, e enquanto o bebê fica lá protegido e feliz, a mãe fica se exercitando na chuva. Pelo menos é o que dizem, porque pra mim, auto-flagelação tem limite. Fazer exercício vá lá, agora, fazer exercício e tomar chuva ao mesmo tempo, já é pedir demais. E assim a promessa de exercício no meu coração vai indo por água abaixo.

2- Festa Junina: O mês é Abril, mas como gringo não sabe que festa junina é em Junho, a nossa troupe brasileira organizou uma festa junina na igreja. Pintar bolinha e bigodinho em todo mundo (Princhuquinho inclusive ficou um charme de cavanhaque) foi divertido, mas com as sobras de pé de moleque, paçoca, bolo de fubá, de cenoura, canjica e cuscuz, quem consegue manter o regime?

3- Ben & Jerry's Free Cone Day: O irmãozinho antenado, manda do Brasil um email desesperado, anunciando o evento. Ben & Jerry's, o melhor sorvete do mundo de acordo com o respeitado Sorvetologista Princhucão, estava dando sorvete, assim, "de grátis". E se a chuva impede Diet Keiko de ir ao parque fazer ginástica, não pôde impedir a mesma de andar uns 10 quarteirões pra ir conferir o fato. Chego lá, me deparo com uma fila gigantesca, composta em sua maioria por adolescentes ensandecidos esperando pela sua vez de ganhar uma casquinha. Como eu tinha mais o que fazer da vida, tirei um texto da bolsa pra disfarçar e fiquei lá na fila, torcendo pra não ser vista. 20 minutos esperando em um frio do cão pra ganhar um sorvete, pra provar o quanto sou capaz de me esforçar. Não contente, no caminho pra casa passo por outra Ben & Jerry's e em um caráter meramente científico, só pra conferir se tinha fila também, entro. Como não tinha, pego outra casquinha. Menos pelo sorvete, mais pelo prazer de pedir, pegar e sair sem pagar. O trombadinha dentro de mim sempre quis fazer isso. Chego em casa e Princhucão afoito, já está com Princhuquinho pronto para ir pegar também a sua casquinha. Até usar a simpatia do menino vale pra filar sorvete. E com um saldo record de 6 casquinhas pra uma família, encerramos mais um dia light.
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Splash!

Interrompemos nossa programação para o relato da aula de natação (rimou!) - Depois eu volto com aquele papo das amizades...

Depois de umas semaninhas de férias (aqui a maioria dos cursos são sazonais. Teve a sessão de inverno, acabou, férias, começa a sessão da primavera), Peixack voltou hoje para sua amada aula de natação.

Não pensem que foi fácil, essa coisa de primeiro dia de aula, só blá, blá, blá, redação sobre "minhas férias", não, nada disso, aqui a coisa é séria.

E lá foi o bravo Princhuquinho com seu papai Princhucão (que ficou meio contrariado já que excepcionalmente hoje, era o único pai com seu bebê) pra água. A professora botou pra quebrar e o pobre já teve logo que ir enfiando a cara na água, fazendo bolinha e tudo. Saiu com uma cara de "what a hell!" mas valente, nem chorou como 80% dos outros bebês. Mas a prova de fogo, ou de água, se me permitem o trocadilho, ainda estava por vir.

Sem dó nem piedade, a professora pegou o pequeno anfíbio e soltou em direção ao pai visivelmente desesperado. A mãe, olhando pelo vidro, prendeu o fôlego junto e soltou aliviada e quase chorando de emoção (está comprovado, mãe é realmente um bicho besta...) quando Sapack chegou vitorioso nos braços do papai, percorrendo os longos 30cm de distância sozinho e demonstrando que o estilo "cachorrinho" caiu de moda, o negócio agora é nadar "sapinho".

Como um homem que termina com excelência seus deveres, saiu da natação exausto, mas feliz, com aquela cara de "dever cumprido" (era exatamente isso que ele estava pensando, certeza), tomou seu merecido leitinho e capotado, foi dormir o sono dos justos.

Agora você, que sofre de prisão de ventre (nossa, nossa, quem lembra desse comercial ridículo?) ok, não, você, assíduo leitor deste blog deve estar se perguntando o que deu em mim pra escrever tanto essa semana. Só uma explicação rápida. Eu agora "trabalho fora", tenho um escritório no Instituo de pesquisa, com acesso de internet restrito! Isto é, onde obrigatoriamente, eu tenho que trabalhar. E é pra lá que eu vou todas as tardes, fingir que sou útil e que valho a bolsa de estudos que ganho. Sendo assim, quando chego em casa, posso bloguear com a consciência livre do trabalho cumprido. Te digo...nada como uma consciência livre como fonte de inspiração!
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Amizade depois de grande - parte 2: A explicação

Olha, eu tinha mesmo planejado continuar o tal do assunto da amizade. Porém, depois de tanta controvérsia na interpretação do meu pobre e desintencionado texto, ao invés de fazer um texto parte 2, que só seria mais incompreendido (e que na verdade eu já tinha feito quando postei a parte 1, mas que desapareceu misteriosamente, realmente não sei onde foi parar e não estou a fim de escrever de novo), resolvi me explicar ao invés de continuar.

Antes das explicações, devo dizer que é muito interessante isso de blog. É como livro que vira filme (sem pretensões de grandeza, só usando a idéia da Cláudia - vide comentários do post de páscoa). O autor do livro escreve alguma coisa com todo um contexto em mente, afinal de contas, no meu caso, eu me conheço muito bem, sei quem eu sou, como tem sido minha vida (apesar do meu Alzheimer congênito eu lembro de uns 2 ou3 detalhes sobre isso) então escrevo alguma coisa no blog. Cada leitor (salvo os que me conhecem pessoalmente) vem com seu próprio contexto, sua própria imagem, seus próprios cenários e vivências que aplicam ao texto e assim, se fosse pra cada um fazer um filme do Tirando o Sapato, cada um ia ser completamente diferente. Muito, muito interessante isso. Acho mesmo que algum antropólogo, sociólogo, blogólogo deveria fazer uma análise deste universo paralelo

Ok, reflexões a parte, vamos nos explicando:

Deby: Acho sim que tem a ver fazer a faculdade na mesma cidade. No meu caso, no fim do curso cada um voltou pra sua cidade, e a distância, quando as amizades não são tão "longas", acaba afastando. Já uma amiga que fiz quando transferi meu curso para São Paulo de novo, essa virou eterna, entrou pro hall das "pra sempre". Tenho certeza que se encontrasse hoje com minhas amigas da faculdade teríamos assunto "pra mais de metro", ficaria super feliz e tudo. mas AMIZADE, aquela de ligar quando tem um problema ou decisão pra tomar, pra falar sobre o seu corte de cabelo, filosofar sobre a vida, falar que não pode falar agora porque está ocupadíssima assitindo TV, ou comentar o último episódio de Lost, esse tipo de amizade é outro departamento.

Dani: Acho que você está alcançando sua meta! Eu estou bem feliz com nossos últimos "papos". Eu nunca tive dificuldade pra fazer amizades, só quando cheguei aqui! Aparentemente, quando estamos "fora de casa" é mais difícil confiar nas pessoas, encontrar um espaço em comum. A impressão que eu tenho é que a gente acaba se "agrupando" em princípio de acordo com a situação, mais do que por afinidades pessoais (brasileiro, mesma religião, com/sem filhos, mora perto de casa, etc) e só depois é que vai ver se tem as afinidades pessoais, e se não tem, o negócio é ir se moldando, aprendendo, cedendo e eventualmente a gente acaba sendo amigo de pessoas que talvez não seríamos em outra situação, mas que aprendemos a amar, a se importar e quando vai ver...viraram amigos de verdade e você já nem lembra que no começo foi diferente.

Sandra: Não tenho dúvidas que você adora fazer amigos! And so do I! A questão é justamente esta, quando a gente gosta de fazer amigos e se vê em uma situação onde fazer amigos é diferente do que foi a vida inteira, isso dá uma desestabilizada. Não é que eu ache difícil, é que pra mim foi AC/DC - antes do Canada, depois do Canada. AC, todos os meus verdadeiros amigos eram de infância, adolescência no máximo (exceto a 1 amiga da faculdade mencionada acima), ou conheci no contexto do IAE (o colégio onde estudei a vida toda). DC, conheci um bando de gente nova, alguns estranhos, alguns (os canadenses) muito falsos (sério, tipo...não confie), coisa que antes eu mal conhecia. Aí veio fazer novos amigos em um contexto "adulto", onde cada lado da relação tem seu pacotinho de exigências, vivências, desconfianças, e você tem que se adaptar, pra não ficar maluca e sozinha. É um pouco isso que aconteceu comigo quando cheguei aqui. Mas não se preocupe, você não vai ter esse problema, porque quando chegar, já terá um comitê de recepção te esperando! Eu na frente! :-)

Lilian: Eu sei que você sabe! Aliás, acho que este é também um dos grandes motivos que te eleva ao seu posto de guru! A verdade é que cada vez que eu volto lá, eu sinto tristeza ao constatar que já não é, e nunca mais vai ser a mesma coisa. Acho que faz parte do kit "vire adulto" a gente aprender que as coisas mudam e não adianta querer ter nas "amizades de adulto" o doce conforto das amizades de infância(com quem você tem uma história, conhece sua família toda, seus primeiros amores, etc, etc). Por outro lado, não adianta também querer exigir dos amigos de infância a cumplicidade do dia-a-dia (principalmente quando fomos nós que escolhemos ir pra longe) e na minha opinião, amizades verdadeiras são uma soma dos dois aspectos (dividir o cotidiano somado à confianca irrestrita), então a gente vai vivendo, construindo novas histórias e não deixando calar as antigas. De qualquer forma, a impressão que eu tenho é que sempre vai ter uma lacuna, sempre vai faltar um pedacinho tanto nas novas, quanto nas velhas amizades...c'est la vie.

Claudia: É bem isso, não tenho dúvidas que tenho amigos, a questão é que a vida vai botando uns mais longe, outros mais perto, e certamente, em dias melancólicos (como foi o do fatídico post 1) a gente para pra pensar nessas coisas. Com certeza Companheirack é um mini-amigo dos melhores; ri de todas as palhaçadas que faço, me escuta o quanto precisar (fazendo cara de quem realmente está entendendo, inclusive) sem dar nenhum palpite, vai comigo em qualquer lugar que eu queira, precisa de mim pra viver (ok, talvez eu prefira que meus outros amigos não precisem de mim pra viver, mas é bom saber que você é "precisada"), posso confiar qualquer segredo que ele não vai contar pra ninguém (por enquanto...), conhece minha vida, sabe do que eu gosto e do que eu não gosto (não liga muito pro fato que eu não gosto que ele derrube todos os cds no chão repetidas vezes, mas tudo bem, ninguém é perfeito), apoia meus projetos (principalmente se o projeto é fazer papinha pra ele, contar história pra ele, pensando bem, meio interesseiro esse moleque) e é bem maduro pra sua idade. Mas eventualmente, a gente precisa de uns amigos mais crescidinhos:-)

Ufa!Tudo explicadinho, alguém aí tá precisando de uma amiga?
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Amizade depois de grande - parte 1

AVISO: Se você está com TPM, preguiça ou tendência suicida, por favor volte na semana que vem, essa semana aparentemente eu estou pra posts reflexivos, longos e potencialmente entristecedores.

Há tempos que eu ando pensando por que é tão difícil fazer amizade depois de "grande". Não, eu não tenho a pretensão de ser grande, já me conformei, aliás, com o tempo a tendência é encolher (veja minha mãe que tinha 1,50m - 1 cm a menos do que eu- e agora tem só 1, 48m, bizarro isso...), o que talvez com o tempo mude o título deste post para amizade depois de "menor", mas enfim...

Esse problema vem assolando meu ser há algum tempo (só usando palavras bonitas para dar ênfase ao problema). O problema todo começou na faculdade.
Eu tive o raro privilégio de nascer, crescer, e fazer quase tudo dentro da mesma comunidade, o colégio onde minha mãe dava aula.
Tal privilégio é, como diriam por aqui, "tricky" ou dúbio, sei lá qual seria uma tradução pra isso. A vantagem é você crescer com amigos de confiança, eu estudei praticamente com as mesmas pessoas desde a pré-escola até o terceiro "colegial". Com elas também toquei em banda, orquestra, cantei em coral, estudei inglês, viajei pra tudo quanto é canto, enfim...todo mundo conhece todo mundo, é quase como cidade de interior, sem os banquinhos na porta de casa. O outro lado da moeda é que eu nunca tive aquela sensação de "a nova menina da escola", que tem que se esforçar pra fazer novos amigos e ser popular, muito pelo contrário, sempre fui conhecida e conheci todo mundo, aliás, até hoje quando vou lá tem gente que vem com aquele papo "mas nossa, como você cresceu!"(certo, certo) "já casou?!" e o mais recente "já com filho!? E eu te peguei no colo...!" , e eu sorrio, sem nem saber quem é. Afinal, é isso que acontece quando você frequenta um lugar desde feto até sempre e ainda tem um espírito de amor universal, do tipo "todo mundo é legal até que se prove o contrário, e pra provar o contrário não é fácil não".

Na faculdade foi difícil, mundo hostil, primeiro esforço pra fazer novos amigos. Ainda mais eu, que bem informada como eu só, perdi a "semana dos bixos", e todos os eventos e rituais de iniciação que em sua idiotice, são fundamentais para o entrosamento no nível superior. Cheguei eu, toda feliz e perdida no primeiro dia de aula, atrasada (porque como não tinha ido na semana dos bixos, não sabia onde era o prédio de aulas naquela imensidão de campus) e tive pela primeira vez aquela sensação de..."o que eu to fazendo aqui?"? Panelinhas formadas, demandou esforço, mas consegui, fiz ótimas amigas (meu curso só tinha 1 homem, cujo status era duvidoso).
Mas pensando bem, todos ali estavam "suceptíveis a novas amizades", todo mundo morando longe de casa, sem família pela primeira vez. Assim formamos uma grande família onde não por acaso eu era a mãe - ser sóbrio, responsável por buscar amigas bêbadas em festas, levar pra hospital, escutar as lamentações de quem dormiu com não sabe-se quem...mas também passar boas horas de diversão, faltar aula pra assistir sessão da tarde e fazer unha, ficar no laboratório de anatomia estudando até dar medo, correr na chuva, estudar junto e fazer ceia de natal em Novembro. Amizades fortes a ponto de ser chamada pra participar da formatura (com direito a convite e citação no discurso e tudo), dois anos depois de ter mudado de cidade no meio do curso (por motivos matrimoniais), mas já não fortes o suficiente pra durar pra vida, prova disso, hoje em dia troco talvez um email por ano com 1 ou 2 amigas da época.

Esse período não foi traumático, pois eu sempre tive por perto a segurança dos meus bons e velhos amigos de infância, adicionadas de maridos/esposas bacanas - pois amigos de infância você conhece o gosto e ama os defeitos (que eventualmente são muito semelhantes aos seus, já que foram crivados sob as mesmas circunstâncias) - e portanto, se eles escolheram o/a sujeito(a), é porque o/a mesmo(a) deve merecer também sua amizade.

...
continua amanhã, porque ninguém merece um post de 5 páginas
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Para agradecer

Esta semana, por razões óbvias, me lembrei de uma música que cantávamos na escola na semana da páscoa:
"Páscoa, páscoa, o que isso simboliza pra você?
É somente coelhos, e ovinhos de chocolate,
Ou é lembrar que o bom Jesus, deu a vida por amor?"

Por aqui além de coelhos de chocolate também existem galinhas e outros animais, mas nada de corredores de ovos tentadores para a vista e para o paladar. Lembro-me também que na escola , para levar nossas pequenas mentes ao significado real da páscoa, ao invés de chocolate, ganhávamos na quinta-feira antes do feriado um pãozinho e uma garrafinha de suco de uva, pra lembrar da ceia antes da morte de Jesus e do sEu corpo, sEu sangue, dados para nos dar a perspectiva da salvação.

Sempre achei difícil de entender esse amor de Deus em dar sEu filho, mas mais do que ficar triste por sua morte, minha mãe sempre me ensinou a ficar feliz por sua ressureição e agradecida pela salvação.

Já faz tempo que estou querendo postar um agradecimento à Deus...e acho que a Páscoa parece um bom dia pra isso (ok, este post está em confecção desde a sexta-feira santa, mas foi interrompido inúmeras vezes por um bebê, o pai de um bebê, uma saída...). Tenho certeza que Deus não precisa recorrer a este blog pra conhecer meus agradecimentos, mas assim partilho com vocês um pouco do muito que Ele tem feito por mim. Assim como partilho cada alegria boba de ser mãe, vou partilhar um pouco da alegria certa de ter um Pai.

Se começo a pensar em motivos pra agradecer, em conquistas, em sonhos tornados reais pela mão deste meu Pai, a lista nunca termina. Eu queria morar fora do país, tudo deu certo, aqui estou, com novos amigos, morando do lado de um parque lindo, sem medo de sair a noite. Queria fazer mestrado, doutorado, tudo deu certo, com direito a uma orientadora perfeita, bolsa de estudos, enfim, um pacote com bonus que eu nem poderia imaginar. Queria uma família linda, um marido ideal, um filhote risonho e querido e mimada como sou por Ele, tenho tudo isso. O marido inclusive faz lanchinho quando estou estudando de madrugada, limpa a casa que é uma beleza e me faz rir o tempo todo. O filhote é uma simpatia, vai com todo mundo, ri pra todo mundo, faz tchau pra todo mundo, enfim...não poderia querer mais.

Mas fiquei aqui pensando como é fácil agradecer quando tudo o que a gente quer dar certo. Mais difícil um pouco é entender o que temos pra agradecer quando acontece algo que não queríamos ou não esperávamos. Daqui uns dias vai fazer 7 anos que meu pai morreu, assassinado p0r assaltantes, 4 meses depois do meu casamento. Meu pai era estilo japonês: meio sério, meio bravo, mas extremamente preocupado e justo, e fazia questão de manter as tradições, sérias ou divertidas. Entre as minhas melhores lembranças de infância, está cada Páscoa. Por mais que o verdadeiro sentido da Páscoa sempre tenha sido muito claro, nosso desafio, desde o começo do feriado era juntar o máximo possível de papéis de bala, para com eles forrar uma cesta onde o coelho iria colocar nosso ovo no domingo de manhã. E todo domingo de Páscoa a gente tentava acordar mais cedo pra pegar o tal coelho "no pulo", mas nada...ele sempre era mais rápido. E assim sucessivamente, o Coelhinho da Páscoa, tanto quanto o Papai Noel fizeram parte do meu imaginário infantil e dos esforços secretos do meu pai por mim. Acho um tipo de amor único, dar o crédito a um coelhinho ou a um velho barrigudo pelo simples prazer de ver seus filhos sorrirem.

Foi triste demais perder meu pai, mas hoje, lembrando de como foi difícil de aceitar e entender na época, tenho também uma certeza de que as melhores coisas que Deus tem preparadas pra mim não estão aqui, mas mesmo assim ele dá pequenas alegrias em formas de conquistas, de supervisores bacanas, de amigos queridos, de filhos gostosos aos quais ele dá o crédito, só pra me ver sorrir.