Acabei de conhecer o BlogTalk e assim fiquei sabendo de mais um livro que já está na lista de compras de Princhuco, que vai pro Brasil um dia desses.
Daí lembrei da minha monografia, da minha tese, do trabalho que começo aqui amanhã e do assunto do meu coração sobre o qual venho querendo postar há um tempo. Mesmo porque às vezes é bom falar sobre algo útil, só pra variar. Como normalmente eu tenho muita inutilidade pra falar e acabo postergando uma eventual utilidade, decidi criar a "Segunda- Séria" (embora esteja aparecendo "Sunday" ali em cima, hoje já é "Monday", 1 da manhã, esse negócio aí é doido, liga não), pra me obrigar a deixar para a posteridade cibernética algo além de um monte de bobeiras.
Desde que escolhi meu curso universitário (Terapia Ocupacional) adquiri uma paixão incondicional pela palavra "inclusão". O conceito é simples e figura em frases de precurssores do movimento como Maria Mantoan e slogans de diferentes entidades: "Inclusão é o privilégio de conviver com as diferenças", "Ser diferente é normal", "Inclusão: Ampla, geral e irrestrita". A aplicação no entanto, é bem mais complexa, especialmente em um mundo de adultos, que desenvolveu a intolerância ao diferente, que passou por fases horríveis de construção social da não aceitação.
Para incluir não é preciso só construir, é preciso antes desconstruir as já muito sólidas barreiras que colocam uma imagem, um som, uma cor, uma cadeira de rodas, um entender diferente do mundo entre nós e um outro alguém.
Meu trabalho como TO e professora de música sempre foi pró-inclusão, como mãe quero fazer o mesmo. Inclusão de crianças com necessidades diferentes em uma classe onde bem...todos têm necessidades diferentes, intérpretes de linguagem de sinais onde quer que alguém fale e outro alguém não escute, material em braile onde houver letras a serem descobertas por alguns, rampas e elevadores onde houverem degraus, amigos onde houver pessoas que são antes de mais nada, seres sociais, crianças, pessoas.
Sempre quis mostrar para as mães dos meus pacientes e alunos, para os irmãos deles e os meus, para os professores, para os meus próprios amigos, que nada é mais saudável do que a diferença, do que estar bem em um mundo onde cada um é cada um e mais nada. Quer me ver de mau humor é contar piadinha onde a tentativa de graça é preconceituosa, de qualquer forma. Já me irritei demais com professores que pensam ser impossível pra um tipo de aluno estar em uma sala de aula, com pais que pensam que tal criança não é boa companhia pro seu filho, quando na verdade é a sala de aula, o professor, o pai, que não são bons para o aluno. Por outro lado já fiquei muito feliz com essas mesmas pessoas mudando de atitude, não por obrigação ou força, mas por experiência. A experiência do estranhamento frente ao diferente, da adaptação, da convivência, da inclusão, que só funciona quando o processo é feito em duas mãos.
Embora Jesus já tenha estabelecido um marco há mais de 2000 anos, chamando todos para perto dEle, o tema da inclusão é relativamente recente e vem tomando forma especialmente depois da "Declaração de Salamanca" , em 1994. No Brasil, desde 1998 a inclusão de alunos com necessidades especiais na sala de ensino regular é obrigatória. As normas técnicas para construção vem sendo constantemente aperfeiçoadas e cobradas para que atendam o chamado "design universal". No entanto, mais do que regras, leis e declarações, para que seja efetiva, a inclusão precisa de pessoas.
Quero que meu filho cresça sabendo que o mundo é espaço de todos, que não é questão de respeito ou bondade, é questão de direito. Que embora ainda exista na cabeça de muitos, o preconceito é incabível, as características que cada um carrega e desenvolve é o que faz o mundo um lugar especial, para todos. Faço questão de ler histórias sobre todo tipo de crianças, que ele tenha brinquedos e bonecos de todos os tipos, que ele conviva com crianças que como ele, precisam de coisas específicas para experienciarem um mundo completo. Nem sempre é fácil. Não existem muitos livros nem brinquedos que tratem a coisa do jeito que tem que ser tratada, não existem muitas crianças onde elas tinham que estar.
Se invisto no meu filho é também porque nunca vi uma criança, sem a influência de um adulto, mostrar alguma forma de preconceito. Tristemente, já vi também muito adulto sendo a influência que a criança não precisava. Já disse para alguns professores "em processo de inclusão": "Quando não souber o que fazer, olhe para uma criança e copie". Alguns adultos, no entanto, já escreveram livros infantis que merecem menção por já terem me ajudado a pensar e fazer pensar. Alguns abordam temas específicos como necessidades especiais e raças, outros, só falam de como olhar a vida, com os tais olhos de primeira vez, limpos de qualquer pré-conceito:
Abrindo Caminho, de Ana Maria Machado - pra abrir o caminho de quem ainda o fecha e pra quem quer uma leitura perfeita, é de longe meu livro infantil preferido.
FLICTS e O menino marrom, do Ziraldo - clássicos, eternos e atuais.
Esta é Sílvia - Jeanne Willis e Tony Ross - A história de Sílvia, simplesmente.
Na minha escola todo mundo é igual - Rosana Ramos - Pra quem sabe que ninguém é igual a ninguém.
E você, como anda abrindo seus caminhos?
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