Muitos dias porém, eu penso em coisas das quais não tenho saudade, até pra tentar diminuir a saudade das outras. Não tenho saudade de andar com o vidro do carro fechado, de boné pra não pensarem que eu sou uma mulher sozinha no carro de noite e paranóica olhando se não tem ninguém vindo me assaltar no semáforo. Não tenho saudade de muvuca em shows (aqui nunca dá confusão). Não tenho saudade da minha renite alérgica e do meu ex-fiel-amigo rolo de papel higiênico, devido ao insalubre ar da velha e boa Sampa. Essa semana, lendo o recém conhecido blog da Juliana, lembrei de outra coisa da qual absolutamente não tenho saudade: do trânsito.
Lembro sem nostalgia dos meus idos dias em São Paulo, chegava a gastar mais de 4 horas no trânsito por dia, isso mesmo, 4 ou mais. O mais produtivo de todas estas horas congestionadas foram as estratégias que desenvolvi pra passar o tempo e não pensar em tudo que eu podia estar fazendo e não estava por causa do $%#@^& trânsito. Coloco-as aqui pois podem ser de serventia a algum paulistano a beira de um ataque de nervos:
1- Fazer a sombrancelha (enquanto o sinal está vermelho, é uma maravilha, você fica até torcendo pro sinal não abir).
2- Brincar de "qual é a música" ouvindo rádio ("uma nota maestro" - desliga o rádio, canta o próximo pedaço, adivinha o nome, liga o rádio e confere).
3- Decorar "Águas de Março" (essa me rendeu entretenimento por semanas, o objetivo era decorar antes do meu irmão, o que acrescentou um caráter esportivo à coisa, eu ouvia, voltava, verificava e sei de cor até hoje, útil não é, mas divertido é com certeza. Se você for mais adolescente pode tentar também "Faroeste Caboclo").
4- Ler um livro que possa ser lido em pedacinhos e não exija muita atenção (o meu era um que descrevia os capítulos de "Friends", as vezes o povo buzinava, mas tudo bem, eles só estavam buzinando porque também gostariam de ter um livro pra ler, mas não tinham).
5- Comer : não podia faltar, eu sempre tomava café da manhã no carro, dirigindo mesmo já que cada minuto de sono a mais é importante. Mas não se limite a qualquer refeição fácil que só precise de uma mão, só porque você está dirigindo! Eu as vezes levava pão com Todynho ou fruta, até ai tudo bem, mas quando eu resolvia comer sucrilhos com leite eu comia...em um dia fatídico a frente do meu rádio caiu dentro do copo de leite, tudo pelo não estresse. Acredite ou não, este foi o acidente mais grave que eu tive.
Agora se nada disso funcionar, faça como eu finjo que faço aqui, vá trabalhar de metro ou melhor ainda, de bicicleta (me imaginei agora de bicicleta andando pela marginal Tietê, que belezura que deve ser...)
E já que agora o Tirando o Sapato tem fotos, vejam uma das minhas não-saudades:
Não é o Bubby, deste eu tenho saudade, mas a vista da minha sacada no apartamento em São Paulo (fora o Bubby, só cimento)E a vista da minha sacada em Montréal, depois de uma nevasca(fora a neve, da qual eu não tenho saudade, só árvores):
E hoje de manhã, com as folhas das árvores voltando a nascer:
8 comentários:
Tô amando seu novo blog ilustrado...rsrs
Aqui na minha cidade é tranquilooooo!! Graças a Deus! Mas tem muita coisa aqui que eu não sentiria saudades.
Linda a vista de sua casa.
Ah! amei a lista criativa do q fazer no trânsito.
bjinhos
Keiko,
Minha barriga doeu de tanto que e ri.
Acredite que já usei a das sobrancelhas e se a gente estiver no carona então... O lance que que as 2 horas que eu gastava no Rio era olhando para o mar (da Barra, São Conrado, Leblon, Ipanema, Arpoador, Copacabana e Leme). Aí dava até para amenizar. Além disso os cariocas sempre arrumam um jeito criativo para sobreviver ao caos e no nosso condomínio eram 22 ônibus com ar-condicionado fazendo o trajeto até o centro do Rio através de vários itinerários diferentes. Então o carro era em último caso. Aí tinha gente que dormia de babar porque a cadeira reclinava e o ar-condicionado gelava (nada mal no calor do Rio).
Da violência não dá pra ter saudades. Agora da vista... Acho que sempre tive uma linda paisagem da janela, mesmo aqui em SJC onde vejo o maior bosque da cidade de todas as janelas. E no Rio, era de um lado lagoa e nas outras o mar...
Mas, além da família/amigos é só o que devo sentir falta mesmo. Até porque detesto goiabas. Nem lembro a última vez que comi uma. Talvez aí passe a gostar...
Ok, Eu entendi tudo.
Só porque fiz inveja com o show da Jazz, vc se vingou com o papo do trânsito e, principalmente com a foto da janela.
Mas a história do rádio no copo de leite foi sacanegem!
Como compradora do carro do Jonhcha, herdei o fatídico som que, depois de tomar leite reforçado com sucrílhos, passou a ser dotado de vontade própria, funcionando apenas quando bem entendia.
Quando eu finalmente desisti de ficar a mercê dos seus caprichos (do som), resolvi trocá-lo, e na loja caí na besteira de perguntar quanto eles pagavam pelo "nosso" som enriquecido com cálcio e tive que amargar um "Esse aí dona? Nem de graça!"
Ou seja, depois de esnobada pelo mecânico e pelo som e pela Keiko, e depois de centenas de horas de trânsito SEM MÚSICA, o mínimo que eu mereço é João Bosco e Jazz Sinfônica de graça!!!
Ola Keiko.
poderia ter me dito q ia começar blog........ alias como vai o filhao ?? e o maridao ??
abraços
Jung
eu tambem tenho saudade da comida e muitas coisas..outras nao tenho saudade.
tambem tenho saudade de umas coisas e outras nao...
Olá, Keiko, já sabe como eu vim parar aqui, não??
Bem, depois de quase chorar, lendo das suas saudades (tão lindamente descritas) e imaginando que minha família vai sentir o mesmo que você, em breve...
e depois de rir bastante e me ver em diversas situações narradas aqui (não na da frente do rádio no copo de leite, naturalmente), vou me limitar a fazer um só comentário:
como você tem coragem de colocar a "tag" deste post como "inutilidades"????????
este post deveria ser entregue nas concessionárias, no momento da entrega das chaves do carro a todo comprador!!!
Beijos!
Lindo post Keiko...Bjs!
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