Há muito tempo que eu não escrevo. E há muito tempo que me chamaram pra ser "embaixadora da Limetree"- chique, né? - Mas aí, vida vai, tese vem e eu falei que ia escrever, mas não escrevi. Mas felizmente, a vida não está deixando de acontecer só porque a mãe não tem tempo de escrever. Então vamos lá para um primeiro post que retrata um momento Limetree, contando um pouco da vida escolar por aqui.
Semana passada fui de voluntária ao Jardim Botânico com a turma de primeiro ano do Zackolino.
Há de se aproveitar enquanto a criança ainda fica orgulhosa de ter a mãe por perto. Não só por perto, mas sentada ao lado, andando de mão dada, incluida nas brincadeiras com os amigos: "Olha gente, é minha mãe que vai com a gente!" - enquanto eu me acabo de alegria por ser a mãe que pode ir. Vida acadêmica tem lá suas vantagens: Eu sempre tenho a opção de ir as excursões e não dormir nas próximas 3 noites pra botar o trabalho em dia, mas ainda assim é uma boa opção.
Acompanhar papo de criança é uma coisa que me diverte. E é quase um mal inevitável de mãe sentir uma pontinha de orgulho besta ao ver seu filho exibir, em público e espontaneamente, algo que você prezou muito em ensinar, mesmo sem saber ao certo no que ia dar. Papo de criança imigrante é conversa pra mais de metro. Todos queriam saber que língua eu estava falando com o Zack quando um Português escorregava aqui e lá (nossa regra é falar sempre em Português, a não ser que outros estejam envolvidos na conversa, por educação). E daí uma longa e interessantíssima discussão de "quem nasceu onde" - a maioria dos amigos dizendo categoricamente: "Eu sou Quebecois", mas minha mãe e meu pai são... (chineses, coreanos, egípcios, argelianos...) e Zack discutindo que ele não, ele era brasileiro. Que ele tinha nascido em Montreal, mas ele era brasileiro, tudo dito em bom e claro francês-quebequense. Na visita a estufa, ao ler que várias plantas no setor de "plantas tropicais", eram de origem brasileira, ele saiu todo prosa anunciando pela fila que: "Todas as plantas daqui são do Brasil, gente, tudo, tudo, tudo do meu país". Nacionalismo fofo, acho mesmo.
Verdade é que é uma delícia dividir dias inteiros com os filhos, assim, sem laptop ou telefone por perto, com um único compromisso: se divertir junto e ser "a mãe legal" (desde então quando eu chego na escola vem um bando de amiguinhos me abraçar e falar: "Bonjour, la Mama de Zack!". Também acho um privilégio ver meu meninão brincando com os amigos, liderando jogos imaginários com a turminha. Mas legal mesmo é sentar pra comer o lanche. E tem coisa melhor do que lanche de excursão? E voltar de ônibus (daqueles escolares, amarelos) revivendo as aventuras do dia com os amigos do lado. Vontade de sair cantando: "Motorista, motorista, olha a pista..."
Enquanto isso, no mundo dos que ainda não vão pra escola, Letrina veio me contar faceira que tinha feito um cocô de letra. Me fez conferir o feito e disse com um sorriso de quem re-escreveu a Ilíada:
- Não ficou lindo mamãe? Eu não sabia fazer isso "amanhã", mas agora eu sei porque eu tive "veversário".
O veversário foi do pai, mas aparentemente serviu para alfabetizar o intestino da filha. Só apertando muito!
Este papo fecal todo vindo de uma princesa que "enpricesou" geral há alguns meses, é uma surpresa (porque todo mundo sabe que procurando bem, todo mundo faz cocô, só a bailarina que não faz?). A pessoinha não pode escutar uma música que sai dançando com gestos altamente princesais, e tudo, tudo, tudo, do penteado de cabelo, à roupa de Halloween tem que ser de princesa. E eu juro, de pé junto que a culpa não é minha. Eu inclusive, evito as princesas (principalmente as altas loiras e magras) arduamete, mas essa coisa de princesa vem embutida. E desde que a tia dela mostrou a Rapunzel "que tem um longo cabelo", nossa vida aqui vive de glitter, já que tudo que a varinha mágica (invisível) toca, vira brilhante (cruzando a tênue linha entre fada madrinha, princesa e fazedora de scrapbook).
Enquanto isso, no mundo dos que estudam além da conta, a mãe, finalmente irá defender sua tese de doutorado nesta semana. Após o que, ela espera (mesmo sabendo que não vai acontecer), ela vai voltar a ser uma pessoa normal (e não tem uma vez que eu digo isso e que o meu interlocutor não pergunte: E normal pra você é o que mesmo???).
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