Bom, demorei tanto pra contar a estória toda que cansei, aí ia desistir de contar a última parte, mas achei que ia ser mancada, o final sempre é o melhor, ao menos em Holywood, porque esse final aqui tá mais pra cinema europeu, onde tudo dá errado no final, para o desespero dos carentes de um final feliz, vou logo avisando.
Sábado: Basicamente o sábado foi uma alegria, como já dizia uma canção que aprendí na minha infância, "o sábado é um dia feliz". De manhã fomos à igreja onde praticamente nasci, cresci e vivi até vir para o Canadá, todos viram e apertaram o pobre Princhuquinho que respondeu à altura dando beijos e sorrisos até se cansar e ir catar pedrinhas (na falta de coquinhos). Em um dado momento, não habituado com um sol de rachar em pleno Outubro e não querendo abrir mão das duas pedras que carregava, Desequilibrack caiu de boca no chão, "estragando a figura" do pajem do casamento que era a tarde. Gelo na cara sob protestos, a vida continua, com um beiço meio mulato.
Na hora do almoço banquete de amigos que trouxeram um banquete de comida, todas ao meu gosto. Essa é a grande vantagem de morar "fora", quando você volta é um mimo só. E eu que não sou besta exploro mesmo, fui logo encomendando mousse de maracujá, pavê de sonho de valsa, massa fresca de requeijão com amêndoas e ainda ganhei de brinde bobó de queijo, carne louca vegetal e outras iguarias vegetarianas e doces. Enquanto eu comia, o pai tentava fazer o Quiçá-pajem dormir, uma fazia chapinha no meu cabelo, outra mostrava as super produções de scrapbook, a outra trazia paninhos umedecidos pra limpar a cara e fazer maquiagem, tudo enquanto as fofocas do ano inteiro eram botadas em dia, aquele caos básico que tanto me faz falta.
Lá pelas 4 saímos que nem loucos para ir pra casa do irmão, tomar banho, trocar de roupa, vestir o pajem que obviamente, só agora pensou em dormir. Dá banho dormindo mesmo, vai de fralda até a igreja, madrinha e padrinho vestidos, maquiagem por fazer no carro. Busca a amiga querida que vai sempre de carona (e que constatou que é por isso que está sempre atrasada nos casamentos). Trânsitinho amigo na Marginal, chegamos junto com a noiva, a fila de padrinhos já pronta. Enfia o semi-fraque no pajem, agora em plena birra pós-ser acordado, taca um spray no cabelo do pobre, larga com a primeira desconhecida que vê na frente e entram na rabeira da fila de padrinhos, ao som do menino (e dos comentários: "gente, de quem é essa criança?") que berra no colo da desconhecida. Sorrisos, fotos, sobe no altar. Sai o pai pra socorrer Escandalosack, fica a mãe sozinha no altar com cara de tacho. No fundo da igreja a mãe agora consegue ver que o Possível-pajem se acalma e volta a ser feliz.
É chegado o grande momento, aquele que todos aguardavam, aquele que trouxe a família "do estrangeiro" diretamente para o casamento. A entrada do Pajem, com as alianças. A Mãe, no fim do corredor aguarda pra chamar o menino. O pai, no começo do corredor tenta convencer a daminha, de 4 anos, a dar a mão pro Pobrezinho do pajenzinho, olha como ele é bonitinho e nada. O outro pajem, de 2 anos e meio dá birra e resolve que não vai entrar mesmo. O Pai convence a daminha de pegar na mão do menino, fala pra ele que Mamãe está lá, dá aquele empurrão básico e lá se vão eles, corredor abaixo, a Daminha Nervosa e o Pajem do Nariz Vermelho. O Projeto de Pajem, embora exitante dá uns passos no corredor e começa a chamar Mã-Mã-Mã-Mã, conforme o prometido. Atrás de 2 fotógrafos e 2 câmeras que insistem em ficar na frente das crianças, uma madrinha maluca discretamente agita os braços, esperneia, quase grita: "A Mamãe tá aqui!", enquanto na frente do povo, um certo pajem vai ficando progressivamente mais desesperado, até começar a chorar já que não consegue ver a prometida Mamãe. A Daminha Nervosa se cansa daquela criancice e dá um puxão no menino como quem diz: "Cresça, muleque, você está estragando minha performance", típico. Meio cansado, meio chateado, meio atordoado e meio desequilibrado, o pajem, em slow motion, cai de novo de cara no chão, dessa vez no meio do corredor, para o desespero da platéia e da mãe que salta sobre os câmeras e fotógrafos e segue pelo resto do corredor com o Ex-pajem aos prantos, nariz mais vermelho, boca mais beiçuda e carreira de pajem definitivamente arruinada, como em Holywood, não adianta ser simpático e inteligente tentando provar pra todo mundo que 1 ano e 3 meses não é idade pra ser pajem, sem um rostinho perfeito você não é nada meu caro.
Após mostrar umas florzinhas pro Nunca-mais-pajem ele se acalma, a mãe sobe com ele no altar sob risadas complacentes da noiva, ele fala "Amém"um tanto de vezes durante a benção, começa a cantar Parabéns ao ver as velas, pede "água, água, água" ao ver a pia batismal e a paciência acaba junto com a cerimônia. A mãe sai pelo corredor com o pajem no colo, sem o pai que a essa altura estava escondido lá no fundinho da igreja, espertinho. Ainda havia esperança, as fotos fotos com a noiva na festa. Olhando o álbum anos depois ninguém lembra quem entrou ou não, o importante é aparecer sorrindo do lado da noiva.
Na festa, a cada vez que o Pajem-aposentado via a noiva, começava a chorar, e não houve bola, flor, luzinha ou Ritalin que fizesse o menino se acalmar. Não rolou foto com a noiva. Rolou foto com todos os convidados, o segurança, o garçom, o Dj, mas com a noiva...nem pensar! E eu que gastei R$130,00 nessa mini-roupa e não vou ter nem uma fotinho profissional. Bom, sobraram as nossas fotos escuras ou borradas como recordação do primeiro e provavelmente último casamento do qual o menino vai ser pajem, ufa! Como todas as outras histórias, não quero ouvir falar de pajem até ele ter 18 anos, pelo menos. Depois disso também acho que ninguém mais vai querer convidá-lo de qualquer forma.
E é isso...domingo só alegria, mais comida com as amigas, uma amiga mais chegada que um irmão veio de São Carlos só pra me ver um pouquinho, dia feliz fazendo compras na feirinha de artesanato, caldo de cana com pastel. Volta correndo pra casa do irmão, há 4 horas do nosso vôo. As amigas enfiam tudo na mala enquanto tomo banho e dou banho em Doentack, agora com febre. Tylenol pra baixar a febre e com sorte dormir no vôo. Passa no "Pedaço da Pizza" para uma última comidinha e encontrar a afilhadinha, corre para o aeroporto, larga a amiga na rodoviária, tudo corrido assim é bom que nem dá tempo pra tristeza, trânsito na Marginal pra lembrar que isso realmente é parte da viagem. Chegamos no aeroporto e o check-in estava fechando, não fosse a fila preferencial (exclusividade no Brasil) não teríamos chegado a tempo pro vôo. Despede correndo do irmão e do casal de amigos oficial-de-todas-as-despedidas. Pela primeira vez na vida, não choro depois de passar na Polícia Federal, não deu tempo, tínhamos que correr. Entramos no avião e esperamos quase 2 horas (sim, eu disse 2 horas) dentro do avião, porque relampejava. Impacientack prova que Tylenol não faz dormir, trocamos os "ol", tinha que ser "Tegretol". A viagem recomeça e vide capítulo 1 para mais detalhes. Só acrescente um pai para carregar as coisas e o bebê ter caído no chão 2 vezes durante a noite, a essa altura, ninguém mais se importa, está provado que o menino é a prova de choque.
Segunda de manhã: De volta à Montreal, corre pra botar o trabalho em dia e a vida continua...